Fui escolhendo pela tela: batatas fritas, hamburguer e refrigerante. Com a ponta do dedo, tocava nas imagens até que veio a conta: 495,00. Assustado, olhei para o lado a procura de um atendente. O sistema estava errado. Impossível um lanche custar tanto. Foi então que me dei conta: eu estava no Uruguai e não mais em Santana do Livramento, onde alguns minutos antes terminara de mediar o terceiro debate do Movimento pela Educação, uma iniciativa da presidência da Assembleia Legislativa. Os 495,00 eram pesos e não reais. Convertendo, não é exatamente barato: R$ 62, mas é bem melhor do que a facada inicial.
No começo daquela manhã, no palco da Unipampa, três especialistas debateram sobre temas de grande relevância. Entre eles, o desafio de ser professor, o dilema da participação das famílias no ambiente escolar e a relevância das realidades regionais na hora de definir os currículos – assunto que mais me mobilizou naquela manhã gelada na fronteira.
Aprendi muito com a gerente da área de educação do Sesi/RS, Sônia Bier, com a professora da Urcamp Lúcia Quevedo e com a doutora em Desenvolvimento Rural e professora da Unipampa, Alessandra Troian. Lá pelas tantas desafie-as a propor, cada uma, um projeto que seria transformado, simbolicamente, em lei. O presidente da Assembleia, deputado Vilmar Zanchin, foi o primeiro a concordar, por exemplo, com a ideia de apostar mais na formação dos professores.
Depois veio a bela palestra do Ronald Krummenauer, ex-secretário de Educação do RS, CEO do Hub Transforma RS e membro do Pacto pela Educação.
De volta à lanchonete, me lembrei imediatamente das reflexões sobre como o Rio Grande do Sul e o Brasil têm realidades locais diferentes e como isso é pouco considerado, dadas as características centralizadoras de todo o sistema.
Eu cruzara a fronteira, levado de carona, sem me dar conta. É natural para quem vive e trabalha naquela região, onde as pessoas respondem a um “muito obrigado” com um caloroso e correto “merece”. Eu, nascido e criado em Porto Alegre, não sabia. Então, pensei: não podem pessoas que moram tão longe dali determinarem jeitos únicos de ensinar e de aprender, porque as realidades apontam em direções múltiplas.
Paguei meu lanche com cartão, cruzei a fronteira invisível novamente e peguei o ônibus de volta para casa. Livramento não é longe. Porto Alegre sim, é.