Quem passou pelo Campus Centro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em um momento da manhã desta segunda-feira (20) escutou palavras de ordem como "as cotas abrem portas!" e "povo negro unido, povo negro forte!". Isso porque neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, cerca de 300 pessoas se reuniram no Salão de Atos da instituição para fazer a tradicional foto coletiva.
Desta vez, quase não coube todo mundo no palco; o registro contou com ainda mais pessoas do que no ano anterior. Realizada desde 2017, a ação já virou tradição no mês de novembro. A foto busca reforçar a identidade do povo negro dentro da instituição de ensino. Neste ano, estudantes, professores, técnicos-administrativos, servidores, funcionários e alunos do Colégio de Aplicação da UFRGS participaram da mobilização.
— A ideia era fazer com que a UFRGS tivesse uma identidade negra, que a gente pudesse se ver. Nós vemos que existem pessoas negras transitando dentro da universidade, e essa foto mostra a identidade que a gente quer, representado as pautas e lutas que o movimento negro vem travando dentro e fora da universidade — destaca Tamyres Figueira, coordenadora-adjunta do Núcleo de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), e coordenadora-geral do Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da UFRGS, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Assufrgs).
A concentração da atividade começou por volta das 12h. Antes da foto, foram realizadas intervenções artísticas no palco, além da fala de Tamyres, responsável por coordenar a ação junto com o jornalista Wagner Machado.
— A foto é um registro de anos de luta do movimento negro, para que a gente pudesse se enxergar na universidade. Quando a gente se encontra e se olha, isso acaba refletindo o caráter da universidade que a gente quer, com mais rostos negros, mais pessoas da periferia — afirma o estudante do 4º semestre de Letras, Alejandro Guerrero. O aluno de 23 anos participou da foto pela segunda vez.
Na ocasião, os alunos, funcionários e docentes também gritaram “Oliveira Silveira presente, hoje e sempre!”, em alusão ao poeta e pesquisador. Neste ano, a programação do Novembro Negro da UFRGS é especial, com diversas homenagens a Oliveira Silveira, que se formou pelo Instituto de Letras em 1966. Nesta segunda-feira (20), foi entregue à filha do poeta, Naiara Oliveira, o título de Doutor Honoris Causa in memoriam a Oliveira Silveira.
Outro motivo de comemoração citado pelos alunos é a recente aprovação da atualização da Lei de Cotas, na semana passada. A nova legislação prevê mudanças, como no ingresso de cotistas ao Ensino Superior federal, a redução da renda familiar para reservas de vagas e a inclusão de estudantes quilombolas como beneficiários das cotas. O texto também determina a extensão das políticas afirmativas para a pós-graduação.
A programação do Novembro Negro na UFRGS segue até dia 16 de dezembro, com eventos como palestras, rodas de conversa, cursos e oficinas, além da exibição de filmes e documentários. As atividades são gratuitas e a programação completa pode ser acessada aqui.