Após atingir altas expressivas em um passado recente, o preço da carne segue em queda na região metropolitana de Porto Alegre. Um dos itens mais importantes na mesa das famílias brasileiras, o produto acumula queda de 7,34% em 12 meses fechados em setembro na Grande Porto Alegre, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. Essa é a única queda nesse recorte de tempo olhando um intervalo de cinco anos.
Inversão no ciclo de produção, com mais produto no mercado, queda na procura e recuo nos custos para a pecuária estão entre os principais fatos que explicam esse movimento, segundo especialistas.
O dado do IPCA é composto, principalmente, por cortes bovinos, mas também leva em conta a carne suína. No país, entra também a carne de carneiro. O movimento observado na Região Metropolitana segue o retrato observado na média nacional. No entanto, a retração no país ocorre com mais fôlego (veja o gráfico). Na Grande Porto Alegre, cortes menos nobres, como paleta e acém, estão entre os itens com maior queda. Já a costela e a picanha, que marcam presença constante no churrasco do gaúcho, apresentam recuos mais tímidos.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, afirma que o principal fator que explica a baixa no valor da carne é o ciclo de produção. O aumento na produção observado nos últimos anos somado ao abate de fêmeas, que injeta mais produtos no mercado, diminui o preço na prateleira diante de mais oferta, segundo o economista:
— O preço subiu porque estávamos no ápice do menor abate de fêmeas e o preço despencou porque atingimos o pico do alto abate de matrizes. Isso fez o preço cair.
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também elenca o aumento na produção como um dos principais fatores nesse processo. Além desse ponto, a redução nos custos de produção também diminui a pressão sobre o valor da carne, segundo o economista:
— No Brasil, em algumas regiões, o produtor precisa complementar o alimento do animal com rações à base de soja e de milho. Isso por causa de condições climáticas adversas. E essas commodities apresentaram queda de preço nos últimos meses. Então, você tem também custos menores que ajudam a cadeia produtiva a não passar aumentos de preço.
Braz afirma que, mesmo em queda, olhando um período mais recente, o preço da carne não vai retomar os patamares observados no pré-pandemia. O economista destaca que o produto ainda carrega uma gordura de elevações nos últimos anos, mas apresenta retração em um período mais recente.
Queda no consumo
O coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS, professor Júlio Barcellos, cita que queda de demanda por carne bovina também afetou os preços recentemente:
— Houve uma tentativa de reduzir margens no varejo para estimular o consumo.
Em relação ao preço da carne ter caído menos na Grande Porto Alegre ante o país, Barcellos cita diferenças no perfil. A Região Metropolitana não apresenta tanta redução de consumo em razão do poder aquisitivo na comparação com a média nacional. Isso faz a queda no valor ser menor aqui, porque a demanda recua menos.
O que explica a queda no preço da carne
- O principal motivo está ligado ao ciclo pecuário. Durante parte da pandemia, a alta no preço do boi e a retenção de fêmeas para aumentar a produção elevou o valor da carne. Esse ciclo inverteu-se em 2022 e atingiu o pico em 2023, com abate de fêmeas aumentando ainda mais o número de produtos no mercado. Isso diminui o preço dessa proteína diante da oferta e procura.
- A queda do poder aquisitivo da população de renda menor, com endividamento e inadimplência em alta, diminui o consumo de alguns cortes de carne. Isso também afeta o preço do produto, que precisa diminuir para alcançar público maior.
- A queda nas exportações também influencia na queda do preço, mas com peso menor. Isso porque, entre outros motivos, o produto exportado não tem as mesmas características do item consumido no mercado interno. Então, essa relação não tem muita força.
- Os custos de produção, que atingiram picos durante a pandemia, começaram a se acomodar nos últimos meses. Isso também ajuda a reduzir o valor para o consumidor final.
- Essa tendência de preço menor deve seguir pelo menos até o primeiro trimestre de 2024, segundo o economista-chefe da Farsul.