As escolas particulares da Capital estão na expectativa da publicação do decreto que vai autorizar a retomada de aulas presenciais no Rio Grande do Sul. Mesmo que não haja previsão para o retorno das atividades dentro das escolas, algumas delas já estão providenciando medidas de prevenção contra o coronavírus.
No Colégio Farroupilha, a direção contratou a consultoria do Hospital Moinhos de Vento para que uma equipe elabore um protocolo a ser seguido dentro da instituição. Segundo a diretora pedagógica Marícia Ferri, a equipe responsável já visitou a escola para conhecer os espaços e teve acesso à imagens que mostram a movimentação durante o período de aulas presenciais para avaliar o fluxo de alunos da instituição e de cada sala de aula.
— Estamos em processo de finalização, mas não estamos com os protocolos fechados, pois é necessário aguardar o decreto do governo. O importante é primarmos pela segurança de alunos e de colaboradores quando as aulas voltarem. Estamos revendo nossos processos internos, pois vai haver mudança de rotina e de fluxo, e capacitando a equipe que cuida da higienização da escola. Foi indicado, inclusive, um produto específico para a limpeza, explica a diretora.
Marícia diz também que o retorno dos alunos será escalonado, já que a volta de todas as turmas ao mesmo tempo seria inviável. A decisão de qual nível de ensino retornará primeiro está sendo avaliada.
— Existe uma complexidade que envolve cada faixa etária. Com crianças, certamente haverá um protocolo específico. A rotina de higienização é diferente em locais em que os pequenos brincam, em comparação aos lugares usados por adolescentes, por exemplo, já que crianças, muitas vezes, brincam no chão — diz.
Para a diretora da Escola Projeto, um dos maiores desafios é justamente preparar a escola para receber as crianças. Na instituição, as aulas são de educação infantil e ensino fundamental. Por isso, Neca Baldi considera um desafio que precisa da união de pais, professores e especialistas. Ainda que a instituição esteja aguardando a definição do governo, foi criado um grupo de pais, mães e profissionais da saúde, que, junto com a equipe de coordenação e direção, irá trabalhar na validação e aplicação das medidas necessárias para garantir a segurança de todos e todas na reabertura da escola.
— Temos um grupo de oito pais que atuam como médicos, enfermeiros e psicólogos. Acreditamos que, assim, sabendo do envolvimento deles, as famílias ficarão mais seguras quantos às medidas que serão tomadas na prevenção ao coronavírus — explica Neca.
Como vou dizer a uma criança que ela não pode abraçar o coleguinha ou não pode compartilhar um material? E como vamos saber se ela está feliz ou triste se está usando máscara?
DÁRIO SCHNEIDER
Diretor acadêmico do Colégio Anchieta
A diretora conta ainda que as questões pedagógicas terão de ser reavaliadas e que, mais do que nunca, será preciso trabalhar o lado lúdico das crianças para fazê-las entender a necessidade de manter uma distância maior do colega, ou, o motivo pelo qual a variedade de brinquedos diminuiu.
Essa também é uma preocupação de Dário Schneider, diretor acadêmico do Colégio Anchieta. Segundo ele, a educação infantil é um ponto sensível nessa volta às aulas.
— Estamos construindo colaborativamente as ações de combate à pandemia junto com a direção, o setor de comunicação, as coordenações das unidades de ensino, os pais, e estamos convidando especialistas para nos dizer quais seriam as medidas adequadas para sermos o mais assertivo possível. Temos um espaço com muitas vidas. Só poderemos ter certeza do que fazer se estivermos cientes de todos os detalhes que precisam ser implantados nesse processo. E, nesse ponto, as crianças são um ponto importante. Como vou dizer a uma criança que ela não pode abraçar o coleguinha ou não pode compartilhar um material? E como vamos saber se ela está feliz ou triste se está usando máscara? — questiona o diretor.
