Em três meses de aulas nas escolas estaduais gaúchas, os alunos já perderam quase 30 dias de atividades em razão da paralisação de professores. Segundo balanço da Rádio Gaúcha, desde o início do ano letivo, as instituições que aderiram aos movimentos tiveram 26 dias sem aulas, sem contar os períodos reduzidos. Os números mudam de acordo com cada escola. Nesta sexta-feira (10), a greve da categoria, iniciada no dia 16 de maio, completa 20 dias.
O início do ano letivo, no dia 29 de fevereiro, foi atrasado em razão de mobilização chamada pelo Cpers/ Sindicato. Em março, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação convocou greve de três dias para pressionar o governo pelo cumprimento da Lei do Piso Nacional do Magistério. A paralisação ocorreu nos dias 15, 16 e 17. No dia 18, muitos professores também não compareceram às escolas, em razão da assembleia da categoria, no Gigantinho, onde a proposta de greve foi rejeitada pelos educadores.
Nos dias 11 e 12 de abril, o Cpers chamou as escolas a reduzirem os períodos de aulas em razão do parcelamento de salários. Algumas instituições, porém, tiveram mais de uma semana com redução dos períodos. No dia 13 de abril ocorreu paralisação geral para realização de um ato em defesa do Instituto de Previdência (IPE). As aulas em alguns colégios ainda foram suspensas no dia 13 de maio, em razão da assembleia da categoria, quando foi aprovada a greve por tempo indeterminado.
A estudante do 3 º ano do colégio Paulo Soares Luíza Coutinho Lemes, 16 anos, se prepara para prestar vestibular para Direito e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ela já perdeu as contas dos dias em que não teve aulas, ou foi mandada mais cedo para casa. Além disso, desde o início do ano, não teve aulas de história em razão da falta de professor. A família da menina se viu obrigada a pagar um cursinho particular.
"Eu perdi muito conteúdo e ninguém sabe quando vai voltar e, quando voltar, a gente vai ter que ter aulas nos sábados e a previsão é que a gente termine as aulas só em fevereiro, quando eu já terei feito todas as provas, daí fica difícil", lamenta.
A mãe de Luíza agora tenta encontrar vaga para a filha em outra escola da Capital, que não tenha aderido à greve.
Eduardo de Farias Barbosa, 18 anos, é aluno do 3 º ano do Colégio Padre Réus, na zona sul da Capital. Ele diz que a escola teve três semanas de períodos reduzidos no início do ano e também aderiu aos dias de mobilização. Para tentar recuperar as aulas perdidas, os aluno, que fará o Enem e vestibular no fim do ano, está estudando em casa, através do aplicativo "A Hora do Enem, disponibilizado gratuitamente pelo pelo Ministério de Educação.
"Tem amigos meus em colégios particular e que estão bem avançados em relação a nós. Eu estou estudando a partir do aplicativo do Enem, mas estou achando bem complicado porque não é a mesma coisa que ter um professor para tirar as tuas dúvidas", reclama.
O que diz o Cpers
A vice-diretora do Cpers, Solange Carvalho, alega que o retorno dos professores ao trabalho depende da apresentação de uma proposta por parte do governo.
"O alvo não devem ser os professores que estão lutando em defesa da educação, o alvo das críticas das criticas deve ser o governador que simplesmente diz que não tem dinheiro e nem outros itens da pauta, como por exemplo a retirada do PL/044 está interessado em discutir conosco", afirma.
A estimativa do sindicato é de que mais de 70% das escolas gaúchas tenham aderido à paralisação da categoria.
Posição do governo
O secretário da Educação, Luis Antônio Alcoba, diz que das 2,5 mil escolas gaúchas, 500 estão com algum prejuízo em razão da greve ou ocupações. Ele ainda explica que a direção de cada escola fica responsável de organizar um calendário de recuperação das aulas, que depois precisa ser aprovado pelas Coordenadorias Regionais de Educação (CRE).
"Certamente essas escolas que têm terceiro ano, terão que dar um prioridade para não prejudicar os alunos que têm de fazer Enem e vestibular, adentrar o mês das férias de julho para recuperar, essa será a nossa orientação para as direções das escolas", explica.
Na próxima segunda-feira, às 14h, haverá uma nova rodada de negociação entre professores e o governo. Representantes da Secretaria da Fazenda e da Casa Civil também estarão presentes.
O secretário adianta, porém, que, neste momento, é inviável conceder reajuste salarial, em razão da crise financeira vivida pelo Estado. Ele ainda destacou que o ponto dos grevistas está sendo cortado.