A chamada Consulta à Comunidade para Reitor da UFRGS ocorre nesta quinta-feira, entre 8h e 21h. Alunos, professores e técnicos-administrativos poderão demonstrar sua preferência em relação ao nome do novo administrador da instituição. Três chapas foram formadas para preencher o mandato de reitor e de vice entre 2016 e 2020.
A votação será feita em 51 terminais de computador nos institutos e faculdades dos campi de Porto Alegre e do Litoral Norte. Os eleitores terão de passar por identificação com número e senha do cartão da UFRGS. O atual reitor, Carlos Alexandre Netto, administra a universidade há dois mandatos e é criticado por entidades representativas dos estudantes e dos técnicos-administrativos.
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A relação de quem está apto a votar foi disponibilizada no site da instituição. Os locais para votação que normalmente não têm expediente noturno encerrarão a votação às 18h. O resultado deve sair no início da madrugada de sexta-feira e o novo reitor assumirá no dia 22 de setembro. O mandato dura quatro anos.
Na corrida eleitoral, cada grupo de eleitores têm um peso na votação. Quem tem mais poder de decisão são os 2.872 professores (70%), seguidos pelos 37.323 alunos (15%) e pelos 2.656 técnicos-administrativos (15%). Há muitos anos, esse é um ponto de crítica por parte dos grupos com menor peso de escolha, que exigem um sistema de paridade no qual os votos das três classes tenham o mesmo valor.
Outra reclamação é de que a consulta de hoje não decide o novo reitor - o processo é uma consulta à opinião da comunidade. Conforme o decreto 1.916/96 do governo federal, a decisão ainda passa por duas instâncias: o Conselho Universitário da instituição, que hierarquiza os três nomes favoritos, podendo ou não o mais votado estar em primeiro lugar, e pelo Ministério da Educação (MEC), que homologa o nome do novo reitor, também sem a obrigação de seguir a preferência da consulta popular.
A possibilidade de a escolha da comunidade universitária ser ignorada é uma das críticas do ANDES/UFRGS, um dos sindicatos que representa os professores da instituição.
– É uma lei que precisa ser superada. A gente sempre tem a necessidade da chancela do governo federal para nomear o reitor. Se o governo quiser definir outro nome que não encabece a lista, ele pode. E isso fere a autonomia universitária – diz Mônica Benotto, presidente em exercício do ANDES/UFRGS.
Nenhuma entidade representativa das três classes de eleitores declarou apoio oficial a uma chapa. No caso do ANDES/UFRGS, Mônica justifica que, como representante dos docentes, a entidade precisa dialogar com qualquer reitor que seja eleito. Além disso, há professores apoiando as três chapas.
O Sindicato Intermunicipal dos Professores de Ensino Superior do RS (ADUFRGS), outra organização que representa os docentes, também não declarou apoio a nenhuma chapa. A informação é da presidente, Maria Luiza Ambros von Holleben.
O Diretório Central de Estudantes (DCE) também não declarou apoio oficial a nenhum concorrente. No entanto, grande parte dos universitários manifesta simpatia pela Chapa 1, do professor Carlos Aberto Gonçalves, visto como possibilidade de mudança. Conforme Juliano Marchant, coordenador da pasta de negros e negras da entidade, o Diretório está insatisfeito com a gestão do atual reitor, Carlos Alexandre Netto, por conta da insegurança dos campi, do sistema de paridade que concede mais autoridade aos professores em detrimento de outros grupos e pela "falta de infraestrutura da universidade", entre outros pontos.
Marchant ainda acrescenta que as chapas 2 e 3, formadas por Sérgio Roberto Franco e por Rui Vicente Oppermann, respectivamente, estão ligadas à atual administração. Oppermann é o atual vice-reitor e Franco era pró-reitor de graduação até dezembro do ano passado. A simpatia de parte dos estudantes pela chapa 1 se dá por conta da possibilidade de renovação e pela defesa de pautas comuns às dos universitários.
– Enquanto entidade, entendemos que é complicado apoiar um nome. Mas não tem como esquecer a má-gestão de oito anos que a atual reitoria fez, como os prédios interditados e a falta de segurança nos campi. As chapas 2 e 3 representam a atual administração, enquanto que a chapa 1 não tem nenhuma ligação – diz Marchant.
Posicionamento semelhante é adotado pela Associação dos Servidores da UFRGS (ASSUFRGS). Segundo um dos coordenadores da entidade, Jorge Torres, a última assembleia definiu a recomendação de voto nulo aos técnicos-administrativos. A decisão, no entanto, foi feita antes do lançamento da candidatura do professor Carlos Alberto Gonçalves, na chapa 1, que representaria uma mudança em relação à atual gestão. Em seu site, a entidade conclama os servidores a não votar na chapa 3, do professor Rui Vicente Oppermann, chamada de "autoritária".
– O professor Rui, que é da situação, não nos representa. Até porque ele mantém uma gestão antidemocrática, já que ele é contra a paridade no sistema (de peso de votos) 30-30-30 – explica Torres.
Conheça os candidatos:
Chapa 1
Carlos Alberto Gonçalves (Instituto de Ciências Básicas da Saúde) e Laura Verrastro Vinas (Instituto de Biociências). É considerada a chapa sem ligação à gestão do atual reitor, Carlos Alexandre Netto. É vista com bons olhos pelos insatisfeitos com a atual administração e tem oferece risco à chapa 3, do favorito Rui Vicente Oppermann. Algumas das propostas são estabelecer a paridade no peso de votos, antiga reivindicação de técnicos-administrativos e estudantes, mais transparência nos gastos da universidade e melhora na segurança dos campi.
Chapa 2
Sérgio Franco (Faculdade de Educação) e Andréa Leal Ribeiro (Faculdade de Agronomia). Por ter sido pró-reitor de graduação da UFRGS, Franco é visto pelo DCE como ligado à gestão do atual reitor. A chapa propõe uma nova gestão com mais transparência nos gastos, restaurantes universitários abertos no final de semana e mais casas de estudantes.
Chapa 3
Rui Vicente Oppermann (Faculdade de Odontologia) e Jane Fraga Tutikian (Instituto de Letras). É considerada a chapa da situação, uma vez que Oppermann é vice-reitor da universidade há oito anos. É também o favorito na disputa. A chapa pretende aprofundar as mudanças positivas trazidas nos últimos dois mandatos, como a implantação do Reuni (programa federal de reforma das universidades) e das cotas, aperfeiçoar a segurança das dependências da UFRGS e melhorar a reputação nacional e internacional da instituição.