Nos dias 2 e 9 de março de 2024, os últimos alunos de cursos de graduação do Centro Universitário Metodista – IPA irão se formar. No momento, os 95 estudantes remanescentes estão cursando as disciplinas que faltavam e se preparando para as formaturas. No dia 7 de agosto, o IPA anunciou uma “reestruturação profunda”, informando a descontinuação de turmas consideradas deficitárias. Assim, restaram somente os estudantes que estavam começando o último semestre.
Alguns deles vão participar da solenidade pública, e outros farão colação de grau em gabinete. Segundo alunas que conversaram com GZH, as turmas têm enfrentado desafios, como a falta de professores.
— Salvo exceções, a grande maioria dos professores se demitiu. No meu curso, estamos só com o coordenador e mais uma professora. Eles pegaram professores de outras áreas para serem nossos orientadores, só que eles não estão orientando ninguém, todos os alunos estão reclamando. Ontem a professora me mandou mensagem dizendo que era minha orientadora, mas ela nem sabia o tema do meu trabalho, e minha banca seria em dezembro — conta Rafaela Campana de Azevedo, 22 anos, formanda da Fisioterapia.
A aluna está no último semestre e relata que está tendo dificuldade que fazer o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sozinha. Além disso, a turma dela ficou sem as aulas da última disciplina de monografia, que seria neste semestre, mas não tem professor, de acordo com ela.
— Continuamos pagando, mas não está tendo aula. Está todo mundo bem abalado com essa situação, estamos aqui na garra. Foi uma confusão até para conseguirmos gente para abrir os portões do IPA no dia da prova de toga, porque não tinha funcionários. Os professores que restaram estão nos ajudando, no meio desse caos — afirma Rafaela, que fez todo o curso de graduação na instituição.
Além da Fisioterapia, estudantes dos cursos de Direito, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Nutrição e Psicologia também foram afetados pela reestruturação.
No caso do Direito, os alunos estão tendo mais amparo, segundo a formanda Maira Aguiar, 40 anos. Ela teve orientação no TCC, que já concluiu, e está com banca e colação de grau agendadas.
— A reestruturação nos causou bastante preocupação. Sabemos que é um momento crítico para o IPA, a situação fugiu do controle. Mas acredito que eles vão honrar com o compromisso e teremos a formatura conforme o previsto — diz a estudante do último semestre de Direito.
É claro que esses alunos estão carregando um sentimento diferente, porque a instituição em que estão se formando não vai ofertar o curso deles no ano que vem.
VERA ELAINE MARQUES MACIEL
Reitora do IPA
A maior preocupação de Maira é com o diploma:
— Ficamos na expectativa de que dê tudo certo em março, que saia o diploma dentro do prazo. Na turma do Direito, pelo menos, percebemos muito comprometimento e acompanhamento dos professores, um suporte que o IPA não está nos dando. Mas esse amparo dos professores está sendo muito importante.
Diplomas vão sair dentro do prazo, garante reitora
Segundo a reitora do IPA, Vera Elaine Marques Maciel, os professores e gestores fizeram uma força-tarefa para viabilizar a conclusão da formação desses alunos, e as formaturas serão realizadas em março, conforme o cronograma, e os diplomas vão sair dentro do prazo.
— A formatura é um rito de passagem, o encerramento de um ciclo. É claro que esses alunos estão carregando um sentimento diferente, porque a instituição em que estão se formando não vai ofertar o curso deles no ano que vem, e foi uma ruptura que tiveram com outros semestres. Mas estamos aqui os acolhendo e preparando esses eventos da melhor maneira possível, dentro das circunstâncias — afirma a gestora.
Continuamos pagando, mas não está tendo aula. Está todo mundo bem abalado com essa situação.
RAFAELA CAMPANA DE AZEVEDO
Formanda da Fisioterapia
A instituição de ensino teve que ofertar novas aulas, uma vez que alguns alunos tinham disciplinas pendentes e várias turmas foram suprimidas no início do semestre. Com as mudanças anunciadas em agosto, quase 300 estudantes foram transferidos para outras universidades, o que representa 70% do corpo discente. Além disso, o IPA passou a manter contrato de uma hora semanal com os professores.
A instituição, que tem como mantenedora a Rede Metodista, está em recuperação judicial desde o ano passado. O endividamento é de R$ 576 milhões, com 11.120 credores. A maior parte é formada por créditos trabalhistas, que somam quase R$ 400 milhões devidos a 10 mil pessoas.
No ano que vem, o IPA não terá cursos de graduação, mas deve ofertar “serviços na área da educação” à comunidade, de acordo com a reitora:
— Estamos estudando o mercado e desenvolvendo parcerias interessantes. Queremos fazer uma reinauguração em 2024, para que o IPA comece a página 101 de sua vida — diz a reitora da instituição centenária.