O dia chuvoso em Porto Alegre não afastou os candidatos a uma vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de irem até os locais de aplicação das provas neste domingo (13) para realizar a última das duas etapas do vestibular, iniciado no sábado (12). E apesar do futuro em jogo, a tranquilidade esteve presente entre aqueles que concorriam a uma cadeira na universidade federal. Não houve, por exemplo, atrasados dando de cara nos portões, que abriram às 14h30min e fecharam às 15h.
Letícia Tauceda, por exemplo, estava sentada no coreto da praça que fica em frente ao Colégio Júlio de Castilhos, o famoso Julinho, em Porto Alegre, lendo o livro de poemas Carta Aberta ao Demônio, de Ricardo Silvestrin, enquanto aguardava a liberação para adentrar na instituição de ensino. Ela, que tem 26 anos, quer cursar Música.
— O primeiro dia foi bem tranquilo. Eu acho que fui bem em Português e Redação, que é o que conta bastante para Música. Hoje, o meu foco é o Inglês, que vale 3. Acho que vai ser de boas. O resto, é só não zerar. A densidade de Música é bem baixa, o pior é a prova específica, que eu já passei. Então, estou mais tranquila — relata ela, que já é graduada em Psicologia, também pela UFRGS.
Enquanto Letícia buscava um curso com baixa densidade de concorrentes, Fernanda Ramos, de 21 anos, estava presente o Julinho para tentar uma vaga no curso de Medicina, o mais disputado. Ela, que estava acompanhada do pai, Júlio César Ramos, e do namorado, Jeferson Klos, se disse tranquila para o segundo dia de provas.
— Se eu ficar ansiosa, vai dar ruim — explicou a jovem, que se preparou para a prova fazendo cursinho voltado para Medicina.
Neste segundo dia de vestibular, os testes abordaram as seguintes matérias: Biologia, Física, Geografia, Língua Estrangeira e Química. E é justamente esta última que deixa Fernanda, que está tentando ingressar na universidade pela segunda vez, mais tensa. Porém, ela acredita que a prova da UFRGS é a melhor possível.
— Comparando ao Enem, acho bem melhor, porque a prova da UFRGS é aquilo: é ou não é. Não tem aquela história que o Enem tem, com um texto gigante. É simples e direta — detalha. — E o primeiro dia foi bem tranquilo, porque alguns professores falavam que iria cair tal coisa e realmente caiu.
Já Jeferson Klos, de 23 anos, namorada de Fernanda, estava ali para prestar vestibular pela primeira vez e não está colocando muita expectativa.
— É mais para conhecer, para saber como é que funciona — garante ele, que almeja estudar Direito. — Química é a matéria que realmente me deixa mais preocupado, por ser a mais complexa delas, tem que estar bem atento.
Arthur Raffo, de 20 anos, tenta, pela segunda vez, entrar no curso de Psicologia da UFRGS. E, segundo ele, no primeiro dia, as provas de Português e de Redação “estavam muito fáceis”, mas, a partir da prova de Literatura, a experiência começou a se tornar mais difícil e se atrapalhou com o tempo para finalizar o teste.
— Para hoje, estou mais nervoso com Física, porque teve muita coisa para decorar. E Biologia também, tem um conteúdo muito extenso — detalha, mas garante que está bem preparado, principalmente pelo apoio do cursinho que fez. — Para mim, entrar na UFRGS é um sonho que tento alcançar. Se conseguir, beleza, mas se não conseguir, paciência. Psicologia é um curso muito difícil.
Família por perto
Não faltaram familiares em frente ao Julinho para acompanhar os candidatos que prestavam vestibular neste domingo. Depois do fechamento dos portões, o militar Alessandro Grimaldi, assim como sua esposa Ângela e a filha Bárbara, não foram embora. Eles olhavam para dentro do colégio com atenção, buscando encontrar os rostos de Israel, de 21 anos, e Sara, de 18, filhos do casal que foram tentar Medicina e Psicologia, respectivamente, e dar um último aceno de incentivo.
