A origem dos brasileiros é uma mistura de descendências africanas, europeias e indígenas. A miscigenação está no nosso DNA. E esse misto de raças, cores e culturas aparece de norte a sul do país, fruto da variada colonização. Mesmo o mais branco brasileiro pode ter traços negros, e vice-versa. É o que mostra o mais completo estudo sobre o genoma nacional já realizado, que pôde traçar em detalhes a contribuição genética dos povos de outros continentes no sangue do brasileiro.
Cientistas apontam novas hipóteses para o primeiro descobrimento das Américas
Liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base no banco de dados do Projeto Estratégico do Ministério da Saúde EPIGEN-Brasil, a pesquisa - publicada no final de junho na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) - tornou possível traçar nossa origem, desde as raízes na Europa e na África até os processos de miscigenação ocorridos nos cinco séculos desde o descobrimento do país.
Realizado em três cidades de diferentes regiões brasileiras, o projeto encontrou esperadas ligações africanas no DNA de quase 6,5 mil voluntários, com incidências que variam de 6,6% em Pelotas a 50,5% em Salvador, na Bahia. Enquanto no Sul do país o genoma indica origem predominante da Europa (em uma região ampla que se estende até o Oriente Médio), resultado, entre outros, da imigração germânica e italiana, mesmo no Nordeste essa ancestralidade chega a 42,4%.
- Como a população brasileira é toda miscigenada, ao longo do tempo foi se formando no nosso genoma um mosaico de partes herdadas de diferentes etnias. Todos somos, em parte, africanos, europeus e ameríndios. Os níveis é que variam - define a pesquisadora Maíra Ribeiro Rodrigues, integrante do projeto que está na Bélgica cursando o pós-doutorado em bioinformática.
Descobrir o passado para preparar o futuro
O estudo destrincha a história de uma migração que também foi intercontinental, mas diferente, e muito posterior, à que resultou na chegada dos primeiros americanos ao continente. Tanto que, entre os voluntários, a ancestralidade indígena fica apenas em torno de 6% nas regiões analisadas. Essa marca dos nativos americanos pode ser muito maior, por exemplo, nas populações do Norte do país, que não foram estudadas.
- É preciso replicar esses achados em outros lugares para ter uma análise mais aprofundada, mas os dados que obtivemos até agora podem ser úteis nos campos da história e da saúde, entre outros - explica o docente do Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Bernardo Horta.
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Os cientistas envolvidos apontam que essa contribuição para o passado, na forma de reconstrução de fluxos migratórios e processos e miscigenação no país, também pode ajudar no futuro de áreas como a medicina, ampliando o conhecimento das populações sobre a própria saúde e dados como a ocorrência de doenças crônicas a partir da ancestralidade.
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* Zero Hora