CORREÇÃO: foram alunos da Furg que promoveram a atividade, e não a universidade, como estava nesta reportagem entre as 13h23min e as 14h36min. O texto já foi corrigido.
Um grupo de alunos veteranos da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) promoveu uma atividade com pessoas nuas na acolhida aos calouros do curso de Artes Visuais. Um vídeo registrou o momento, ocorrido na sexta-feira (8), e que acabou viralizando nas redes sociais.
Nas imagens, é possível ver quatro jovens nus e com óculos escuros, sentados em volta de uma mesa. A performance durou uma hora e 30 minutos.
Os responsáveis pela atividade alegam que a manifestação artística promovida "nos convida a questionar e reavaliar nossas noções pré-concebidas sobre arte, valor e nudez, abrindo caminhos para um entendimento mais profundo e inclusivo do que a arte pode ser e representar".
Em nota, a reitoria da Furg afirma que manifesta "apoio irrestrito à atividade organizada". A instituição acrescentou que "a performance em questão atende todos os preceitos técnicos e conceituais das artes visuais e foi autorizada e acompanhada pela Direção do Instituto de Letras e Artes e pela Coordenação do Curso de Artes Visuais".
A coordenação do curso de Artes Visuais sustentou que "não vê nenhum problema na ação". "A performance ocorreu no Átrio – espaço expositivo – do Prédio das Artes e as cenas de nudez, que estão sendo veiculadas, não tiveram qualquer conotação erótica e/ou sexual, simplesmente corpos nus", avalia. Ainda conforme a coordenação, não havia presença de crianças no local, e se houvesse a classificação indicativa seria livre.
"Conforme matéria publicada em 31/05/2022 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública acerca da legislação vigente para espetáculos e filmes no país, a classificação indicativa, nesta situação, seria LIVRE", observa a coordenação do curso.
A Furg informou que a atividade era livre para qualquer pessoa participar, mas que não aconteceu em espaços de uso comum, e sim "em um ambiente especialmente concebido para mostras e exposições". Os participantes estavam cientes da performance, pontua a Furg.
"Este episódio demonstra o quanto a sociedade brasileira ainda carece de uma compreensão mais acurada sobre a diversidade de manifestações artísticas e o conceito de civilidade, ambos apoiados no respeito e não em julgamentos morais distorcidos", diz a instituição.
Na tarde de segunda-feira (18), o presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), republicou as imagens e falou em "tomar medidas".
Nota da reitoria da Furg
A Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande – Furg vem a público manifestar o seu apoio irrestrito à atividade organizada pelo curso de Artes Visuais que viralizou em redes sociais nesta semana. Ainda que a performance não estivesse formalmente registrada no Programa Acolhida Cidadã, os cursos têm plena autonomia para promover atividades em suas áreas de atuação, incluindo a recepção de calouros(as).
As Artes Visuais formam um campo do conhecimento milenar com subáreas, técnicas e metodologias próprias que precisam ser respeitadas. A performance em questão atende todos os preceitos técnicos e conceituais das artes visuais e foi autorizada e acompanhada pela Direção do Instituto de Letras e Artes e pela Coordenação do Curso de Artes Visuais.
Lamentamos e repudiamos os comentários preconceituosos e desrespeitosos ao campo das Artes Visuais e à Furg que foram proferidos nas redes sociais. Este episódio demonstra o quanto a sociedade brasileira ainda carece de uma compreensão mais acurada sobre a diversidade de manifestações artísticas e o conceito de civilidade, ambos apoiados no respeito e não em julgamentos morais distorcidos.
Dos processos civilizatórios a educação pela arte é sem dúvida um dos mais importantes contributos para a realidade brasileira. Na História da Arte, da antiguidade ao contemporâneo, se encontram infinitos exemplos a fim de fazer emergir as importantes contribuições aos sujeitos na compreensão de uma estética em que o corpo tem um papel político central. Negar-se a essas possibilidades é embrutecer-se, é voltar a barbárie, ou seja, é atirar-se em um movimento anti-civilizatório.
Os comentários depreciativos proferidos a uma performance artística realizados em nossa instituição revelam que há uma crise estrutural civilizatória, seja por desconhecimento/ignorância do que seja arte, ou por negar a ela o seu campo político, que se fundamenta num território estético de experiências corporais. Neste sentido, entendemos que um pacto por uma cidadania civilizatória precisa da arte como fundamento ético e estético, como força viva para barrar estratégias que capturam corpos como forma de opressão, repressão e disciplinamento.
À universidade, no Brasil e em todas as nações democraticamente constituídas, cabe o uso da arte como experimentação e produção de múltiplos saberes, pois a arte ilumina e possibilita a construção de pessoas/sujeitos críticos e participativos, um dos pilares da educação superior. Fora da arte (ou contra ela) não há processo civilizatório.
O exercício da autonomia universitária constitucional será sempre defendido pela Furg e o respeito às diferentes áreas de conhecimento é um premissa fundamental para esta defesa.
Nota da coordenação dos Cursos de Artes Visuais
A Coordenação dos Cursos de Artes Visuais informa à comunidade universitária e aos interessados que, na última sexta-feira (8), aconteceu uma performance artística idealizada e executada por estudantes que integrou a programação da Acolhida Cidadã organizada pelo Diretório Acadêmico.
A performance ocorreu no Átrio - espaço expositivo - do Prédio das Artes e as cenas de nudez, que estão sendo veiculadas, não tiveram qualquer conotação erótica e/ou sexual, simplesmente corpos nus. No momento da performance não havia presença de crianças no local; ainda que houvesse, conforme matéria publicada em 31/05/2022 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública acerca da legislação vigente para espetáculos e filmes no país a classificação indicativa, nesta situação, seria LIVRE, segue:
{{ Livre: é possível a presença de armas sem violência, morte não violentas, ou violência fantasiosa, como acontece em desenhos animados. Tratando-se de nudez, são permitidas cenas não erotizadas. Por fim, pode ser exibido consumo moderado ou insinuado de droga lícita. }}.
O Curso de Artes Visuais incentiva as práticas artísticas em performance, e não vê nenhum problema na ação realizada. Tivemos, de 2011 a 2015, cinco edições da Mostra de Performance RUÍDO-GESTO e, em dezembro de 2023, a Mostra de Performance CORPO EM AÇÃO no mesmo local. Para 2024 está prevista a realização de uma nova mostra.