Centenas de manifestantes se reuniram em Porto Alegre na tarde desta sexta-feira (15), feriado da Proclamação da República, para protestar pelo fim da escala 6x1 (seis dias de trabalho, um de descanso). A manifestação teve início às 15h em frente à Usina do Gasômetro.
Sob calor de quase 30ºC, os manifestantes percorreram a extensão da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, costeando a orla do Guaíba, até o Parque Marinha do Brasil, onde dobraram à esquerda na Avenida Ipiranga.
Durante todo o percurso, entoaram cânticos e gritos de protesto com críticas ao Congresso e à jornada de trabalho de parlamentares em Brasília.
Cartazes e faixas eram carregados com frases críticas ao modelo de trabalho vigente: “A luta do trabalhador é a luta pelo fim da escala 6x1”, “Pela dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras” e “Saúde mental importa, fim da escala 6x1”.
O motoboy Neil Robson Naiff, 27 anos, integrante do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que promoveu protestos em todo o país nesta sexta, diz que a escala 6x1 é "desumana" e que ela reflete "contradições impostas pelo sistema".
— A nossa proposta é a redução para que a gente tenha vida além de trabalhar, uma vida digna. E a redução que a gente defende é a escala 4x3, que hoje já é aplicada em vários países da Europa e tem dado um resultado muito bom para a classe trabalhadora — explica.
A servidora pública Valéria Müller, 32 anos, que é membro do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), conta que já trabalhou em telemarketing na escala 6x1 e, por isso, acredita que lutar pela redução da escala é defender o tempo de vida.
— Quando a pessoa trabalha seis dias na semana e folga só um, ela não tem tempo pra família, ela não tem tempo para pensar nela mesma, ela não tem tempo pra se organizar politicamente, pra se organizar socialmente — sublinha.
Pelos direitos das mulheres
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e o vereador Roberto Robaina (PSOL) também participaram da passeata. A deputada afirmou que o trabalho em seis dias com descanso em apenas um representa jornada extra para as mulheres:
— É uma dupla jornada. O dia de descanso acaba sendo um dia para preparar a semana inteira: a comida, a roupa, a organização da casa, dos filhos. Infelizmente, a gente sabe que ainda é assim para as mulheres, a maior parte da jornada doméstica é das mulheres. Então, mudar essa lógica é um imperativo para melhorar a vida das pessoas.
Robaina destacou o número de participantes no ato, especialmente, de jovens, o que avaliou positivamente.
— Para um feriado, tem muita juventude, o que mostra que essa luta é pelo futuro. Tem muita gente, e o que nesse caso interessa é ter gente para pressionar justamente o sistema político. Para que o sistema político defenda o que é básico, que é acabar com essa superexploração de uma jornada que faz com que as pessoas vivam para trabalhar e não trabalhem para viver — frisou o vereador.
Assembleia e dispersão
A marcha seguiu até a Avenida Praia de Belas, onde os participantes dobraram à direita e realizaram uma assembleia em frente a um shopping center. Por volta de 17h, os manifestantes começaram a se dispersar em grupos menores.
O grupamento de choque da Brigada Militar ficou posicionado na esquina da Avenida Bastian com a Praia de Belas em formação. Por volta de 17h30min, os policiais atravessaram a via e se posicionaram em frente ao shopping center, mas se retiraram em seguida. Não foram registradas ocorrências durante o ato.
A organização estima que cerca de 3 mil pessoas participaram da manifestação.
Sobre a escala 6x1
O tema ganhou força nas redes sociais na última semana a partir do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), encabeçado pelo vereador eleito do Rio de Janeiro (RJ) Rick Azevedo (PSOL). Em seu perfil no X (antigo Twitter), o parlamentar divulgou a convocação de atos para 26 cidades nesta sexta-feira.
Capitais como Brasília, Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro também tiveram manifestações ao longo do dia. Em São Paulo, o ato ocorreu na Avenida Paulista durante a manhã, com pessoas carregando cartazes com críticas à atual escala.
Na quarta-feira, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da escala 6x1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), atingiu o quórum de assinaturas necessário para começar a tramitar na Câmara dos Deputados. Na quinta-feira (14), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, defendeu a medida sem redução salarial. Ele caracterizou a jornada atual como sendo "cruel".