O presidente Jair Bolsonaro escolheu um especialista em Previdência Social para apagar o incêndio na Educação. Na manhã desta segunda-feira (8), anunciou o economista e professor universitário Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub para substituir Ricardo Vélez Rodríguez no comando do MEC.
Weintraub foi o primeiro economista a aderir à candidatura de Bolsonaro, muito antes de Paulo Guedes, por exemplo, e vinha atuando como secretário-executivo da Casa Civil, um espécie de braço direito do ministro Onyx Lorenzoni.
Graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Weintraub é professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Sua principal atuação profissional foi no mercado financeiro. Aos 18 anos, começou a trabalhar como office-boy no Banco Votorantim, saindo aos 47, como economista-chefe e diretor. Depois, atuou na corretora Quest. Especializou-se em previdência, tema de seu mestrado e de vários livros que publicou.
Quem trouxe Weintraub para as hostes bolsonaristas foi Onyx Lorenzoni. O ministro conheceu ele e seu inseparável irmão, o advogado e professor Arthur Weintraub, durante um seminário internacional sobre Previdência, realizado no Congresso em março de 2017. Onyx entusiasmou-se pelas propostas da dupla, que no ano anterior havia apresentado uma proposta alternativa de reforma da Previdência.
Os irmãos, que haviam apoiado Marina Silva na eleição presidencial de 2014, a princípio resistiram ao convite de apoiar Bolsonaro, mas acabaram mudando de ideia. Enquanto Paulo Guedes ainda apostava na candidatura de Luciano Huck à Presidência, começaram a dar consultoria à candidatura do então deputado Jair Bolsonaro. No começo do ano passado, fizeram parte da pequena comitiva que Bolsonaro levou em uma viagem ao Japão e à Coreia do Sul. Àquela altura, eram os principais assessores econômicos do candidato.
Com a eleição do capitão reformado, Abraham Weintraub e o irmão integraram o gabinete de transição do futuro governo, trabalhando na elaboração de uma proposta de reforma da Previdência. Depois da posse, Weintraub foi trabalhar com Lorenzoni.
Discreto, avesso a entrevistas, Abraham preferiu se manifestar apenas por e-mail para uma reportagem feita no ano passado pelo jornal O Estado de São Paulo. Questionado sobre a decisão de apoiar Bolsonaro, escreveu: "Diante de ameaças é necessário lutar pelo país em que se vive. Os venezuelanos descobriram isso muito tarde. Perderam o controle de sua pátria e hoje são colônia dos ditadores que controlam Cuba. São escravos".
Na mesma entrevista, afirmou que "a América do Sul, e o Brasil em particular, faz parte do espaço vital de uma estratégia clara para a tomada de poder por grupos totalitários socialistas e comunistas". Para ele, o Foro de São Paulo é uma realidade e o "crack foi introduzido no Brasil de caso pensado. Vejam os arquivos, está na internet!".
Ele também rejeitou o rótulo de direitista: "Esquerda ou direita, acho que é uma rotulação pobre. Somos humanistas, democratas, liberais, lemos a Bíblia (Velho e Novo Testamento) e a temos como referência".
Ligação com a educação é recente
A ligação de Weintraub ao meio educacional reside na sua carreira como professor da Unifesp ao longo dos últimos quatro anos, mas sua produção acadêmica versa esmagadoramente sobre temas previdenciários. O apoio a Bolsonaro valeu-lhe alguns dissabores no ambiente universitário. Quando assinou um texto defendendo a independência do Banco Central, compartilhado por Bolsonaro, centros acadêmicos da Unifesp publicaram atacando o professor: "Repudiamos a associação de nosso corpo docente à pessoa do senhor Jair Bolsonaro, já que coloca em jogo o princípio da instituição, e de nossos valores em defesa da educação pública, gratuita e socialmente referenciada".
Abraham e o irmão responderam com um texto duro, chamando os estudantes de "ridículos", e causaram ainda mais revolta. Ao Estado de São Paulo, Abraham afirmou: "Ficamos muito indignados com a invasão de nossa vida pessoal. Foi patrulhamento ideológico puro, uma nota de repúdio à nossa liberdade. Fora do trabalho, nossa vida pessoal não diz respeito a ninguém. Não fizemos nada de ilegal, não utilizamos estrutura, dinheiro, e-mail, nada, absolutamente nada da Unifesp".
Influência de Olavo de Carvalho
Como Vélez Rodríguez, que foi indicado para o ministério por Olavo de Carvalho, Abraham também tem ligações com o guru do bolsonarismo. No final do ano passado, pouco antes da posse de Bolsonaro, o novo ministro e o irmão deram uma conferência na Cúpula Conservadora, evento promovido por Eduardo Bolsonaro em Foz do Iguaçu (PR). Em sua fala, Abraham afirmou que ele e Arthur haviam adaptado as teorias de Olavo para derrotar no debate o "marxismo cultural" existente nas universidades, e que essa seria a contribuição que tinha a oferecer.
Em uma apresentação repleta de piadas, que definiu como "mais rock'n'roll do que MPB", defendeu o uso do humor para "vencer o desafio do comunismo":
— A gente ganha essa batalha não sendo chato. Conservador não significa que anda de Del Rey e terno velho. A gente tem de ser mais engraçado que os comunistas. A gente tem de ganhar a juventude.
Abraham alertou a plateia de que não se deve minimizar a ameaça representada pelos adversários políticos.
— Quando caiu o muro de Berlim, teve um monte de goiaba que falou: o comunismo acabou, agora podemos ficar tranquilos. Agora que o Jair Bolsonaro ganhou, falaram: o PT acabou, podemos ficar tranquilos. Não podemos. Essa turma vai voltar para casa. Eles são inteligentes. O meu inimigo é igual ou mais forte do que eu, senão eu sou um trouxa de não conseguir derrotar meu inimigo.
O novo ministro da Educação também citou ataques que fazia a ícones da esquerda durante suas aulas de microeconomia na universidade:
— Eu mostro as marcas, como é que você faz diferenciação, agrega valor. E aí ponho meu garoto-propaganda, que só usa roupa de grife, o Fidel Castro, playboy.
Também explicou que, nessas aulas, mostrava fotos com relógios de grife nos pulsos de Castro e de Che Guevara. Depois disso, vinha o que ele chamava de sessão bônus, apenas para os alunos que quisessem permanecer, depois de concluída a aula propriamente dita. Seguiam-se acusações de racismo e misoginia a Che Guevara, bem como como ataques a Karl Marx, Trotsky e Lenin.
Na palestra de Foz do Iguaçu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi lembrado por Abraham:
— Não posso xingar o Lula. Meu irmão é advogado, falou que não posso falar o que eu queria falar. Então, o sicofanta do Lula, ele nunca vai saber o que é um sicofanta, então eu posso falar — disse.