O desempenho do ensino público gaúcho ainda está muito distante de um nível satisfatório, mas há pequenos progressos a serem comemorados. Números divulgados nesta sexta-feira (21) pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) revelam que estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio obtiveram conceitos melhores nos testes do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers), em português e matemática, em comparação aos da última edição da prova. Curiosamente, embora mais alunos da 1ª série do Ensino Médio tenham alcançado conceitos positivos em matemática, a performance ainda é assustadora nesta matéria. No geral, diminuiu a quantidade de estudantes com as piores notas.
Os exames foram aplicados a 244.314 indivíduos, no mês passado, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e os resultados, agrupados em quatro níveis de aprendizagem: abaixo do básico (as competências e as habilidades desenvolvidas estão muito aquém do esperado), básico (houve início de um processo de domínio das habilidades essenciais ao período de escolarização), adequado (o leque de habilidades necessárias, tanto em quantidade quanto em complexidade, foi ampliado) e avançado (as habilidades superam aquelas esperadas para o período de escolaridade avaliado). São almejados os conceitos adequado e avançado.
No 6º ano do Ensino Fundamental, na comparação entre 2016 e 2018, a melhora se mostrou parelha: o crescimento dos conceitos adequado e avançado foi de 16,75% em português e de 18,35% em matemática. Na 1ª série do Ensino Médio, verificou-se aumento de 65,24% de adequado e avançado em português e de 72,73% em matemática.
Mas os percentuais vistosos do Ensino Médio disfarçam uma realidade lamentável: num grupo de cem alunos da 1ª série, por exemplo, apenas 13 apresentam habilidades matemáticas adequadas ou avançadas, contra oito da edição anterior do Saers (os números foram arredondados para facilitar a compreensão na comparação).
Criado por decreto em 2007, durante a gestão de Yeda Crusius (2007-2010), o Saers deixou de ser aplicado no governo Tarso Genro (2011-2014), sendo retomado na administração de José Ivo Sartori, que agora se despede do Palácio Piratini. Uma análise mais profunda fica comprometida por conta dos dados faltantes ao longo do período desde a implantação. A ideia é que os exames sejam realizados a cada dois anos. Na apresentação do balanço do Saers 2018 à imprensa, o secretário estadual de Educação, Ronald Krummenauer, lembrou ter assumido a pasta após a realização das provas de dois anos atrás e que não gostou do que encontrou ao chegar.
– Fiquei bastante chateado com os resultados de 2016. Fico feliz com a melhora que tivemos em dois anos. Não não estou satisfeito com os resultados que temos agora, mas conseguimos desenhar um caminho – avaliou Krummenauer.
De acordo com Sônia Rosa, diretora pedagógica da Seduc, os avanços se devem a uma aproximação entre a secretaria, as coordenadorias regionais e as escolas. Questões específicas apontadas por diretores das instituições foram trabalhadas. Avaliaram-se as estruturas disponibilizadas ao corpo discente, como laboratórios e bibliotecas, o uso que era feito delas e as necessidades mais imediatas das entidades. Professores passaram por cursos de formação, e efetuaram-se mudanças de metodologia de ensino.
Krummenauer acredita ser fundamental que seu sucessor dê continuidade a esse trabalho e disse que está à disposição para contribuir com os próximos gestores. Quanto ao panorama da educação no país, lamentou que o segmento tenha sido esquecido pelos governantes por tanto tempo.
– Abandonamos a educação do Brasil durante décadas. Essa preocupação começou a ficar mais latente com a retomada do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007). Mas, mesmo que todos os governos coloquem a educação como prioridade, não se sabe muito bem como lidar com isso. Quando se tem caixa, resolvem-se (as áreas de) saúde e segurança, mas, na educação, não é só isso. A educação envolve avanço da qualidade e a adequação do ensino às mudanças de tecnologia e comportamento, por exemplo – afirmou o secretário.