Como sempre, algumas questões do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) repercutiram mais do que outras. Realizada no último domingo (10), a prova de Ciências da Natureza apresentou a muitos estudantes o povo Moken — composto por cerca de 3 mil indivíduos —, no qual as pessoas têm a curiosa capacidade de enxergar com precisão embaixo d'água.
Conhecidos como os "ciganos do mar", eles compõem um dos últimos grupos de humanos caçadores-coletores e toda sua sociedade está intrinsecamente relacionada à vida marítima. De acordo com artigo da Human Right's Watch, desde o século 18 os Moken se relacionam a partir do escambo de conchas e pesca, além de viver como nômades, viajando principalmente de barco entre o sul de Myanmar e a Tailândia. Devido ao seu estilo de vida que prima apenas a subsistência, o impacto deles na natureza é mínimo.
As crianças Moken normalmente auxiliam os adultos a coletar crustáceos e conchas em períodos de maré baixa. Esta experiência, assim como o cotidiano ligado ao mar, que teriam resultado na visão subaquática avançada deste povo, como citado na questão do Enem. No estudo utilizado, desenvolvido por Anna Gislén, Eric J. Warrant, Marie Dacke e Ronald H. H. Kröger, é descrito que a qualidade da visão dessas crianças é mais que o dobro da encontrada em europeus da mesma idade.
Apesar das brincadeiras nas redes de que tal capacidade conferiria aos Moken um status de "super-heróis", na realidade eles são um povo marginalizado e discriminado, que devido aos seus hábitos nômades tende a ser visto como apátrida. Desta forma, eles acabam mais vulneráveis a abusos de direitos humanos, além de carentes de direitos básicos como acesso à saúde e educação.