Já pensou em ser um onironauta? Para quem não imagina o que esse termo significa, é o sujeito que mergulha na proposta de ter sonhos lúcidos, um navegador do sonhos.
Embora a ideia de ficar consciente enquanto se dorme possa parecer estranha, um grupo de três escritores e cineastas americanos defende a ideia de que alcançar a lucidez não é apenas uma aventura fascinante, mas um método eficaz de encarar a cura, inspiração e autoconhecimento.
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No livro Sonhos Lúcidos - Um guia para dominar a arte de controlar seus sonhos, Dylan Tuccillo, Jared Zeizel e Thomas Peisel apresentam técnicas para explorar o subconsciente e garantem que a habilidade de sonhar pode ser lapidada. Segundo eles, tudo é uma questão de prática.
Enquanto dormimos, o corpo físicamente permanece desligado, mas a mente mantém-se ativa. Os neurônios motores param de receber estímulos em um processo chamado atonia do sono, quando os músculos ficam dormentes. Só o diafragma e os olhos mantêm sua atividade. Esses últimos, aliás, são os responsáveis por fazer a ponte entre o sonho e o mundo real, em um movimento denominado Rapid Eye Moviment (REM).
Os autores entendem os sonhos como um terreno fértil a ser explorado, quase como "o país das maravilhas das pessoas criativas". Segundo eles, ao ter consciência durante esse fenômeno, você poderia explorar fontes incríveis de conhecimento e inspiração.
Mais de meio século antes, Freud já havia dito em sua obra A Interpretação dos Sonhos que eles são formas de realização de desejos, origem de conflitos reprimidos e desejos acumulados ao longo da vida. A grande questão que mobiliza cientistas e pesquisadores é dizer por onde caminha a humanidade durante as duas horas, em média, sonhadas todas as noites.
Já houve um tempo em que o sonho era tratado como distúrbio de ordem psicológica ou má digestão. Até que Freud o retirou da escuridão, abrindo caminho para que seu discípulo Carl Jung aprofundasse a questão, tornando-se um dos grandes estudiosos do tema na humanidade.
Os primeiros registros científicos do sonho foram em 1950, na Universidade de Chicago, quando Eugene Aserensky usou eletrodos para monitorar o sono do filho e registrou momentos em que o cérebro do menino ficava desperto. Na época, ele atribuiu a diferença a um erro na máquina.
Terreno a ser conquistado
As pessoas já estão se dando conta de que precisam dormir. Falta descobrir que é preciso sonhar. Como um computador que passa por backups eventuais para colocar as informações em ordem, nosso cérebro usa o sonho como uma espécie de faxina mental, para limpar a memória dos excessos cometidos enquanto estamos acordados.
Resultado daquilo que deixamos para trás durante o dia, o sonho orquestra os medos e desejos mais íntimos e os apresenta como uma sinfonia do inconsciente - nem sempre muito afinada. Sem esse recurso, não fixamos as memórias, explica o psicanalista Mario Corso.
- Eles são ótimos para quebrar o discurso óbvio. O sonho é ultra egoísta. Somos sempre a figura principal. A fantasia diurna se aproxima do sonho. As pessoas são agressivas e eróticas. Sonhos são parecidos com devaneios, falam muito sobre nós, de um jeito que não somos capazes de falar - afirma.
A falta desse "sono dos sonhos" causa prejuízo. Se a gente dorme cinco horas por noite, explica o neurologista Alan Christmann Fröhlich, a quantidade de sono profundo fica inalterada, mas a quantidade de sonhos diminui muito. Não sonhar traz prejuízos cognitivos, só ainda não se sabe porquê, explica o médico. É comum que as pessoas encontrem nos sonhos a resolução de problemas. Foi o que ocorreu com o Paul McCartney, que sonhou com a melodia de Yesterday.
- Sonhar é como um filme que a gente cria dormindo. Poderíamos descobrir muitas coisas interessantes se observássemos mais - diz Mario Corso.