Embora não haja previsão para que a decisão de retorno das aulas presenciais seja tomada, a escola está avaliando colocar túneis de acesso com pulverização, além de outras medidas de sanitização como higienização dos espaços com mais frequência e o uso de máscaras e álcool gel. Um calendário de aulas diferenciado também está sendo estudado para o caso de haver limitação de número de alunos em sala de aula.
Para Schneider, é preciso entender que a busca desse novo olhar sobre o vínculo que existe entre aluno, professor e demais colegas é uma readaptação que precisa ser pensada de forma pedagógica para não frustrar os alunos. A escola vai precisar adequar os espaços físicos com base nessa perspectiva.
— Nesse momento, temos mais dúvidas do que certezas. Vamos aguardar para ver o que os especialistas e os órgãos competentes vão definir. Nossa preocupação e da rede de educação Jesuíta é comunicar todas as decisões de maneira clara para não gerar expectativas que não possamos cumprir, ressalta Schneider.
No Colégio João XXIII, o plano de prevenção contra o coronavírus está sendo desenhado pelo comitê covid-19 da instituição, junto à Fundação Educacional João XXIII e direção pedagógica. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da escola prepara materiais para auxiliar os profissionais no retorno, e também estão sendo confeccionadas máscaras com a ajuda de mães de estudantes que atuam de forma voluntária e são responsáveis pelo brechó de uniformes.
Já o Colégio Marista Rosário está organizando um conjunto de protocolos de cuidados com a saúde para a retomada das atividades presenciais. Em nota, a instituição disse que “as definições estão sendo alinhadas junto ao grupo multidisciplinar constituído pela Rede Marista, composta por gestores de diferentes escolas e membros da estrutura executiva”. A Rede Marista antecipou o recesso escolar em razão da pandemia.
A equipe responsável por definir os padrões de conduta e organização que serão adotados para prevenir a transmissão da Covid-19 conta com a orientação técnica do serviço de infectologista do Hospital São Lucas da PUCRS.
Conforme o vice-diretor administrativo, Maurício Erthal, está sendo consolidado um documento que direciona desde como deverá ser o comportamento nos espaços coletivos até a higienização dos ambientes, com atenção especial para a conscientização da comunidade escolar. Entre as medidas previstas, estão a obrigatoriedade do uso de máscaras por todos que forem circular nos colégios e a disponibilização de dispensers de álcool gel e tapetes com sanitizantes à base de cloro nas recepções, para que todos higienizem as mãos e os sapatos antes de passar pela porta.
A higienização dos ambientes também será intensificada. Além da limpeza das salas de aula nas trocas de turno, equipes especializadas pulverizarão os espaços com quaternário de amônia ao final de cada dia. O protocolo, que aguarda a indicação do governo estadual para ser concluído, prevê ainda o escalonamento de intervalo e acesso às cantinas.
Sinepe acredita em retorno escalonado em todas as escolas
Conforme o presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), Bruno Eizerik, embora haja uma preparação prévia, a maioria das escolas está aguardando o decreto do governador Eduardo Leite para saber que medidas tomar e como agir em relação ao retorno dos alunos.
— As escolas têm autonomia para decidirem se conseguem cumprir ou não as exigências de retorno e dizer o dia que estarão prontas para receber os alunos. E, muito provavelmente, essa volta será escalonada, não serão todos ao mesmo tempo, afirma Eizerik.
Ainda não há definição de quando serão retomadas as aulas presenciais no Rio Grande do Sul. Em transmissão ao vivo realizada na terça-feira (19), o governador Eduardo Leite informou que ainda estão sendo definidos os protocolos sanitários necessários para permitir um retorno do ensino, tanto na rede pública quanto na rede privada. Esses protocolos definirão o que é preciso para que os alunos voltem a frequentar as aulas nas escolas, que seguem fechadas.
A reabertura estará condicionada à execução dos protocolos estipulados pelo governo, à bandeira de classificação definida em cada cidade, bem como a autorização dos municípios. A definição dos protocolos, assim como a decisão sobre o retorno às aulas é do governo do Estado e das prefeituras.