Encomendada pela Assembleia Legislativa gaúcha, uma pesquisa feita pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) aponta que mais da metade (55,8%) dos entrevistados defende que as aulas presenciais só deveriam retornar no Rio Grande do Sul após a imunização de toda a população. Esta é a percepção entre 60,1% dos pais de estudantes da rede pública da Educação Básica. Entre os responsáveis por alunos da rede privada, 42,4% responderam que as aulas presenciais deveriam ser mantidas sempre que possível.
A pesquisa de opinião ouviu 1,5 mil pessoas em todo o Estado, de forma presencial, entre 19 e 24 de junho. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A principal justificativa dos entrevistados para defender o retorno só após a vacinação de toda a população gaúcha se refere à falta de condições estruturais nas escolas que podem oferecer segurança sanitária à comunidade escolar (38,9%). Quanto menor o grau de educação formal e mais baixa a renda familiar, maior é a tendência de avaliar que as aulas presenciais só deveriam retornar após a vacinação de todos, diz a pesquisa.
A cientista social e diretora do IPO, Elis Radmann, destaca que o levantamento mostra que a sociedade está preocupada com as perdas de aprendizagem pelos alunos, e que a principal ação do governo deve ser no que se refere à recuperação dos conteúdos, por meio do aumento de carga horária ou de reforço escolar. Apesar disso, indica que os pais desejam o retorno presencial.
– Chama a atenção que todos os pais, independentemente de suas opiniões, desejam muito que a educação presencial volte e haja ações conjuntas entre Estado ou instituição de ensino e famílias, de forma integrada – relata Elis.
A pesquisadora destaca, ainda, que a pandemia trouxe aos pais um sentimento dicotômico – ao mesmo tempo em que eles se sentiram frustrados ao educar seus filhos, percebendo as limitações existentes dentro de casa, também se sentiram mais participativos e integrados com crianças ou adolescentes. Foi desse sentimento que surgiu a necessidade de maior participação das famílias nas ações das escolas
Conhecimento adquirido na pandemia
Além de perguntas sobre a percepção dos gaúchos sobre as condições para o retorno das aulas presenciais, a pesquisa também trouxe questões sobre o conhecimento adquirido pelos estudantes durante a pandemia.
Quase metade (47,8%) das famílias está participando mais da educação formal dos filhos. Mesmo assim, os pais percebem grande dificuldade das crianças em acompanhar e aprender com as aulas remotas: cerca de sete em cada 10 entrevistados apontaram esses problemas. Os motivos principais indicados são a ausência de contato/acompanhamento do professor, a falta de explicação do conteúdo/material e a falta de apoio dos pais (por tempo ou conhecimento), bem como a falta de foco do estudante.
A percepção de dificuldade de acompanhar as aulas remotas é maior entre pais de alunos da rede privada (81,2%), bem como a de aprender (79,8%). Esse grupo de pais é formado por um quinto de empresários, que encontram mais entraves para atender as demandas escolares dos filhos, por falta de tempo.
Há três obstáculos no acompanhamento da educação na pandemia: emocionais, materiais e técnicos e cognitivos. O principal entrave é emocional (36,9%), que envolve a falta de foco, a adaptação à nova rotina e a falta da socialização das crianças e dos adolescentes. No que se refere ao aprendizado, o problema maior apontado pelos pais é entender o conteúdo (34,2%), mas também há menção à falta de foco do aluno, dificuldades de acesso à internet e ausência de contato com o professor.
A secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira, aponta que a pesquisa reflete o que a sociedade pensa e sente, mas que em agosto, quando as aulas presenciais forem retomadas na rede estadual, quase toda a população já estará vacinada. Segundo dados do governo do RS, atualizados às 16h23min de ontem, 25,1% da população vacinável havia completado o esquema de imunização contra covid-19 no Estado e 62,1% havia tomado a primeira de duas doses. Raquel ressalta, porém, que se preocupa particularmente com os alunos do 3o ano do Ensino Médio, que terão pouco tempo para recuperar as perdas de aprendizagem vividas nesses 15 meses de aulas remotas ou híbridas.
– Esses estudantes vão terminar o 3o ano com baixo rendimento e poucas oportunidades de aprendizagem. Estamos trabalhando com possibilidades de bolsas para esses alunos e oferecer um 4o ano do Ensino Médio para aqueles que não se sentirem seguros de irem para o mundo do trabalho – relata a secretária.
A secretaria estadual promete, ainda, pagar a inscrição de todos os estudantes que quiserem participar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A inscrição tem custo de R$ 85,00. A pasta também aumentará a carga horária dos estudantes do 2o ano do Ensino Fundamental ao 3o ano do Ensino Médio: serão duas horas a mais de Língua Portuguesa e outras duas a mais de Matemática.
Leis para a educação
Uma terceira e última parte da pesquisa abordou as necessidades de leis para a educação. O principal problema da educação pública no Estado apontado pelos entrevistados, independentemente da pandemia, foi a baixa qualidade do ensino (21%), seguido pela estrutura precária (19,6%) e pela falta de valorização dos professores (11,6%).
Quase metade dos pais (45,2%) entende que o maior problema envolve um ciclo vicioso, no qual o professor é desvalorizado e isso influencia na qualidade do ensino, e vice-versa, o que impacta na motivação do aluno.
A maioria dos entrevistados (62,6%) defende que a Assembleia Legislativa deveria fazer uma lei/regra que melhore a educação no Rio Grande do Sul, especialmente para qualificar o ensino, a estrutura das escolas, que dê autonomia e garanta melhor remuneração aos professores.
Um percentual semelhante (58,4%) defende que haja lei/regra para melhorar as sequelas da pandemia, especialmente alguma que garanta a segurança sanitária nas escolas e o reforço escolar, que destine verbas para infraestrutura e tecnologia e incentive a economia.
A partir do resultado da pesquisa, o presidente da Casa, deputado Gabriel Souza (MDB), afirmou que a Assembleia está à disposição para contribuir financeiramente com o governo do Estado em demandas como investimento em equipamentos de proteção individual (EPIs). Também sinalizou com a proposta de um projeto de lei que propõe que empresas invistam o valor que pagariam de ICMS na educação.
– A pesquisa mostra que não é apenas a falta de internet que traz problemas para o aprendizado dos alunos. Temos relatos de pais que precisam apagar o aplicativo que as crianças usam na escola para conseguir usar o celular, o que deixa clara a grande necessidade de investimento em equipamentos de tecnologia – pontua o parlamentar.
Esse projeto que envolve o ICMS deve ser apresentado pelo deputado estadual Carlos Búrigo (MDB) nesta terça-feira (13), em reunião da Comissão de Educação da Casa. A proposta será nos moldes da Lei Piá, do deputado estadual Sérgio Turra (PP), que permite que investimentos em rodovias por parte de empresas sejam compensados com reduções no pagamento do ICMS.
– As empresas poderão fazer investimentos na infraestrutura física e tecnológica das escolas. Dessa forma, conseguimos achar um caminho para amenizar o déficit na educação e fazer com que possamos recuperar o tempo perdido – defende Búrigo.