O professor Marcelo Recktenvald toma posse como novo reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) às 17h desta quarta-feira (4), em Brasília, enquanto a reitoria da instituição, em Chapecó (SC), segue ocupada por cerca de 200 estudantes.
Em nota datada deste dia 4, os manifestantes afirmam que seguirão acampados no local até que a nomeação do reitor seja revista pelo governo federal. Na semana passada, Jair Bolsonaro escolheu Recktenvald para o cargo, apesar de ele ser o terceiro nome da lista tríplice enviada pela UFFS. A tradição, que vem sendo quebrada pelo presidente, é que o primeiro nome seja confirmado pelo governo.
Como reação à nomeação, os alunos ocuparam o prédio da reitoria na noite de sexta-feira (30) e seguem no local desde então, muitos deles dormindo em barracas montadas no saguão e pelos corredores. Na nota divulgada nesta quarta-feira, afirmam que o movimento é pacífico, chamam Recktenvalt de "interventor" e afirmam que continuarão acampados até que suas reivindicações sejam atendidas:
"Neste ano, na contramão dos princípios democráticos e da autonomia universitária, restou nomeado um interventor. Indagamos: como o Marcelo fará a gestão se a ampla maioria não optou por suas propostas? Isto é democrático em pleno ano de 2019? Exigimos a nomeação dos primeiros colocados pela consulta pública e pela determinação do Conselho Universitário. Estamos amparados constitucionalmente por princípios democráticos e ousamos questionar a legalidade citada pelo interventor em entrevista."
GaúchaZH trocou mensagens com Recktenval nesta quarta-feira. Ele confirmou a cerimônia de posse em Brasília, afirmou que estará em trânsito nesta quinta-feira (5) e que "possivelmente" estará na reitoria para começar a exercer as funções de reitor na sexta-feira (6). Ele disse não temer ser impedido de trabalhar.
— Pretendo conversar com eles (os manifestantes) assim que retornar de Brasília — anunciou.
O novo reitor é formado em Teologia e Administração. Na UFFS, já foi pró-reitor de gestão de pessoas e pró-reitor de assuntos estudantis. Em sua conta no Twitter, informa ser "cristão conservador", "defensor da família" e "pastor batista". Em uma postagem recente no Facebook, manifestou seu apoio a Bolsonaro: "Imprensa esquerdopata mundial, subsidiárias globalistas brasileiras, ONG's hipócritas e interesseiras, governantes canhotos, os isentões dissimulados de sempre, picaretas de toda espécie e, é claro, o gado. Todos, todas e todxs juntos contra o Bolsonaro. 'Ninguém solta a mão de ninguém!'. A Amazônia é só a cortina de fumaça. Só não vê quem não quer. Que Deus abençoe o nosso presidente!".
Além de Recktenvald, outros três candidatos a reitor participaram da consulta prévia em que votaram professores, técnicos-administrativos, alunos e sociedade. No primeiro turno, Antônio Andrioli foi o mais votado, Anderson Ribeiro ficou em segundo, Recktenvald em terceiro e Gracialino Dias em quarto. No segundo turno, disputado por Ribeiro e Andrioli, Ribeiro venceu. Na fase seguinte, o Conselho Universitário da UFFS reuniu-se para montar a lista tríplice que deve ser submetida ao presidente da República. Inscreveram-se Andrioli, Ribeiro e Recktenvald. Respeitando o desejo da comunidade acadêmica, o conselho enviou Ribeiro como cabeça da lista, seguido de Andrioli e Recktenvald.
A escolha do terceiro colocado para assumir a reitoria da UFFS, que tem campi em Chapecó (SC), Erechim (RS), Passo Fundo (RS), Cerro Largo (RS), Realeza (PR) e Laranjeiras do Sul (PR), foi publicada na sexta-feira (30), no Diário Oficial da União. O diretor do campus de Erechim divulgou uma nota em que expressou sua preocupação com a decisão do governo: "Tal entendimento sustenta-se no fato de que essa nomeação não representa o projeto democraticamente legitimado pela comunidade universitária da instituição. Nesta oportunidade, aproveitamos para reafirmar nossos compromissos com a autonomia universitária e com os preceitos democráticos que devem orientar o projeto institucional da UFFS, tendo em vista o seu caráter público, popular e de qualidade".
O diretor do campus de Realeza (PR), Marcos Antônio Beal, também se manifestou por meio de nota: "Embora a reconheça como legítima, a Direção do Campus Realeza vê com surpresa a nomeação do professor Marcelo Recktenvald para o cargo de Reitor da UFFS, especialmente considerando as práticas consuetudinárias acumuladas pelas universidades brasileiras após 1988 e amplamente respeitadas por governos anteriores."