— Estamos com uma expectativa boa, otimistas. Acreditamos que vai dar tudo certo. Eles estudaram bastante, se dedicaram — comentou o pai, que não arredou o pé da frente da instituição. — Eles entrarem na UFRGS é muito importante. É uma universidade de renome e que vai proporcionar para eles um bom ensino. E, além de tudo, não tem mensalidade, o que é muito importante.
— Até porque Medicina, se tu fosse pagar, seria uma coisa astronômica, absurda — completou Ângela.
Dentro de uma EcoSport estacionada em frente ao Julinho, os quatro ocupantes não foram embora depois dos portões se fecharem, pontualmente às 15h. Na direção, estava Cristiano Machado, gerente administrativo que trouxe a filha Ivi, de 17 anos, para tentar entrar no curso de Design de Produção.
Ele, juntamente com a herdeira e a esposa Cíntia viajaram duas horas e meia, de Santa Cruz do Sul até Porto Alegre, para que a jovem fizesse o vestibular. E encontraram na casa dos amigos Eliane e Roberto Lima, pouso para os dois dias de provas. Todos foram acompanhar a estudante até a porta do local de prova, para dar apoio. Ansiosos, pretendem dar uma volta de carro, mas retornam em breve para esperar a filha sair da prova.
— Ela e nós estamos otimistas. A nossa expectativa é alta. É uma boa universidade e gostaríamos que ela entrasse. Viemos aqui só para isso e esperamos que dê tudo certo — enfatiza o pai de Ivi.
E a mãe Cíntia, apesar de apoiar a filha, está tentando não pensar muito em se separar de Ivi, caso ela seja aprovada para estudar em Porto Alegre.
— Vamos pensar uma parte por vez. Vamos esperar o resultado para decidir o que vamos fazer — diz.
Ao todo, 15.234 candidatos estão inscritos para disputar as 3.980 vagas oferecidas pela UFRGS em 89 opções de curso. A lista de aprovados deve ser divulgada em 25 de fevereiro, conforme o calendário do concurso.
Mesmo rigor
O vice-pró-reitor de Graduação da UFRGS, Leandro Raizer, não descansou neste domingo. Assim como o restante da equipe da administração central da universidade, enfrentou uma logística desafiadora para passar pelos 34 pontos de aplicação das provas, em sete cidades do Estado. E, apesar da correria, ele, que já havia visitado Porto Alegre e Canoas e, no momento, estava em Gravataí, diz que este vestibular está sendo uma vitória.
— Está sendo bastante especial em função de estar sendo realizado durante uma pandemia. Foram inúmeros desafios para a sua realização. E, neste ano, o vestibular completa 50 anos como processo seletivo unificado na UFRGS. Então, são dois fatores que realmente nos trazem uma grande alegria — explica.
De acordo com Raizer, em nenhum dos locais de provas houve alguma situação atípica e todo o processo da aplicação dos testes esteve "dentro do previsto", inclusive, na parte dos cuidados sanitários por conta da covid-19.
— Todos os protocolos sendo respeitados. Os vestibulandos estão de parabéns. Tivemos uma situação bastante tranquila. Conversando com os fiscais e os coordenadores, o retorno tem sido muito positivo. Todos satisfeitos — conta.
E, dentro do cenário pandêmico, com as provas sendo reduzidas, para diminuir a exposição dos candidatos, Raizer comemora que, ao que tudo indica, em 2022 a porcentagem de abstenção deverá ficar dentro da média dos anos anteriores, que, segundo ele, foi de 15%.
— Se isso de fato se consolidar, será uma grande vitória, dadas todas as questões que envolveram e desse grande desafio — relata.
Mesmo com a redução de quatro para dois dias de provas e de 25 para 15 questões dentro de cada tema das provas, o vice-pró-reitor destaca que o concurso segue dentro do grau de dificuldade esperado para um dos vestibulares mais importantes e disputados do país.
— O retorno que estamos tendo conversando com os colegas é bastante positivo. No nosso entendimento, foi possível, mesmo neste modelo de dois dias, manter o rigor que já é tradicional do vestibular da UFRGS — finaliza.