Cunhado nos anos 1970, o termo desescolarização refere-se à valorização dos espaços e das oportunidades educacionais fora do ambiente escolar. Segundo os adeptos, a aquisição de conhecimento pode ocorrer não só em casa, mas no bairro, na interação com a comunidade, na internet ou em qualquer ambiente. Já a educação domiciliar é quando o estudante não frequenta escolas formais. Todo o aprendizado se dá em casa, sob a orientação e supervisão dos pais, a partir de um currículo preestabelecido, semelhante ao adotado nas escolas.
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Nas entrevistas a seguir, duas opiniões, uma a favor e uma contra esses modelos de educação.
Para Ricardo Dias, Presidente da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), o modelo gera adultos autoconfiantes:
Como funciona a educação domiciliar?
A sociedade se dividiu assim: a escola cuida da educação acadêmica dos filhos, e a família ensina crenças e costumes - embora hoje a família tenha repassado tudo isso à escola. A família, de forma geral, abandonou o filho na escola, esperando que ela desse conta de toda essa formação. Na educação domiciliar, a parte da educação acadêmica, que formalmente ficou a cargo da escola, é reassumida pelos pais.
Quais as vantagens?
A educação domiciliar gera autonomia e autodidatismo, gera gosto pelos estudos e prazer no aprendizado, gera adultos autoconfiantes, valoriza o questionamento, a busca do conhecimento e a pesquisa.
O ambiente é livre de bullying. O indivíduo pode errar sem medo de ser excluído. O modelo trabalha melhor o ritmo e o estilo de aprendizado de cada um - alguns são mais auditivos, outros mais visuais, por exemplo.
E as desvantagens?
É difícil, para mim, enxergar alguma. O MEC fala da escola como um local de aprendizado lúdico. Essa escola que o MEC diz não existe. Se existisse, meu filho estaria lá. O dia em que a escola estiver em outro patamar, eu poderia dizer "achei alguma coisa aqui". Hoje, não encontro.
Como os pais lidam com as dificuldades de ensinar os filhos em tantos conteúdos diferentes?
Um pai chega para mim e pergunta: "Ricardo, eu não lembro a fórmula de Bhaskara, não sei acentuação gráfica. Como vou ensinar meu filho?". Respondo que educação domiciliar não significa ensinar conteúdo. É ensinar o menino a aprender, pesquisar, raciocinar, buscar conhecimento. A gente vai estudar com ele. E ele vai descobrir que o aprendizado é um processo natural. Nós ensinamos os nossos filhos a aprenderem. Isso leva ao autodidatismo. A educação domiciliar gera autonomia.
Para Jô Forlan, pesquisador em Neurociência do Comportamento, a educação domiciliar leva a uma sociedade egoísta:
A educação domiciliar pode ser alternativa à escola?
Não recomendo. Pode ser solução interessante em casos especiais, onde existe a incapacidade de presença física em uma sala de aula. Na maioria dos casos, os pais têm excelente formação e estão dispostos a abrir mão de parte de suas vidas para dedicá-las aos filhos. Acho isso louvável. Porém, até onde esses pais irão com isso? Com medo de expor os filhos, vão montar uma empresa para eles? Vão deixá-los em casa com GPS no corpo, óculos que transmitam todas as informações online? Será que o grande enrosco não está exatamente nos quartos com portas fechadas e uma máquina aberta para o mundo? Sem controle, identificação, responsabilização, afinal, o bullying ocorre também no mundo virtual. Não há como garantir proteção para os filhos. Mas existe, sim, o poder de criar filhos com valores e exemplos construtivos, em vez de tentar isolá-los dos riscos do mundo.
Quais são os pontos fracos?
Isolamento, baixa capacidade de socialização, interação humana restrita, falta de desenvolvimento de espírito de equipe, baixa capacidade de resolução dos conflitos devido à pobreza de experiências interpessoais. A escola não tem por objetivo apenas o aprendizado de conteúdo acadêmico. O nível de autoconfiança é baseado em fatos reais e não em uma educação que tende a reforçar egos de crianças.
O que você acha da desescolarização?
Um caminho perigoso, que geraria uma sociedade egoísta, individualista, com baixo nível de aprendizagem. Esse modelo poderá comprometer o maior capital, o humano. Sou defensor da educação a distância, mas ela deve ser usada a partir dos 15 ou 16 anos. Nas mãos de quem já desenvolveu a inteligência relacional e comportamental, a tecnologia online ajuda a otimizar o tempo e a ser mais produtivo.