Para marcar o Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro, GaúchaZH convidou Ana Paula Delgado, 30 anos, para descrever as alegrias e os desafios de quem se compromete a ensinar. Professora há seis anos, formada em História pelo Centro Universitário Metodista (IPA) e especialista em Ensino de História e Geografia pela UFRGS, ela leciona na Escola Otaviano Manoel Júnior, em Guaíba. Desde agosto, quando foi nomeada para assumir turmas no Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, em Porto Alegre, vive a ansiedade de conhecer seus novos alunos – por conta da greve, ainda não atuou na escola da Capital.
"Eu sempre quis ser professora e não tinha dúvida de que seria a profissão que escolheria ao prestar vestibular. A minha paixão por ler e entender o que acontecia na sociedade e suas razões históricas foram predominantes. Fiz o curso de licenciatura em história no Centro Universitário Metodista – IPA, concluindo em 2010.
Poucas pessoas apoiaram a minha escolha, a maioria dizia que eu estava gastando muito tempo com uma profissão que não me daria retorno, mas hoje sei que estavam enganados. O retorno que recebo em cada bom dia, beijo, abraço, palavras de carinho, sorrisos, não tem preço. Poucos conseguem entender o que é isso. Escolhi essa profissão para poder compartilhar conhecimentos, para fazer diferença na aprendizagem de crianças e adolescentes. Hoje, infelizmente, nem o salário básico estamos conseguindo receber em dia. Não se trata de gostar da profissão, estamos falando de um direito básico.
Quando fazia os estágios nas escolas, era comum ouvir o conselho de alguns professores: "Aproveita que você é nova e faz outra faculdade, a educação está em crise". Confesso que ficava um pouco desmotivada, mas ao mesmo tempo deparava com professores maravilhosos que ainda acreditavam que podiam fazer a diferença.
No final de 2011, eu assinei o primeiro contrato emergencial com o Estado para trabalhar na Escola Estadual Bento Gonçalves, localizada na Fase de Novo Hamburgo. O contato com adolescentes infratores me fez perceber, ainda mais, que a educação é o caminho de mudanças. A maioria dos menores não frequentava a escola antes. Era comum jovens de 16 ou 17 anos no 6º ano ou em séries anteriores.
Em seguida, consegui contrato em Guaíba, onde estou há cinco anos. Em agosto, fui nomeada para assumir a vaga do concurso do Estado de 2013, em Porto Alegre. Dividindo 20 horas em cada município. Não assumi a sala de aula na escola Emílio Massot por motivo de greve. Estou ansiosa para conhecer os meus novos alunos e, ao mesmo tempo, confiante de que a nossa luta trará resultados.
Conhecer a nossa missão de vida é fundamental para saber o que queremos construir no futuro. A minha missão de vida é evoluir pessoalmente e profissionalmente, melhorando cada vez mais. Ensinar e auxiliar alunos, possibilitando transformações em suas vidas. Fazer com que eles se sintam tocados e busquem potencializar os seus resultados. Ensinar para a vida, fazer com que questionem, busquem suas próprias respostas. Quando eu vou preparar minhas aulas, fico me perguntando: qual a utilidade desse conteúdo para esses alunos? Como podem usar no seu cotidiano? Prefiro trabalhar bem uma ideia, para que compreendam e façam ligações externas, do que trabalhar muito conteúdo de forma superficial que não vai agregar valor a sua aprendizagem.
A minha missão de vida é ensinar e auxiliar alunos, possibilitando transformações.
Ana Paula Delgado
Professora
Compartilhar conhecimentos, principalmente com aqueles que estão em uma faixa etária diferente da nossa, não sendo nosso parente, filho, sobrinho etc, é algo que requer muita paciência e dedicação. No ensino básico, perdemos um tempo valioso da aula resolvendo conflitos, ensinando valores e, por vezes, dando a educação que deveria vir de casa – mas como não vem, para conseguir fazer o nosso trabalho acabamos tendo esse papel que não é o nosso.
O que me dá maior satisfação na profissão é ser reconhecida na rua: "Profª, lembra de mim?". Adoro reencontrar antigos alunos e perceber que aquelas crianças do Ensino Fundamental hoje são jovens cursando faculdades, trabalhando, contribuindo com a sociedade. Frequentemente, recebo mensagens dos meus alunos pedindo que eu volte da greve, que estão com saudades. Confesso que fico em uma situação difícil, mas lembro do meu propósito de defender a educação pública para uma sociedade mais igualitária. Quero ser um exemplo para os meus alunos e tento fazer da teoria a minha prática. A aula de cidadania acontece durante a greve. Precisamos de uma escola viva, que briga, que não se esconda, que entenda o aprendizado dentro e fora dos livros, na sala de aula e na rua. O aluno não pode ficar só sentado na sua cadeira, escutando os conhecimentos que lhe são passados, sem reação. O aluno tem fala, tem voz e deve poder falar, interpelar, estar em movimento, erguer-se como cidadão. Entender que a luta pela educação pública de qualidade é dele e por ele."