Empregos ligados à matemática são mais resilientes em épocas de crise. É o que mostra uma pesquisa conduzida pelo Itaú Social, divulgada nesta segunda-feira (19). O estudo “Contribuição da Matemática para a economia brasileira” revela que a qualidade dos empregos ligados a essa área é muito maior em termos de resiliência às situações de crise do que a de outras profissões não vinculadas a essa disciplina, porque são cargos que demandam mais especialização. As informações são da Agência Brasil.
O levantamento mostra que, durante a pandemia da covid-19, trabalhos intensivos em matemática tiveram queda de 6,8%, enquanto as demais ocupações tiveram retração de 13,1%. Por outro lado, diferentemente do que ocorre em outros países, o Brasil emprega um número baixo de pessoas ligadas às profissões vinculadas à matemática, conforme o estudo.
— A gente vê o quanto o emprego reage e a proporção de empregos se mantém estável, mesmo em momentos de crise: o grau de formalidade desses empregos e o nível salarial são mais altos do que a média dos empregos brasileiros, mesmo quando considerados entre as pessoas que têm ensino superior completo — disse à Agência Brasil a gerente de Avaliação e Prospecção do Itaú Social, Fernanda Seidel.
Especialistas ouvidos por GZH no ano passado já destacaram as consequências da falta de uma base sólida em matemática para os profissionais no mercado de trabalho. Quase 96% dos estudantes gaúchos de 3º ano do Ensino Médio foram avaliados com conhecimentos insuficientes na disciplina, de acordo com os resultados do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do RS (Saers) 2022.
O levantamento do Itaú Social utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) para investigar o número de trabalhadores e suas remunerações associadas às atividades relacionadas à matemática. O cálculo da contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) foi considerado a partir da soma de todos os rendimentos do trabalho no país provenientes de ocupações que demandam maior intensidade de capacidades matemáticas.
Política de desenvolvimento
No Brasil, as ocupações ligadas à matemática estão mais concentradas nas áreas de serviços administrativos e de tecnologia da informação do que em áreas mais tradicionalmente ligadas à inovação e desenvolvimento tecnológico, como engenharia e pesquisa, como ocorre nos países europeus. A pesquisa demonstra a importância de haver mais profissionais dessa área no mercado de trabalho brasileiro, como política pública de desenvolvimento.
As ocupações ligadas à matemática oferecem salários 119% superiores à média dos demais trabalhadores. No terceiro trimestre do ano passado, por exemplo, a média salarial deles foi R$ 3.520, o que significa mais que o dobro da média das demais categorias (R$ 1.607) no período.
Embora a proporção dos trabalhadores ligados à matemática tenha se mantido entre 7% e 8% no total de pessoas empregadas de 2012 a 2022, o crescimento desses profissionais no período de 10 anos foi superior ao do mercado de trabalho total, com taxa média anual de 1,98%, em comparação ao percentual dos ocupados em geral (0,99%).
A pesquisa mostra ainda que a maioria dos trabalhadores relacionados à matemática se concentra nas regiões Sudeste e Sul. Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná abrigam mais da metade desses profissionais no país.
Contraste social
O estudo também aponta que os trabalhos vinculados à matemática demonstram as desigualdades observadas na aprendizagem da disciplina desde a educação básica, em especial entre meninas e pessoas negras, que apresentam desempenho bem mais baixo que meninos brancos.
A pesquisa demonstra a predominância de trabalhadores formais entre as ocupações ligadas à matemática, que correspondem a 84% do total, contra a média da economia brasileira, que registra cerca de 67% de trabalhadores neste mercado formal. Mas essas profissões têm participação maior de pessoas brancas (66%) e de homens (69%) do que a média das demais atividades no país. Entre trabalhadores da área, 62% têm Ensino Superior completo.