Felipe Rocha*
Muito tem se falado sobre a importância da representatividade em diversidade étnico-racial nas organizações. O tema tornou-se pertinente em um contexto onde 54% da população brasileira autodeclarada negra não se vê refletida em igual proporção nas diferentes posições e hierarquias das empresas.
Recentemente, vimos o caso da gigante do varejo Magazine Luiza, a Magalu, que trouxe essa discussão para pauta: a empresa anunciou que iria promover um programa de trainee intencional exclusivo para pessoas negras. Acredito que, antes de adentrarmos em perspectivas mais opinativas sobre o tema, é importante entender este cenário e contextualizar a temática.
Alguns conceitos popularizados no campo do pensamento social são, em determinados momentos, formulados ou reformulados na perspectiva de uma governança global, como aponta Lins Ribeiro, e animados por orientações internacionais, que embasam tratados, conferências e declarações protagonizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e ratificados por muitos Estados nacionais, inclusive o Brasil.
Nesse cenário, documentos como a Declaração Universal sobre Diversidade Cultural da Unesco, de 2001, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Global e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU ratificam a definição formal da diversidade cultural enquanto discurso global, sinalizando o início de uma articulação em apoio à redução de desigualdades que vêm ganhando fôlego desde o início dos anos 1990.
Sendo assim, o conceito de diversidade étnico-racial no Brasil passou a fazer parte, cada vez mais, dos documentos oficiais do Estado nacional, orientando ações nas áreas da educação, cultura e desenvolvimento, entre outras. Movimento que se intensifica em 2003, quando ganha corpo a discussão sobre as políticas de ações afirmativas de base étnico-racial, configurando um conjunto de medidas acionadas pelo Estado a partir das interlocuções que atendam algumas demandas históricas das populações e que garantem as mesmas oportunidades de acesso de públicos ditos minorizados.
Tais movimentos evidenciam a necessidade da discussão desta temática em diferentes ambientes com o acirramento da globalização, e que tende a ser acelerada neste século frente às grandes lacunas e disparidades globais existentes e a necessidade de as empresas se manifestarem em relação ao tema por influência do governo e da sociedade. Como afirma o pesquisador Alexandre Schuh (2016), no mundo do trabalho, várias iniciativas foram criadas na tentativa de amenizar relações complexas impostas pela sociedade contemporânea que determinam um novo paradigma para a atuação das empresas no sentido do respeito aos direitos humanos. E ações como a anunciada pela Magalu se filiam nesta direção.
Na indústria criativa, o tema ganha visibilidade em São Paulo, onde uma pesquisa no ambiente corporativo constatou que, nas 50 maiores agências de publicidade do país, a cada mil funcionários, apenas 35 são negros. Além disso, iniciativas como a Rede de Publicitários Negros, que busca articular entre pares o protagonismo negro nos espaços criativos, e o Programa Thompson 20/20, idealizado pela J. Walter Thompson com um modelo de contratação com foco em inclusão étnico-racial nos ambientes de produção da publicidade no Brasil, objetivam discutir essa pauta.
No Rio Grande do Sul, o Grupo de Profissionais Negros na Indústria Criativa - GPNIC, coletivo criado para representar os profissionais negros nas atividades da indústria criativa, busca proporcionar visibilidade e protagonismo. A iniciativa fomenta o diálogo, articulando maior inserção no mercado. Atualmente, o grupo se constitui em uma rede com 123 profissionais atuantes, promovendo a aproximação e conexão entre afrocriativos dos diferentes setores e atividades da indústria, possibilitando trocas e conexões em um ambiente psicologicamente seguro.
* Publicitário, fundador do Grupo de Profissionais Negros na Indústria Criativa (GPNIC) e mestrando em Indústria Criativa na Universidade Feevale
Innovation Weekend
- O evento será neste sábado e domingo, dias 26/9 e 27/9. Em ambiente virtual, o público terá acesso a shows, palestras, workshops e rodadas de negócios.
- Juan Pablo Boeira, curador- geral do festival, diz que "esta edição é muito mais do que uma live. O participante vai ter a experiência de entrar em um videogame. Ali, ele vai circular por diversos pavilhões virtuais em 3D. Os usuários terão seus respectivos avatares e poderão interagir entre si por meio de bate-papo para falar sobre seus projetos e tendências".
- São 65 temáticas, com mais de 300 atividades (30 minutos de prática e 15 de bate- papo).
- A fala de Felipe Rocha será neste sábado, às 19h, na Sala 2.
- Os ingressos custam R$ 49 (estudantes e sócios da Associação Rio-grandense de Propaganda, a ARP) e R$ 99 (geral), à venda neste site.
- A programação completa pode ser conferida neste site.
- O evento é realizado pela ARP com curadoria do Innovation Center.