O anúncio de Abraham Weintraub como novo ministro da Educação motivou reações mistas entre especialistas em educação. Ao mesmo tempo em que alguns demonstram preocupação pela falta de experiência do economista na área da educação, outros salientam que esse não deve ser um fator determinante. O temor maior é de que a proximidade com o escritor e guru da direita Olavo de Carvalho prejudique o desenvolvimento de projetos que há anos estão na pauta do Ministério da Educação (MEC).
Assim como Vélez Rodríguez, demitido na manhã desta segunda-feira (8), Weintraub também tem ligações com Olavo de Carvalho. No final do ano passado, em evento em Foz do Iguaçu (PR), afirmou que ele e seu irmão, Arthur, haviam adaptado as teorias de Olavo para derrotar no debate o "marxismo cultural" existente nas universidades, e que essa seria a contribuição que tinha a oferecer.
Para o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a escolha de Bolsonaro por Weintraub representa a primeira derrota dos militares dentro do governo – o grupo disputava poder no ministério durante a gestão de Vélez Rodríguez. E sinaliza a vitória política de Olavo de Carvalho e Paulo Guedes, ministro da Economia. Segundo Cara, isso preocupa porque deve representar um Ministério da Educação submisso a uma política econômica austera.
— Ele não vai brigar por mais recursos, pela implementação do Plano Nacional de Educação (PNE), por um novo Fundeb (fundo que financia a Educação Básica). O que vai sobrar é a guerra cultural olavista, pautada pela revisão do Enem, das avaliações em larga escala, entre outras coisas — declara o especialista.
Daniel Cara também demonstra preocupação com a falta de experiência em gestão educacional do novo ministro. Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Weintraub é especialista em Previdência Social.
— É uma pessoa que, mais gravemente ainda que os outros (ministros), desconhece o Ensino Superior, embora seja professor universitário. E não entende nada sobre Educação Básica, tanto quanto seus antecessores.
Ele não vai brigar por mais recursos, pela implementação do Plano Nacional de Educação, por um novo Fundeb. O que vai sobrar é a guerra cultural Olavista, pautada pela revisão do Enem, das avaliações em larga escala, entre outras coisas.
DANIEL CARA
Coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
O diretor de políticas educacionais do movimento Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, afirma que o fato de Weintraub não ter ampla experiência na educação gera surpresa pelos desafios expostos no contexto atual da pasta, mas não deve ser um fator determinante para influenciar na gestão. O diretor lembra que ministros especialistas na área já mostraram atuação ruim e gestores sem currículo desempenharam um bom papel na pasta. No entanto, a ligação com Olavo de Carvalho "preocupa", usando como exemplo a atuação de Vélez Rodríguez.
— Se nós tomarmos como parâmetro de comparação o que aconteceu nos últimos três meses na Educação Básica, essa vinculação, essa proximidade ao Olavo de Carvalho preocupa. Parte do que nós vimos no desastre desse início de gestão teve haver com uma disputa de poder entre o chamado grupo olavista e o grupo dos militares/técnicos no Ministério da Educação. Esse foi um dos causadores dessa inoperância que a gente observou nesses últimos meses.
O diretor do Todos pela Educação diz ainda que, com o cenário desastroso deixado pela equipe anterior, o novo ministro não tem o luxo de perder mais tempo na condução dos trabalhos prioritários da pasta. Nogueira Filho elenca o que espera estar entre as prioridades na gestão de Weintraub:
— Eu não tiraria da agenda de prioridades a montagem de uma boa equipe. Acho que isso é a prioridade número um. A segunda prioridade, do ponto de vista do foco de atuação, deve ser a Educação Básica e com foco aqui nos problemas de relacionados a baixa aprendizagem dos alunos. Esse é o grande problema da educação brasileira.
Se nós tomarmos como parâmetro de comparação o que aconteceu nos últimos três meses na Educação Básica, essa vinculação, essa proximidade ao Olavo de Carvalho preocupa.
OLAVO NOGUEIRA FILHO
Diretor de políticas educacionais do movimento Todos pela Educação
Para Cesar Callegari, sociólogo, consultor educacional e presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada, a prioridade do futuro ministro deveria ser tocar o Plano Nacional de Educação, que estabeleceu 20 metas para serem cumpridas até 2024:
— A prioridade para qualquer ministro será sempre cumprir os objetivos e metas do Plano Nacional de Educação. Esse é um excelente guia que o Brasil criou a partir de muito debate e de lei. Isso deveria ser um elemento estabilizador para que a educação não sofresse com solavancos próprios de trocas governamentais.
Callegari, que foi integrante Conselho Nacional de Educação (CNE) durante 12 anos, também acredita que a ligação com Olavo de Carvalho preocupa, pois, no entendimento dele, o escritor "está atrapalhando o Brasil". Ele diz que as pautas ideológicas são um "diversionismo e uma distração" para quem não quer apresentar um projeto para a educação brasileira.