Única escola pública de Porto Alegre que ainda não voltou às aulas presenciais desde o início da pandemia de coronavírus, segundo a Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Municipal de Educação da Capital, o Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) começa a se organizar para o retorno dos alunos, previsto para iniciar gradativamente a partir do dia 25 deste mês. A decisão ainda divide a comunidade escolar. Enquanto parte dos pais segue contra a decisão, outro grupo chegou a acionar o Ministério Público Estadual (MP-RS) em setembro deste ano, solicitando a volta dos filhos às salas de aula.
Ao todo, 609 estudantes — entre Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) — estão matriculados na instituição, localizada no campus do bairro Agronomia, e seguem com aulas a distância. Segundo o diretor, Rafael Brandão, apesar das dificuldades enfrentadas pelo distanciamento social, não houve registro de evasão escolar neste período.
— Os pais estão sendo informados sobre as decisões. Nossa maior preocupação é como o aluno chega e volta para casa, pois temos estudantes de toda a região metropolitana de Porto Alegre e usam transporte público. Neste momento, estamos elaborando um plano de retorno para ser implementado até o final de outubro com a ideia de acolhê-los, antes de sair liberando conteúdo, porque todos estão fragilizados — explica o diretor, que afirma entender o anseio dos pais que querem o retorno.
A meta inicial é receber a cada dia um grupo de alunos até todos voltarem às aulas presenciais. O diretor salienta que o retorno não será obrigatório. Durante todo o período de aulas remotas, Rafael destaca que a comunidade escolar teve acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos. As famílias com menor poder aquisitivo também foram contempladas com kits de alimentação, comprados com o dinheiro que seria destinado à merenda. E pelo menos 135 alunos ganharam da escola computadores usados e consertados pelos técnicos da instituição.
No início do mês passado, a Promotoria Regional da Educação de Porto Alegre (Preduc-POA) recebeu e-mails de um grupo de mães e pais do Colégio de Aplicação manifestando contrariedade quanto à prolongada interrupção das atividades escolares presenciais e aos prejuízos do não retorno. Mãe de três estudantes do Aplicação, a atual presidente da Comunidade de Pais e Mestres do Colégio de Aplicação da UFRGS (Copame), Elisa Corrêa Isquierdo, 39 anos, que cursou o Ensino Médio na instituição, foi uma das famílias que buscou a ajuda do MP-RS. Informalmente, Elisa fez uma pesquisa entre a comunidade escolar e, dos 175 pais que responderam ao levantamento online, 79,2% querem o retorno das aulas presenciais.
— Não há um consenso entre os pais sobre o retorno, pois ainda há insegurança. Mas temos casos de crianças e adolescentes que tiveram dificuldades com as aulas remotas e outros desenvolveram ansiedade e depressão durante este período de distanciamento — relata Elisa.
A promotora regional da Educação de Porto Alegre, Ana Cristina Ferrareze, se reuniu três vezes com as mães e uma com a direção da escola, devido à natureza do pedido e a oferta de ensino no colégio que atende os níveis de educação básica. De acordo com a promotora, foram muitos os relatos da necessidade da retomada das atividades escolares presenciais, uma vez que, segundo as mães, os déficits educacionais, sociais e psicológicos dos filhos estavam sendo fortemente percebidos no dia a dia das crianças e dos adolescentes.
A diretoria do Colégio de Aplicação, a partir de questionamentos de Ana Cristina sobre as providências que estavam sendo adotadas e das deliberações da reunião, constituiu comissão especial para debater os protocolos sanitários e as legislações — o equivalente ao Centro de Operações de Emergências (COE-Local). Conforme a promotora, o colégio também informou que o Plano de Contingência da instituição está em processo de elaboração. Agora, estão em andamento as tarefas administrativas do MP-RS de remessa dos autos à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, que deverá acompanhar o caso.
Desde a semana passada, a escola vem se movimentando para receber os estudantes. Cada sala de aula recebeu um totem de álcool gel na porta de entrada, já foram compradas mil máscaras que serão distribuídas aos alunos e servidores do Aplicação. Um mural que alunos e professores estavam fazendo na entrada do prédio, antes da pandemia, deverá ser retomado na volta às aulas.