A volta às aulas em algumas instituições particulares de Ensino Superior do Rio Grande do Sul neste segundo semestre será marcada pelo ingresso menor de alunos, a contratação de menos créditos e, mais uma vez, também pela demissão de professores. Assim como no ano passado, quando restrições ao financiamento estudantil e o aumento da inadimplência levaram as universidades a frear investimentos e buscar a redução da folha de pagamentos, também agora, segundo as instituições, readequações têm se mostrado necessárias.
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Apesar de o número de alunos matriculados ter se mantido relativamente estável, os centros de ensino apontam que o cenário econômico desfavorável leva muitos a buscarem mensalidades menores – seja cursando menos disciplinas ou indo atrás de financiamentos. A demissão de professores foi a opção de algumas universidades na tentativa de estancar os efeitos da inadimplência e do número menor do que o esperado de alunos matriculados – efeitos atribuídos à crise econômica. Em muitas, as rescisões ficaram em um patamar considerado "dentro do padrão" pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS).
– A iniciativa de fazer cortes é relativamente normal nas instituições de Ensino Superior, algo próximo de 5% de reajuste no quadro docente fica até dentro do esperado. Mas de uns três anos para cá, as demissões começaram a acontecer também neste período de meio do ano – afirma Amarildo Cenci, diretor do Sinpro.
– Lamentamos porque isso acaba desorganizando o sistema, desqualificando o serviço. As instituições, quando passam por uma situação assim, fazem um ajuste por cima, demitindo aqueles professores que têm os maiores salários, que tendem a ser os melhores profissionais – completa Cenci.
Levantamento feito pela consultoria educacional Hoper indica um aumento de 172% nas matrículas de alunos com Fies no Rio Grande do Sul entre 2011 e 2015, enquanto o total de matrículas – considerando também os alunos sem o financiamento do governo – registrou aumento de apenas 3,77% no mesmo período. Pode-se interpretar, a partir dos dados, que, não fossem as alternativas de pagar a universidade, poderia haver uma queda significativa no número de estudantes. Os números do Censo da Educação Superior 2016 ainda não foram divulgados pelo governo.
Há universidades que veem como "insustentável" manter seu quadro docente no mesmo patamar de anos de pujança, quando estava no auge a oferta de bolsas do ProUni e de matrículas feitas pelo Fies.
– Em 2014, havia uma perspectiva de crescimento do Ensino Superior em razão da política governamental que ofereceu financiamento através do Fies. Mas depois veio a notícia de que o Fies soçobrou, que se não tinha mais recursos. Desde 2015, o ensino privado está experimentando uma queda na efetivação de matrículas – explica o presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) e reitor da Universidade de Passo Fundo (UPF), José Carlos Carles de Souza.
Na PUCRS, até cem professores a menos
Neste ano, os efeitos da crise econômica foram sentidos com força na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). De acordo com o Sinpro/RS, nas últimas semanas mais de 40 professores da instituição foram desligados, e ainda haveria outros cerca de 40 ou 50 com risco de perder o emprego no final do período de transferências, matrículas e reingresso de estudantes, que vai até meados de agosto – totalizando a possível demissão de aproximadamente cem professores em uma das maiores universidades particulares do Sul.
Em nota, a PUCRS atribui ao "cenário socioeconômico e político de profunda instabilidade e incerteza" os impactos sentidos na educação. "As mudanças buscam manter a integridade econômico-financeira da instituição, que possibilite cumprir com as nossas responsabilidades com os mais de 7 mil profissionais que atuam na Universidade e no Hospital São Lucas da PUCRS", garantiu a instituição, que atualmente conta com cerca de 1,3 mil professores.
No UniRitter, de onde cerca de 30 docentes seriam desligados neste segundo semestre, de acordo com o Sinpro/RS, ainda não foram confirmados os desligamentos. O centro universitário afirmou, também em nota, que "as renovações do quadro docente são realizadas levando em consideração critérios internos e de acordo com a atuação da instituição, que segue em constante crescimento e modernização de suas práticas para manter a qualidade de ensino dos seus alunos".