Celebrado por pesquisadores como um dos instrumentos mais úteis à ciência, o telescópio Hubble completa, nesta sexta, 25 anos em órbita espacial. Em seu aniversário, segue dando presentes - imagens que mostram o nascimento de estrelas, revelam galáxias escondidas e dão pistas sobre os mistérios da origem do universo.
O Hubble, um projeto conjunto das agências espaciais americana (Nasa) e europeia (ESA), foi lançado para fora da Terra em 24 de abril de 1990, com a proposta de ultrapassar a atmosfera - que funcionava como um véu, impedindo os astrônomos de ter uma observação nítida do que acontecia nas galáxias mais distantes.
- Passamos a enxergar um novo universo, muito mais detalhado. Antes, era como se o céu fosse um borrão - diz a professora Thaisa Storchi Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), astrofísica que estuda os buracos negros.
Técnico do Laboratório de Astronomia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Marcelo Bruckmann faz uma analogia:
- Imagine olhar para uma paisagem bonita, num dia de sol, usando óculos escuros.
Nem sempre foi assim. Três semanas depois de ser colocado em órbita, a bordo da nave Curiosity, o telescópio frustrou os cientistas: o espelho principal do aparelho apresentou um problema de foco e as imagens enviadas se mostraram míopes. Foi preciso enviar uma missão tripulada para manutenção, que corrigiu o erro e permitiu que o Hubble começasse a enviar verdadeiras obras de arte do espaço.
Em vídeo, estudantes falam sobre o fascínio pelo Hubble:
Imagens: Fernando Gomes
Telescópio registrou imagens surpreendentes do universo
Foram essas fotografias que, povoando o imaginário de um guri do Interior, nascido no mesmo ano do lançamento do Hubble, reforçaram no estudante Rafael Eberhardt o desejo de seguir a carreira científica. Viajava com a família de uma cidade a outra e se intrigava com o fato de a lua permanecer no mesmo lugar. Com a imensidão do céu limpo de Itati, onde morava, deitar para ver as estrelas era um hobby.
- Como eu não tinha muito acesso a documentários, as fotografias do Hubble que apareciam na televisão me encantavam. Não existe nada mais bonito que uma imagem astronômica - afirma o jovem, que cursa Física na UFRGS.
Para o estudante de física, que nasceu no mesmo ano que o Hubble, as fotografias registradas pelo telescópio o encantam desde criança. Foto: Fernando Gomes.
Se for para eleger uma, Rafael escolhe o registro do interior da Nebulosa de Águia, um aglomerado estelar da constelação de Serpente. A fotografia feita pelo Hubble em 1995 sugere que a formação de estrelas alcançou seu ponto máximo há cerca de um milhão de anos.
É apenas um dos exemplos das descobertas propiciadas pelo instrumento ao longo dos anos. Também em 1995, o telescópio apontou para uma região onde aparentemente não havia nada - só escuridão. Depois de 10 dias deixando passar luz pelo obturador da câmera, a surpresa: existiam ali mais de 3 mil galáxias jovens. O achado se tornou um marco no estudo do começo do universo.
- São resultados grandiosos. Em qualquer artigo científico meu, há uma imagem do Hubble - conta outro contemporâneo do telescópio, o doutorando em Física Astor Schönnel Júnior, 25 anos.
Imagens captadas pelo Hubble facilitaram a divulgação da astronomia, segundo o doutorando em Física Astor Schönnel Júnior, também contemporâneo do telescópio. Foto: Fernando Gomes.
Os buracos negros supermassivos, foco de suas pesquisas, são estruturas formadas por estrelas, pequenos planetas, nuvens de gás e outros elementos que foram "sugados" pelo seu extremo campo gravitacional, desde o Big Bang até hoje. Por isso, estudá-los seria uma forma de entender a gravidade, fundamental para a vida humana na Terra.
Afora isso, o imaginário do Sistema Solar, antes disponível só nos livros didáticos, com o telescópio ganham outra dimensão. As câmeras do Hubble registraram, por exemplo, quatro luas de Plutão até então desconhecidas, entre outros aspectos antes obscuros de planetas como esse e Saturno.
Confira as imagens que o Hubble já mostrou: