O Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, reuniu 225 escolas com o olhar para o futuro da educação. Estudantes apresentaram projetos inovadores que nasceram dentro das salas de aula, ao mesmo tempo em que educadores debateram caminhos para incentivar ainda mais inovação no ensino.
Foi a segunda edição do evento Sesi com Ciência, promovido pelo Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Sul (Sesi-RS). A atividade gratuita, que ocorreu nestas segunda (30) e terça-feiras (1), teve o objetivo de compartilhar saberes e novas metodologias de aprendizagem.
Com mais de 11 mil participantes, entre estudantes e docentes, o evento teve representantes de 30 cidades com a apresentação de, aproximadamente, 200 projetos desenvolvidos por alunos das escolas Sesi-RS. Essas instituições têm como base curricular o conceito de pesquisa ativa: a ação independente dos estudantes na busca por soluções de problemas reais.
Os estudantes Luísa Carrilhos, 16 anos, Otávio Mattes, 17 anos, e Rodrigo Hirshmann, 17 anos, do segundo ano do Ensino Médio da Escola Sesi Eraldo Giacobbe, de Pelotas, internalizaram o conceito. Como resultado, eles criaram um projeto que propõe resolver um problema que qualquer pessoa que lava as próprias roupas enfrenta: a proteção das peças penduradas no varal quando começa a chover.
Otávio conta que a ideia surgiu quando a mãe de um dos alunos da turma enviou uma mensagem solicitando que ele recolhesse as roupas assim que chegasse em casa, já que o tempo estava nublado.
— A partir daí, percebemos que aquele problema deveria ser comum a milhares de pessoas e decidimos desenvolver um sistema de capa protetora acoplado ao varal tipo sanfona que é acionado por um aplicativo — diz o jovem.
A invenção ainda está em fase de testes. Contudo, o propósito é que a capa plástica fixada no varal se estenda sobre as roupas, assim que o comando for dado por meio do aplicativo. A novidade levou seis meses para ser desenhada e projetada, mas os adolescentes esperam dar um passo a mais e fazer a proteção ser acionada por meio de um sensor que identifique a queda de chuva.
Juliano Colombo, superintendente do Sesi-RS, destaca que a organização tem buscado reinventar a educação por meio de alternativas viáveis e acessíveis de transformação e que coloquem os estudantes no centro do processo de aprendizagem.
— A sala de aula precisa ser mais inclusiva, precisa colocar o aluno como protagonista em suas ações e ter o professor como tutor desta aprendizagem. Nossa proposta é mostrar que não é difícil revolucionar o modelo escolar vigente e planejamos fazer com que esse conceito chegue às escolas públicas, porque não existe Brasil, nem futuro, se não pensarmos a escola pública — avalia o superintendente do Sesi-RS.
Panambi como modelo nacional
A expansão desejada por Colombo começou em Panambi, na região norte. A Associação Comercial e Industrial, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e o Sesi-RS no município firmaram parceria para reestruturar a matriz curricular de toda a rede. O objetivo é atender a demanda profissional da cidade: segundo polo metalmecânico do Rio Grande do Sul. A transformação, pensada desde 2018, passou a ser implementada neste ano, afirma a secretária de Educação de Panambi, Marlise Rodrigues.
— Os nossos quase cinco mil alunos e 396 professores estão sendo imersos nesta nova base curricular que tem se mostrado excelente, porque exige do aluno a capacidade de raciocínio interdisciplinar, conectado com as diversas áreas de conhecimento. Ao mesmo tempo em que coloca o professor em uma situação de redescoberta por fazê-lo trazer para a aula de português, por exemplo, um texto que fale sobre sustentabilidade, que é da geografia — diz Marlise.
A iniciativa foi avaliada por representantes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e tornou-se referência nacional para os demais municípios, revelou o superintendente do Sesi-RS.
Pequenos cientistas
Com diversos prêmios dispostos no estande, os estudantes Yasmim de Macedo, 17 anos, Everaldo Jr, 17 anos, e Marlon Rodrigues, 17 anos, do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Sesi Eraldo Giacobbe, de Pelotas, explicam com orgulho um projeto que rendeu frutos. A invenção desenvolvida por eles, desde o primeiro ano, usa antenas parabólicas para otimizar a geração de energia solar. A ideia surgiu durante uma aula de matemática, conta Yasmim.
— Sabíamos que a antena parabólica consegue captar e melhorar o sinal da televisão. Nos perguntamos se a gente conseguiria potencializar a geração de energia se colocássemos no ponto focal (meio) dela uma placa solar — diz a jovem.
Os testes da primeira fase foram iniciados. Os alunos revestiram a parabólica com uma película refletora e os resultados colhidos revelaram ser possível captar 21% de energia a mais do que o habitual.
No estande próximo, uma cuia chamava a atenção. As estudantes da Escola Sesi de Ensino Médio Montenegro Aline Santana, 17 anos, Tamires Nunes, 16 anos, e Brenda Souza, 17 anos, criaram uma espécie de termômetro que mede a temperatura da água.
— Quando o led branco acende, significa que a temperatura está acima dos 60°C. Quando o vermelho liga é porque já ultrapassou a casa do 80°C — explica Tamires que, juntamente com as colegas, pretende aperfeiçoar o protótipo e acoplar o sensor na própria bomba do chimarrão para prevenir casos de câncer de esôfago.