No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2017, apenas 53 pessoas tiraram a nota máxima na Redação, e uma delas foi a gaúcha Isabella Motta. Natural de Porto Alegre, a estudante de 18 anos, que cursa Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), teve de dissertar sobre o tema "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil".
Na última segunda-feira (19), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) disponibilizou os espelhos de correção das redações da edição de 2017 do exame.
O texto de Isabela foi dividido em cinco competências de avaliação. Em todas, a estudante do Colégio Anchieta tirou nota máxima – 200 pontos.
A competência um refere-se ao domínio da norma culta da língua portuguesa. Na dois, é avaliado se o candidato entendeu a proposta da redação e se conseguiu desenvolver o tema. Em terceiro, foi analisado se Isabela organizou e relacionou seus argumentos e opiniões em defesa do seu ponto de vista.
A número quatro julgou se a candidata possuía os mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. E por fim, a quinta competência, analisou a proposta de intervenção de Isabela para solucionar o problema abordado.
Confira abaixo a íntegra da redação nota mil de Isabella:
A educação é um direito inalienável de todos os cidadãos brasileiros. Entretanto, a acessibilidade àqueles que apresentam algum tipo de deficiência configura-se como um grande impasse na inclusão de todos os indivíduos. Com isso, surge a problemática dos desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, que cresce intrinsecamente ligada à realidade dos país, seja pela ineficácia das políticas públicas vigentes, seja pela cultura acerca do deficiente auditivo no país.
É indubitável que a questão legislativa e a sua aplicação contribuem para o problema a respeito da educação inclusiva. Pessoas portadoras de qualquer deficiência, como a surdez, têm seu direito à educação garantido pela Constituição e pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Contudo, cenários como a falta de profissionais aptos a suprirem as necessidades dessa parte da população, assim como a ausência de um maior entendimento dos fatores que impedem de exercerem plenamente seu direito, impossibilitam sua eficiência. Tais legislações apresentam resultados insuficientes, já que não são capazes de possibilitar uma conjuntura na qual a educação inclusiva represente uma opção viável a todos os surdos.
Segundo pesquisas realizadas pelo Inep, sofreu uma diminuição o número de surdos matriculados em escolas da educação básica. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que o impasse na promoção da inclusão do deficiente auditivo encaixa-se na teoria do sociólogo, uma vez que, se um indivíduo cresce em um círculo social que inferioriza o surdo e não o trata como merecedor de uma educação igualitária, tende a adotar um determinado comportamento também devido à vivência. Assim, o preconceito da sociedade à inclusão do surdo em todas as esferas da educação, transmitido de geração em geração, funciona como fator "sine qua non" dessa cultura, perpetuando o problema.
Visando valorizar a educação inclusiva e criar condições indispensáveis para o seu sucesso, é preciso que o Estado promova a capacitação e a formação de professores para surdos plenamente competentes. Por meio de cursos especializados, que auxiliem no entendimento total das necessidades dos deficientes auditivos que lhes proporcione o aprendizado das ferramentas necessárias para a comunicação, poder-se-á aumentar a inclusão e, lentamente, mudar a cultura rumo à valorização de idiossincrasias e de singularidades.