O tombo no emprego formal observado no Rio Grande do Sul em maio reflete parte dos efeitos da enchente em regiões do Estado. Ao abrir os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) é possível observar que a maior parte do fechamento de vagas está concentrada em regiões como a Metropolitana, Serra, Vale do Rio Pardo, Vale do Sinos e Vale do Taquari. O RS perdeu 22.180 postos com carteira assinada no período.
Dois dos municípios mais afetados, Porto Alegre e Canoas concentram a destruição de 3,9 mil postos — cerca de 18% do total de vagas fechadas no quinto mês do ano. Pelo lado dos segmentos afetados, ramos da indústria e do comércio sofreram os maiores impactos no emprego (veja gráfico abaixo).
A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos, Camila Flores Orth, afirma que a área de inundação e o peso dessas cidades no mercado de trabalho ajudam a explicar o potencial de dano no mercado de trabalho.
— As regiões que foram atingidas nessas cidades, são de centro, justamente onde o comércio e os serviços são muito fortes. Principalmente pequenos estabelecimentos. Essas pessoas, muitas vezes, não têm o fluxo de caixa necessário para aguentar esse período todo de inundação — afirma Camila.
Vacaria, na Serra, ocupa a terceira colocação no fechamento de vagas em maio. O município costuma registrar alta nos desligamentos nessa época do ano em razão da desmobilização na safra da maçã.
Na sequência, aparecem Gramado, também na Serra, prejudicada pelo freio no turismo, e Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, praticamente isoladas durante semanas em razão de bloqueios causados pelo aguaceiro na RS-287 e que também contam com arrefecimento na indústria do tabaco nessa época do ano.
— Gramado, nesse tempo, que era tipicamente para estar contratando pessoas em virtude da alta temporada, demitiu mais de 900 pessoas — destacou a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.
Na avaliação da economista, o atraso das medidas de caráter de preservação do emprego por parte do governo federal tem peso no resultado ruim de maio.
Setores
A série histórica do emprego formal no Estado mostra que maio não costuma ser um mês pujante nas contratações. Com a desmobilização em ramos da agropecuária, os contratos são fechados nessa época do ano. No entanto, o saldo negativo de maio no Estado veio muito acima da média do observado em um passado recente e generalizado entre os grandes ramos da economia.
Para efeito de comparação, em maio do ano passado, foram fechados 2.270 postos — quase 10 vezes menor do que o volume observado no mesmo mês deste ano (22.180).
A professora da Unisinos lembra que a perda de ritmo sazonal do emprego nessa época do ano no Estado foi impulsionada pela enchente, que espraiou o fechamento de vagas por indústria, comércio e serviços.
Próximos meses
A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos afirma que é difícil projetar o comportamento do mercado de trabalho no Estado nos próximos meses. Isso porque o movimento depende de uma série de fatores, como efeito dos programas de auxílio dos governos e início da reconstrução, que tendem a gerar demanda por vagas.
— Tenho expectativa bem pessoal de que isso não piore. O que a gente não sabe ainda é se vamos continuar tendo saldos negativos ou positivos nos próximos meses — destacou Camila.
A coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Maria Portela Coimbra, também destaca que ainda é cedo para ter clareza sobre a retomada do emprego no Estado. Ela afirma que a recuperação tende a ser diferente em cada região:
— Nos municípios mais afetados, essa retomada vai ser mais lenta. Em cidades onde não houve uma diminuição da sua estrutura física, a recuperação vai ser mais rápida.
A economista-chefe da Fecomércio-RS afirma que o cenário de destruição de postos de trabalho não vai ficar concentrado no mês de maio:
— A gente deve observar nos próximos meses ainda os efeitos decorrentes de todas as chuvas e todos os deslizamentos e enxurradas que a gente teve no mês de maio.