Um dos dramas de quem participa de processos seletivos em busca de emprego são as perguntas pessoais nas entrevistas com recrutadores. Questões como "qual seu ponto fraco?", "como era sua relação com o chefe anterior?", "por que quer trocar de emprego?" podem ter mais de um sentido: revelar uma informação mas, principalmente, a reação do entrevistado.
Várias consultorias de Recursos Humanos ajudam os candidatos a se preparar para este momento e concordam: falar a verdade é a melhor forma de evitar que caiam em armadilhas. Afinal, uma mentira rapidamente pode ser desmascarada pelos recrutadores, seja por uma contradição do próprio entrevistado, seja por que em outras etapas do recrutamento o candidato demonstrou comportamento distinto.
— A forma como a questão será respondida dirá muita coisa ao entrevistador. Se não foi bem explicada, ou a reação for explosiva, é um sinal que pode indicar que algo está sendo escondido — explica o diretor da rede de cursos profissionalizantes Prepara Cursos, Guilherme Maynard.
Ele afirma que muitos recrutadores lançam questões que podem desestabilizar o candidato, justamente para ver como ele reage sob pressão. São perguntas como "você já agiu contra a ética no seu trabalho" ou se já "agiu contra a lei" em alguma ocasião da sua vida.
— Muitas empresas têm achado que esses tipos de questões são essenciais em um processo. E, neste contexto, observam atentamente como a reação pode revelar a personalidade do candidato — diz Maynard.
Personalidade, por sinal, é um dos focos principais de atenção na entrevista de emprego, por isso é preciso saber manter o controle emocional ao responder de forma equilibrada questões pessoais. O especialista em RH Villela da Matta, presidente da SBCoaching, afirma que é fundamental manter a confiança durante a entrevista para passar mais segurança e credibilidade ao recrutador.
— É preciso "demitir" o crítico interno. É a voz dissonante que diz "este recrutador não gostou da minha roupa", "gaguejei na apresentação", "vou esquecer algo" e pode colocar tudo a perder. É preciso parar esse fluxo dos pensamentos negativos na entrevista — afirma da Matta.
Outra sugestão dele é ir para a entrevista com um pensamento positivo. Há macetes para isso, como, ainda na sala de espera, pensar em coisas que o remetem a momentos felizes da vida. Outra tática é mais física: criar uma "âncora", que é associar este momento refletido com um gesto corporal (passar a mão na perna, por exemplo), e ativá-la durante a entrevista.
Sete dicas para se sair bem na entrevista
Idiomas e voluntariado
São dois itens que os candidatos costumam "esticar" para impressionar. Entretanto, é um tiro pela culatra: uma conversa rápida em inglês e espanhol pode desmascarar o candidato e colocar tudo a perder. E é um risco desnecessário, já que, para muitas vagas, ter um conhecimento básico ou intermediário de inglês é suficiente.
Histórico salarial
Há quem minta sobre o salário anterior como forma de aumentar o poder de fogo na barganha por um valor maior no próximo emprego. Especialistas aconselham a não fazer isso, porque há uma média salarial para cada cargo e quem seleciona sabe disso.
Demissão
Não existe problema em admitir que foi demitido. É algo até considerado normal e pode acontecer por uma série de razões. O que se deve evitar é falar mal da empresa anterior, mesmo que a demissão não tenha sido amigável.
Forças e fraquezas
Mais do que realmente saber do entrevistado quais são seus pontos fortes e fracos, nesta questão os recrutadores querem saber o quanto o candidato está ciente das suas habilidades. É aconselhável fugir de respostas consideradas prontas e não contar muitas vantagens sobre as qualidades.
Informações sobre a nova empresa
Não demonstrar conhecimento sobre o mercado de atuação da companhia na qual se quer trabalhar pode eliminar a chance de contratação. É comum os recrutadores fazerem perguntas para avaliar o grau de interesse dos candidatos. Para que isso não aconteça, é importante olhar o site da instituição e buscar o máximo de informação.
Questões sobre irregularidades
Perguntas como "você já faltou com a ética na empresa anterior", ou "já falou mal do chefe" são usadas para testar o candidato, ver se ele mantém o controle emocional em caso de pressão. Procure colocar a ética e a verdade em primeiro lugar, respondendo com confiança as perguntas.
A postura desejada
Em todo processo de entrevista, é aconselhável evitar interromper o entrevistador com frequência, falar de forma exagerada, mudar de assunto, fazer comentários fora de contexto, não ser reativo aos questionamentos, ficar na defensiva e, se tiver algum tique nervoso, tentar mantê-los sob controle. Acessório essencial nos dias de hoje, o celular deve ficar sempre desligado ou no silencioso.
Fontes: Renata Motone, Coordenadora de Recursos Humanos da Luandre, Villela da Matta, e presidente da SBCoaching e Guilherme Maynard, diretor da Prepara Cursos.