O encontro no pátio da escola não ocorria desde março, quando as aulas foram suspensas. Meio ano depois, os estudantes das turmas de terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Militar de Porto Alegre voltaram às atividades presenciais, entre incertezas sobre o modelo que será aplicado.
— Preocupa pela minha família — definiu Luiza Furlan, 19 anos.
A mãe, professora Adriana Furlan, 54 anos, dividiu o sentimento, mas reforçou a credibilidade da instituição que exibe no pátio a inscrição “o colégio dos presidentes”.
— Os militares não fariam de qualquer jeito. São conscientes. Se der aglomeração, repensamos a vinda dela — afirma.
São 931 matriculados na escola, dos quais 149 no terceiro ano do Ensino Médio, o único que retornou nesta segunda.
Jovens e adolescentes começaram a chegar ao prédio histórico às 7h, uma hora antes do inicio das atividades. Na entrada central, uma fita separa os militares dos aspirantes. No piso, marcas foram pintadas, e ordens a todo momento exigiam distanciamento. Logo após o portão, dois profissionais paramentados aferem a temperatura. Um tapete no chão higieniza os calçados, e há ainda álcool gel aplicado sobre a palma das mãos.
Eloisa Mazzini, 18 anos, saltitou ao avistar uma colega.
— Mesmo um pouco preocupada, eu to feliz por poder socializar depois de tanto tempo — disse.
Na porta da esquina com a Rua Santana, um banner foi pendurado, com orientações sobre o correto uso da máscara. Uma das professoras recebeu os alunos.
Às 8h, uma palestra pôde ser ouvida da rua, ministrada pelo comandante do colégio, coronel Saul Marques Machado Júnior. Os alunos foram informados sobre as dimensões das carteiras escolares, a uma distância de dois metros uma da outra. Ao citar que o terceiro ano é a turma mais preparada de todas, um pedido: evitar aglomerações e abraços.
— Vocês hoje fazem parte da história. São um exemplo para o Rio Grande do Sul. Nós somos os primeiros, e vocês são os primeiros. O que fizerem de protocolo será exemplo para todos — repetiu o militar.
Os alunos foram ainda convidados para realizar testes para covid-19, exame não obrigatório. Dos 85 que compareceram nesta segunda, apenas um solicitou que fizesse o teste em outro dia.
Haverá, até sexta-feira (2), um escalonamento de turmas recebidas no colégio. As aulas permanecerão no ambiente virtual de maneira remota.
De acordo com a prefeitura, a instituição "servirá para aplicação dos protocolos" de segurança no combate ao coronavírus. Na última sexta-feira (25), o governo do Estado afirmou que iria notificar a escola, para que informe detalhes da retomada.
O Estado proíbe que atividades presenciais em escolas sejam retomadas em regiões classificadas em bandeira vermelha no modelo de distanciamento controlado, que é o caso da Capital. Segundo protocolo do governo do RS, para que as escolas retornem às atividades, a região precisa estar há pelo menos duas semanas na bandeira laranja.
Calendário de retomada
De acordo com um comunicado no site da instituição, na semana entre os dias 28 de setembro a 2 de outubro ocorrerá a semana do acolhimento aos alunos, de forma escalonada:
- 28 de setembro (segunda) – 3º Ano do Ensino Médio
- 29 de setembro (terça) – 8º e 9º Anos do Ensino Fundamental
- 30 de setembro (quarta) – 2º Ano do Ensino Médio
- 1º de outubro (quinta) – 6º e 7º Anos do Ensino Fundamental
- 2 de outubro (sexta) – 1º Ano do Ensino Médio
Entre os dias 5 e 9 de outubro, os alunos terão uma semana de recesso, remanescente do inverno.
As aulas presenciais serão retomadas no dia 12 de outubro, com o seguinte calendário:
- 2ª, 4ª e 6ª feira – 3º, 2º e 1º anos do Ensino Médio
- 3ª e 5ª feira – 9º, 8º, 7º e 6º anos do Ensino Fundamental
Retomada contrariou decreto, segundo o governo do Estado
O encontro presencial reuniu 85 dos 149 alunos que integram o terceiro ano do Ensino Médio, segundo o coronel Saul Marques Machado Júnior. Mesmo sem professor em sala de aula, a medida contraria a recomendação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE-RS), que sugeriu a suspensão da recepção realizada.
O decreto que define a reabertura das instituições escolares detalha que, além de atividades de ensino, “qualquer apoio pedagógico ou de cuidado às crianças e adolescentes” deve obedecer à regra do distanciamento controlado: somente municípios que estejam a duas semanas na bandeira laranja podem abandonar o ambiente 100% virtual. A Capital ingressou na bandeira laranja na última sexta-feira (25).
A PGE aguarda a manifestação do colégio para definir se haverá sanções pelo descumprimento. O comandante segue defendendo que não houve aula, e sim um acolhimento, e afirma não ter recebido o ofício enviado no final da semana passada.
Caso não altere a programação, o Colégio Militar pode receber 277 alunos nesta terça, número de adolescentes que integram o 8º e o 9º anos do Ensino Fundamental.