Correção: Entre 4h05 e 10h20min, ZH grafou equivocadamente no título que os temas se referem às edições entre 2009 e 2016. O conteúdo já foi corrigido.
A essas alturas do campeonato, a pouco menos de duas semanas para a edição 2016 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), qual participante não gostaria de saber de antemão os assuntos que serão cobrados nas áreas do conhecimento exigidas nas provas objetivas?
Bola de cristal não ajudaria muito, mas um levantamento coordenado pelo professor de matemática Ademar Celedônio, de Fortaleza (CE), demonstra os temas mais recorrentes no exame desde a edição de 2009. O estudo considerou as provas de aplicação geral e também as aplicadas em caráter excepcional, como o segundo modelo utilizado em 2009 após o vazamento de conteúdos que obrigou o cancelamento do exame e causou um prejuízo que ficou na ordem dos R$ 30 milhões, considerando apenas os gastos com impressão do material.
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Mais do que apontar os assuntos abordados nas questões, a pesquisa comandada pelo professor Ademar, que também é diretor de ensino e tecnologia do Sistema Ari de Sá (SAS), apresenta um panorama do estilo de prova que vem sendo elaborado para o Enem, dando ao exame características bem peculiares se comparado à maneira como os conteúdos do Ensino Médio são cobrados nos vestibulares tradicionais.
E isso precisa ser considerado na preparação para a avaliação nacional, que, neste ano, conta com aproximadamente 8,6 milhões de inscritos.
– Os assuntos que são relevantes no cotidiano social caem na prova, os que não são não aparecem. Esqueçam aqueles conteúdos e fórmulas que não se aplicam na vida – diz o professor.
A consonância entre o que é questionado na prova e a realidade social brasileira aparece na importância que determinados conteúdos têm no exame. Na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, leitura e interpretação de texto saem na frente de gramática. A literatura pedida no Enem, reforça o professor Ademar, tem mais proximidade com autores modernistas, como Carlos Drummond de Andrade (poeta citado 18 vezes nas provas), do que com o barroco Gregório de Matos Guerra. Mas não se pode esquecer das unanimidades, que transcendem o tempo, como Machado de Assis.
– Ele sempre aparece porque ele é o cara – diz Ademar.
O raio X das provas do Enem também pode estremecer o senso comum sobre o que cai na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. O levantamento em história dá munição aos que esbravejam contra a possível não obrigatoriedade do estudo de filosofia e sociologia no Ensino Médio: 16% das perguntas na disciplina envolviam filosofia, o tema mais recorrente da prova, e sociologia abarcou 11%. Em 2009, pouco depois que a lei de obrigatoriedade de filosofia e sociologia no currículo escolar foi assinada, essas disciplinas caíam em duas ou três questões. Hoje, correspondem a um terço das questões de Ciências Humanas.
– A proposta do Enem se baseia em questões de cidadania, direitos humanos, inclusão etc. Então, não se cobra mais a história sob um ponto de vista engessado, de apenas conhecer fatos. Cobra-se a capacidade de articulação e interpretação usando os fatos para analisar questões de cidadania, que envolvem a filosofia e a sociologia – explica o professor das duas disciplinas no Universitário, Demetrius Ricco Avila.
Em geografia, a chamada geografia agrária aparece em destaque, e o professor Alexandre Rosa, do Anglo Vestibulares, esclarece que não se trata de um tema único.
– É a parte que aborda desde as relações de trabalho no campo, a questões de propriedade de terra, que nos levam aos conflitos como os que envolvem MST e latifundiários, até temas como agronegócio versus agricultura familiar. A questão agrária é sempre muito forte na prova, e o Enem sempre traz a realidade do Brasil – diz Rosa, que, neste ano, aposta em questões envolvendo produção agrícola frente à proteção ambiental, especialmente no âmbito das mudanças na legislação.
Em Ciências da Natureza, humanidade e ambiente inspiraram 49 das 253 questões de biologia avaliadas, correspondendo a 22% do total, sendo que botânica e genética molecular – temas frequentes em vestibulares tradicionais – ficaram com 3% cada uma no apanhado geral das provas analisadas.
Matemática não foge à regra de estar mais integrada à realidade. Geometria, aritmética, escala, razão e proporção e porcentagem ocupam os primeiros lugares na tabela dos conteúdos mais recorrentes no Enem e são considerados conhecimentos fundamentais para quem quiser se dar bem no exame dos próximos dias 5 e 6 de novembro.