Nem todo mundo tem criatividade para gerar imagens divertidas e originais, mas quando a imaginação das crianças é unida a ferramentas de inteligência artificial (IA), os limites praticamente desaparecem. E para estimular as jovens e inquietas mentes, uma professora de Canoas desenvolve um projeto que aproxima estudantes da rede pública da tecnologia.
Com a IA, os alunos dão vida aos super-heróis e super-heroínas que gostariam de ver nas histórias de quadrinhos e desenhos animados. A atividade foi iniciativa da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Santos Dumont, realizada com as turmas do 6º ano.
Cerca de 120 crianças participaram do projeto idealizado por Bruna Bettamello Medeiros, professora de inglês.
— Esse é o tipo de atividade que engaja os alunos. Eles ficaram muito motivados, na expectativa para ver se daria certo, se a imagem sairia como eles imaginaram. Queremos que nossos alunos estejam envolvidos na cultura digital — explica a educadora.
Os estudantes trabalharam no projeto durante três meses, nas aulas de inglês. O ponto de partida foi um livro de histórias em quadrinhos, chamado Super Heroes Have Feelings Too (super-heróis também têm sentimentos, em tradução livre). Como as crianças ficaram empolgadas com a leitura, a professora decidiu seguir trabalhando com a temática de super-heróis.
Após aprenderem mais sobre vocabulário, os alunos foram convidados a criar um texto em inglês, valendo nota, descrevendo detalhadamente como seria o seu "super" dos sonhos. Depois, com a ajuda do site Lexica Art, os textos foram convertidos em ilustrações, dando vida às ideias. O recurso de inteligência artificial gratuito permite gerar imagens a partir de textos em forma de comando, conhecidos como prompts.
Mundo mais diverso
Muitas ideias apresentadas pelos estudantes buscaram tornar o universo das histórias em quadrinhos mais diverso, criando várias heroínas mulheres e personagens negras, por exemplo. A personagem "Superlogic", criada por Bianca Fernanda da Rosa, 12 anos, tem como principal superpoder sua inteligência.
Além de introduzir a tecnologia no dia a dia das crianças, a atividade também buscou trabalhar com emoções, traços físicos e de personalidade, ensinando vocabulário relacionado a isso na língua inglesa. Vários alunos também criaram a história de vida de seus personagens, contando suas habilidades e como nasceram.
Para Victor Duarte de Souza, 12 anos, que sempre gostou de escrever histórias, não foi difícil: ele adora cozinhar e queria muito que tivesse um super-herói que representa um tomate, cujo propósito é proteger o meio ambiente.
— A missão do “Super Tomatão” é proteger a natureza e evitar que os vilões a destruam. Ele é um defensor da vida e da harmonia entre todas as espécies. Além disso, ele é um exemplo de que todos podem ser heróis, mesmo aqueles que são diferentes ou considerados fracos — conta o aluno.
Essa foi a primeira vez em que Victor usou ferramentas de IA, e ele diz que ficou curioso com outros aplicativos.
— Agora comecei a usar outros. Gosto de ajudar minha mãe a cozinhar e às vezes falo pro ChatGPT me dar ideias de receitas com os ingredientes que temos, por exemplo.
Para Samyra, 12 anos, a experiência também foi inédita. Ela criou a Gena, uma super-heroína negra.
— Ela sempre foi excluída por ter nascido negra, mas eu acho que ela é perfeita do jeito que é. Ela tem poderes de manipular o corpo humano, ler mentes e os sentimentos. Ela tem uma forte conexão com o mundo espiritual — descreveu a aluna.
Proposta pedagógica
A Emef Santos Dumont é a primeira escola da rede municipal de Canoas a usar a IA como parte da proposta pedagógica.
— Temos uma comunidade escolar muito variada, com alunos com mais e outros menos condições financeiras. Foi um momento em que todos eles puderam usar a tecnologia — destaca Bruna.
Os resultados foram tão legais que a escola pretende criar um livro físico com as ilustrações, para que os alunos possam guardar os trabalhos em suas casas.
— Alguns se basearam em suas próprias histórias de vida, ou se inspiraram em super-heróis que já existem e que gostam para criar algo novo, como a aluna que propôs a "Mulher-Aranha" — conta a professora.
Desde 2015, a Prefeitura de Canoas tem parceria com o Google for Education, projeto que fornece produtos e ferramentas da marca a instituições de ensino.
— Temos essa preocupação de inserir as tecnologias nas escolas. Essa iniciativa foi uma porta de entrada para vários recursos, como telas interativas e tablets nas escolas — conta Silvia Senna, coordenadora da equipe Google em Canoas.
A atividade foi realizada usando chromebooks fornecidos para cada aluno.