Quem olhou para baixo ao cruzar o Arroio Dilúvio na tarde desta segunda-feira deparou-se com um cardume de peixes subindo o curso d'água em direção oposta ao Guaíba.
Segundo os biólogos da PUCRS Nelson Fontoura e Carlos Lucena, trata-se de centenas de tainhas que entraram no curso do arroio, provavelmente em busca de alimento. Apesar de tratar-se de um peixe migratório, é bastante incomum ver tantas tainhas no Arroio Dilúvio.
- A gente ainda não conhece bem o comportamento das tainhas aqui na região. Sabe-se que elas desovam no mar, em Santa Catarina, no outono, depois sobem os rios, como Jacuí, Sinos e Caí, mas não se sabe até onde - explica Fontoura.
Em vídeo, veja a movimentação dos animais:
Segundo os pesquisadores, é bem possível que tenham subido o Dilúvio em busca de alimento, já que comem material orgânico presente no fundo das águas. Outra possibilidade é uma mudança no volume de água devido às chuvas que tenha alterado a percepção do cardume e o induzido a subir o Arroio.
- Com a água turva e quente, já dá para perceber que estão em estresse. A decisão de subir é olfativa, elas perceberam que no arroio havia mais alimento do que onde estavam. Talvez as chuvas possam ter diminuído os poluentes na foz do arroio e facilitado a decisão - afirma Fontoura.
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Perguntado se nas próximas horas ou dias veremos as tainhas retornando ao Guaíba ou morrendo no Dilúvio, Fontoura explica:
- Elas estão passando por déficit de oxigênio importante. À noite, quando a temperatura baixar, há chance de a água ter taxa de oxigênio maior, e assim aumenta a chance de sobrevivência - diz o pesquisador.
Segundo ele, a tainha não será capaz de ultrapassar as quedas d'água do arroio, por isso pode ser que o cardume, ao não conseguir subir mais, comece a retornar para o Guaíba e se salve.
Os animais em busca de oxigênio - Foto: Jefferson Botega
Em 2013, uma reportagem de Zero Hora registrou um cardume de tilápias, que gerou a preocupação de biólogos à época, por se tratar de uma espécie não nativa do Guaíba. Já as tainhas são nativas, embora esse comportamento não seja necessariamente comum.