O anúncio de que todas as universidades federais do país sofrerão corte de 30% no orçamento neste ano continua repercutindo. Na noite de quinta-feira (2), o reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, declarou que a situação ficará "caótica" em setembro, podendo desencadear "uma paralisação geral". Os recursos de 2019 da instituição cairiam de R$ 83 milhões para R$ 54 milhões.
— Se forem cortados 30% do orçamento, significa simplesmente que nós funcionaremos até setembro. A UFPel não tem nenhum tipo de corte para fazer, tudo que existia para cortar já foi cortado. É uma irresponsabilidade minha, como gestor, fazer cortes a mais — disse.
Conforme o gestor, desde que assumiu, em janeiro de 2017, a UFPel já passou a tesoura em diversas áreas, especialmente em serviços terceirizados de limpeza e segurança. A contenção atingiu R$ 10 milhões. Contudo, isso não garante a sobrevivência das atividades caso o novo corte se confirme.
— Não tendo mais de onde tirar, a gente vai funcionar normalmente até o dia em que acabar o dinheiro. Estou defendendo que essa seja uma postura unificada dos reitores. A gente vai trabalhar até quando for possível. Mas eu não acredito nesse corte. Acho que é um blefe e uma chantagem para aprovar a reforma da Previdência. Agora, se ele for mantido, vai chegar setembro e não teremos como pagar as contas, o que significa a inviabilidade total de funcionamento — afirma.
O reitor salienta que, com o corte no custeio e o consequente descumprimento de contratos, serviços deixarão de ser prestados, inviabilizando o dia a dia da instituição:
— Se não pagar a luz, mesmo sendo uma universidade, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) vai cortar o abastecimento. Se não pagar as empresas que prestam serviços terceirizados, primeiro, eles vão romper o contrato e, depois, vão entrar na Justiça contra nós.
O reitor relembra que não é de hoje que as universidades federais veem as cifras dos orçamentos despencarem. Entretanto, quando as reduções estão dentro do planejamento orçamentário anual, é viável se adaptar.
— Posso dizer que, nos últimos cinco anos, as federais têm o orçamento reduzido. Ocorreu em todos os governos: Dilma, Temer, Bolsonaro. Então, estamos acostumados a lidar com dificuldades. O que essa notícia tem de diferente é a mudança de regra no meio do jogo. Isso é muito desagradável. Digamos que o Ministério da Economia conclua que o Estado está quebrado: então, faz uma reunião com os reitores explicando que, para o próximo ano, os orçamentos serão menores. Essa seria uma forma responsável — critica.
Em nota divulgada nesta sexta-feira (3), a universidade afirma que "se prevalecer o corte havido, o funcionamento da UFPel inviabiliza-se a partir do mês de setembro". A instituição explica que não haverá verba para o custeio de itens básicos, como energia elétrica, água e telefone. Além disso, não poderá manter os serviços de manutenção, limpeza, vigilância, nem bolsas de iniciação científica e estudos.
"Além de ensino, pesquisa e extensão qualificados, o que a população brasileira espera de suas universidades neste momento é, sobretudo, dignidade", encerra a nota.
Em documento enviado à reportagem, a UFPel abre as contas, mostrando o valor do orçamento deste ano, que chega à cifra de R$ 83.621.712, e o projetado com o corte de 30%, que cai para R$ 54.353.383. Só nas despesas de custeio – aquelas do dia a dia, que mantêm o funcionamento da instituição, como luz, água e telefone –, a diminuição supera os R$ 22 milhões. As de capital – que contemplam obras, aquisição de livros e equipamentos –, perdem quase R$ 7 milhões.