Por Bruno Eizerik
Diretor da Faculdade Monteiro Lobato, presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS)
No mês passado, fomos surpreendidos pela notícia do baixíssimo número de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Apenas 3,1 milhões de jovens se inscreveram para a prova que dá acesso ao Ensino Superior em nosso país, que teria condições de absorver mais de três vezes esse número, com 10 milhões de vagas para serem ocupadas. O número é muito preocupante e é só a ponta do iceberg. Desde 2005 não tínhamos um número tão reduzido de inscritos, sendo 46% menor que o ano passado. Em 2020, dos 5,8 milhões de alunos inscritos no exame, mais da metade não compareceu para fazer a prova.
Ter menos jovens acessando o Ensino Superior, pelo segundo ano consecutivo, significa menos riqueza e desenvolvimento para o país. Temos apenas 21% da população com idade entre 25 e 34 anos com nível superior completo no Brasil. Nessa mesma faixa etária, em países como Chile e Estados Unidos, o índice é respectivamente de 40% e 49%. É preciso que os governantes se deem conta que educação não é gasto, e sim investimento, que gera crescimento para o país.
Outro aspecto a ser considerado é que, se menos alunos ingressam no Ensino Superior, instituições fecham e, em consequência, será gerado desemprego no setor. Essa é uma espiral perversa, pois o sistema se retroalimenta negativamente; isto é, se tivermos menos alunos, teremos menos universidades e, por conseguinte, serão necessários menos professores, o que levará a um colapso no sistema educacional. Ao invés de estarmos em uma espiral positiva, com o crescimento do número de alunos no Ensino Superior, estamos diminuindo o setor, o que é muito perigoso para as futuras gerações. Com isso, perderemos competitividade e, assim, espaço na consolidação do Brasil como figura importante no cenário internacional. Seguindo esse caminho, teremos em breve um apagão de mão de obra qualificada, pois, além de não termos pessoas qualificadas, deixaremos de ter também locais para formá-las, e isso é extremamente preocupante.
O problema que dá origem ao baixo número de entrantes ao Ensino Superior começa bem antes, com a evasão que temos na Educação Básica. E isso será agravado pela pandemia da covid-19 e pelo absurdo número de dias que tivemos nossas escolas fechadas. Enquanto na Dinamarca as escolas ficaram 20 dias fechadas durante a pandemia, grande parte da rede pública municipal de nosso país está há 500 dias sem aula. Apenas para comparação, a média de dias de escolas fechadas nos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 68 dias.
Dados do estudo TIC Domicílios 2019, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, apontam que 67% dos domicílios brasileiros não possuem computador e acesso à internet. Já o estudo realizado pela Unicef, intitulado Enfrentamento da Cultura do Fracasso Escolar, destaca que 4,12 milhões de alunos, apesar de matriculados e sem estar em período de férias, não receberam nenhuma atividade escolar no ano passado. Para agravar a situação, o perfil desses alunos já é conhecido: pertencem às classes econômicas mais pobres e se concentram nas regiões Norte e Nordeste.
Durante a pandemia, perdemos, com as escolas fechadas, 5,5 milhões de alunos da rede pública. Em média, essas crianças iriam chegar ao Ensino Superior daqui a 10 anos. Olhando dessa maneira, o que vivemos em 2021 em relação ao número de inscritos no Enem tende a se agravar nos próximos anos.
Quando tiramos a escola de nossas crianças, não estamos somente tirando o futuro delas: estamos condenando o Brasil ao atraso. Enquanto a educação não for prioridade nacional, continuaremos a ser o país do futuro. Mas um futuro cada vez mais incerto.