Greve é assunto secundário na Escola Estadual Paula Soares, no centro de Porto Alegre. No colégio com quase 90 anos, onde a minoria dos professores aderiu à paralisação, a ocupação pelos alunos desde sábado é que provocou confusão entre manifestantes e pais de alunos na manhã desta segunda-feira.
Supreendidos pelo portão fechado do prédio histórico na mesma quadra do Palácio Piratini, alguns pais de estudantes do Ensino Fundamental discutiram com líderes dos cerca de 20 acampados no saguão da escola, que não liberaram o acesso ao local.
– Os alunos iam abrir as portas, mas foram ameaçados por alguns pais e recuaram. Tem gente que só pensa em deixar os filhos aqui e ir embora, não se importa com as condições de ensino – diz a professora de matemática Márcia Rosa, que não aderiu à greve, mas apoia a manifestação dos alunos.
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Pai de alunas do 5º e do 6º ano, Dagoberto Grandi não levou as filhas à aula, mas foi ao local para intermediar a conversa entre os alunos acampados, liderados pelo Grêmio Estudantil, e outros pais e professores. Ele acredita que as motivações dos estudantes, que pedem melhorias na estrutura deveras debilitada do prédio – com problemas no telhado e na rede elétrica que provocam alagamentos e choques em dias chuvosos – são legítimas.
– Apoio os dois lados. Eles estão revindicando pelo bem das minhas filhas também – defende o aposentado.
Por volta das 10h, quem chegava em frente à escola, na Rua General Auto, deparava com faixas e cartazes contra o governo Sartori e um portão fechado com corrente e cadeado. Do lado de dentro do prédio, o saguão exigia atenção de quem chegava para não pisar sobre os colchonetes, cobertores e mochilas que, somados a duas barracas e um quebra-cabeças de 1,5 mil peças, tomavam conta do saguão. Alguns estudantes aguardavam por definições sentados no pátio da escola.
– Vamos ficar aqui até que as nossas reivindicações sejam atendidas. Alguns pais não entendem, porque acham que isso é responsabilidade da direção da escola, mas esses problemas existem há muito tempo e o colégio não recebe o repasse de verbas do Estado há meses – diz o presidente do Grêmio Estudantil, Sergio Campos, 17 anos.
Direção e professores estão divididos sobre o protesto dos alunos. Enquanto alguns docentes apoiam a ocupação, colaborando com doações de mantimentos e se dispondo a pernoitar no local, a direção quer que as aulas sejam retomadas o mais rápido possível.
– A gente apoia a luta dos alunos, mas queremos que eles permitam a entrada de quem quer ter e dar aula também – explica a vice-diretora do turno da tarde, Rudiléia Neves.
Os estudantes não têm previsão para desocupar a escola. Durante o acampamento, devem organizar atividades como oficinas e aulas temáticas para a comunidade escolar.
Até o fim da manhã desta segunda-feira, professores e alunos podiam entrar na escola mediante identificação.