O sonho de voltar a usar prédios que foram interditados em 2018 parece distante para estudantes de uma escola de Gravataí, na Região Metropolitana. A instituição é a Escola Estadual de Ensino Médio Tuiuti, que tem mais de 80 anos.
No início de 2022, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) deu início às obras em três dos quatro pavilhões do colégio, com previsão de concluir os trabalhos até a metade do ano. Entretanto, mais de 12 meses depois, pendências impedem o uso dos espaços. Isso, a poucos dias do início das aulas na rede estadual, previsto para 23 de fevereiro.
A diretora Geovana Rosa Affeldt, no comando da instituição desde 2015, lamenta o fato. Segundo ela, a demora impede a retomada de turmas que o colégio atendia antes das reformas. No final de janeiro, Geovana encaminhou um ofício para a Seduc detalhando as necessidades da Tuiuti, e solicitando abertura de seis novas turmas, entre anos iniciais e Ensino Médio.
A professora recorda que com a demora nas obras, a oferta de vagas foi sendo reduzida pela Seduc, com turmas fechadas. Agora, com os trabalhos praticamente prontos, pais têm procurado a instituição para matricular os filhos, mas sem a certeza de que irão conseguir.
— Há condições de oferecer as vagas e a comunidade tem nos procurado pela proximidade com a escola, por já terem outros filhos aqui e também pela qualidade tradicionalmente oferecida pela instituição — defende Geovana.
Dos três prédios em obras, um está pronto e já pode receber alunos, segundo a diretora. É para este espaço que a comunidade luta pela abertura de turmas. Nos outros dois pavilhões, é necessário instalar novos telhados e construir banheiros acessíveis em um deles. Estes detalhes geraram contratos aditivos, pois não estavam previstos na obra inicial. Isso fez com que os trabalhos parassem. Agora, o aumento no número de alunos depende da liberação da Seduc, que também é quem precisa dar autorização para que a reforma prossiga.
Indignação
Para quem mora próximo da escola, que deveria ofertar turmas desde os primeiros anos do Ensino Fundamental até o Ensino Médio, não conseguir vagas gera decepção e indignação. São vários casos de famílias que têm um dos filhos na escola e acabam tendo de matricular os demais em instituições diferentes e, em boa parte, bem mais distantes.
A comerciária Luciana dos Santos, 36 anos, tem cinco filhos. O mais velho já estuda na escola. Mas ela tem mais dois pares de gêmeos, com cinco e sete anos. É para estes pequenos que ela tenta conseguir vaga. Luciana mora no bairro Bonsucesso, o mesmo onde está instalada a Tuiuti.
— Moro perto e sou ex-aluna da escola, que é referência no bairro e na cidade. E agora, quero matricular meus gêmeos ali, por ser mais próximo de casa, e a Seduc não deixa. Quem perde é toda a comunidade, porque é uma escola estadual que vai perdendo a força, está sofrendo um desmonte — aponta Luciana.
A situação é semelhante para a secretária Ingridi Daianny Magalhães Dutra, 40 anos. Ela já tem duas filhas que estudam na Tuiuti. Porém, não consegue vaga para a terceira, que tem nove anos e deveria ir para o 4º ano.
— Imagina minha situação, ter duas filhas em uma escola perto de casa e a outra longe de casa. É um absurdo os pais passarem por isso, sendo que tem a escola aqui no bairro — critica Ingridi.
Pais veem promessa sendo descumprida
Antes da interdição dos prédios, a Tuiuti funcionava a pleno, atendendo dos anos iniciais até o fim do Ensino Médio. Com o fechamento de três dos quatro pavilhões, turmas foram sendo realocadas e cortadas. Alunos terminavam o Ensino Fundamental e não tinham direito de permanecer na escola para cursar o Médio.
A promessa era de que isso seria restituído pela Seduc, o que ainda não ocorreu, afetando famílias que já têm parte dos filhos na instituição. É o caso da bombeira civil Marília Silva dos Santos, 40 anos, que tem três filhos que estudam na Tuiuti. E agora tenta matricular outro de sete anos para o 3º ano do Fundamental.
— Quando aconteceu a interdição, tínhamos todas as séries disponíveis. E por eles mesmos demorarem com as obras, foram tirando as séries iniciais, com a promessa de que voltariam. Mas, até agora, não voltaram. Tem mais mães e pais tendo que se dividir com os filhos um em cada escola. Se tiver alguma apresentação junto, como vamos estar nas duas escolas ao mesmo tempo? E como vamos levar e buscar se eles estudam no mesmo horário? É uma situação absurda — indigna-se Marília.
Seduc dá mais três meses de prazo
Em nota, a pasta estadual da Educação informou que "no decorrer da obra foram incluídos novos serviços e orçamentos para complementação e adequação do prédio". E que isso incluiu a construção de banheiros com acessibilidade, manutenção estrutural e pintura de salas de aula. Neste momento, a Seduc afirma que a obra está em fase de aprovação do termo aditivo. Segundo a secretaria, a previsão é de que "as obras sejam retomadas em março e o prazo para conclusão é de até 90 dias após o início dos trabalhos".
Em relação ao processo de abertura de turmas, a Seduc reitera que a reabertura das turmas dos primeiros anos do Ensino Fundamental irá ocorrer de forma gradual. Portanto, em 2023, já há uma nova turma de 1º ano aberta após o início das obras, e os 25 alunos estão matriculados para cursar o atual período letivo. A pasta não informou se os pedidos feitos pela direção da escola serão atendidos e também não respondeu sobre a reabertura da biblioteca da escola ou a contratação de novos professores.