No segundo dia de agenda no Estado, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, esteve reunido com empresários gaúchos na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre, nesta terça-feira (21). Assim como na divulgação dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), há duas semanas, ele aproveitou a oportunidade para somar-se ao coro entoado pelo governo federal para pressionar o Banco Central (BC) a reduzir a taxa básica de juros, a Selic, atualmente fixada em 13,75% ao ano.
Após o encontro, questionado pela Rádio Gaúcha sobre qual seria o "principal obstáculo" para o crescimento econômico do país, Marinho respondeu:
— Neste momento, é preciso reduzir os juros que estão pegando pesado contra a atividade econômica, sobretudo na indústria. Temos um problema para resolver que é retirar o Brasil do mapa da fome outra vez. E vamos dar conta disso.
A declaração de Marinho está relacionada com a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O colegiado se reúne entre esta terça e quarta-feira (22), quando fará o anúncio de manutenção do atual nível da Selic (considerado prejudicial por integrantes do governo) ou de eventuais alterações, para baixo ou para cima.
Um ingrediente extra foi adicionado ao caldeirão na segunda-feira (20). É que apesar da estimativa para a inflação de 2023 ter se mantido estável, as projeções para os próximos anos foram elevadas pelo Boletim Focus (relatório oficial do BC com estatísticas calculadas pelo mercado e coletadas na semana anterior).
De acordo com o documento, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano passou de 5,96% para 5,95%. Estava avaliado em 5,89% no mês passado. Por outro lado, em 2024, ou seja, o horizonte mais relevante para as estratégias de convergência inflacionária, a expectativa subiu de 4,02% para 4,11%.
Significa que, depois de registrar três semanas consecutivas de estabilidade no Focus, a avaliação da inflação oficial para o próximo ano computou alta de 0,9 ponto percentual em apenas sete dias. Mais do que as pressões do governo federal, o radar do Copom necessita captar os elementos que permitam perseguir um intervalo entre o centro (3%) e o teto (4,5%) da meta do IPCA. Em 2023, precisaria fixar a inflação entre 3,25% (centro) e 4,75% (teto) e o principal mecanismo de controle monetário para isso é, justamente, a taxa de juros.
Flexibilização do trabalho
Assim como na serra gaúcha, na segunda-feira (20), a agenda do ministro Luiz Marinho tem priorizado a discussão de medidas para evitar que se repitam situações de trabalho análogo à escravidão, como no caso dos safristas resgatados em Bento Gonçalves, em fevereiro. Ao destacar que episódios dessa natureza tendem a ocorrer com maior frequência em contratos temporários, Marinho apontou para algumas medidas pensadas para reduzir a incidência desses crimes.
— No contrato por tempo determinando, há uma situação, especialmente no campo, com os safristas, onde acontecem a maioria desses trabalhos escravos. Em resposta ao setor do café, que relata dificuldades na contratação formal desses trabalhadores para a cobertura da safra (de abril a setembro). Nesse aspecto, para as pessoas no Cadastro Único, que recebem o Bolsa Família, por exemplo, adequamos a legislação e criamos condições que permitem assinar o contrato, sem sair do cadastro e, dependendo da remuneração, se receberia parcialmente — informou.
Marinho explica: a ideia é que os beneficiários do programa social voltem automaticamente a receber a transferência de renda integral, após o término do período contratual. Segundo o ministro, isso criaria "previsibilidade" e evitaria "solavancos" provocados pela entrada ou saída de pessoas do programa, bem como a perda majorada de renda.
— É uma mensagem positiva para todos os setores da economia, sobretudo para o campo. É possível também para o trabalho urbano, nas famílias inseridas na categoria de baixíssima ou ausência de renda, que têm Bolsa Família e, ao fazer o contrato temporário, garantem que voltarão para o benefício — acrescentou.