Pressionado pela inflação acima da meta e com recessão no horizonte, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano, nesta quarta-feira (8). Dando continuidade ao ciclo iniciado em março, a última reunião de 2021, confirmou a sétima alta consecutiva para os juros básicos, agora no maior patamar desde setembro de 2017.
Principal instrumento de política monetária do país para controlar a inflação, a Selic influencia o juro de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. Quanto mais elevada, menor é a atividade econômica. Assim, informa o professor de economia da UFRGS Marcelo Portugal, o objetivo é frear o avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que já acumula 10,67% em 12 meses e supera a meta de 2021 (5,25%).
Ele acrescenta que a decisão desta quarta-feira levará até nove meses para trazer resultados. Por isso, afirma que, para perseguir as metas inflacionárias dos próximos anos (5%, em 2022, e 4,75% em 2023), o dilema é saber o tamanho da “dosagem” adotada nos próximos encontros do Copom.
— Não se sabe o tamanho do remédio, mas não há dúvida de que vai subir e precisa subir bem, próximo de 11% ou 12%. Existe certo consenso de que a Selic chegará nesse patamar nos meses seguintes, a discussão é a velocidade, se vamos continuar em 1,5 ponto ou passar a dois pontos a partir de 2022 — antecipa.
A economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, alerta que é preciso ter clareza de que uma parcela da inflação atual é importada. Segundo ela, o mundo atravessa um surto inflacionário em razão da pandemia. E cita o exemplo dos preços ao consumidor dos Estados Unidos (alta de 6,2% nos últimos meses), que estão no maior valor em 31 anos.
— Aqui tem sido pior pela desvalorização cambial. Percebemos vários BCs do planeta aumentando os juros. Países que nem o nosso, que já apresentam riscos aos investidores internacionais, farão isso de maneira ainda mais intensa. Não só aumentar os juros, como a tendência é permanecer com eles elevados por mais tempo — analisa.
Por outro lado, conforme o professor da UFRGS Flávio Fligenspan, em situações como a atual, em que já existe um cenário de retração econômica, sobrecarregar os juros pode não ser a melhor medida. Isso acontece, explica, porque o normal em uma economia desacelerado seria que os preços recuassem em linha, diferentemente do que acorre hoje no Brasil.
— Subir juros funciona razoavelmente em situações em que a economia está relativamente aquecida. O sentido é fazer as famílias retraírem as compras e as empresas se recolherem. O problema é que temos hoje uma economia bem devagar e estagnada. Nesse cenário, considero um absurdo aumentar juros, porque a nossa inflação é de oferta, pelo lado dos custos de produção, e não de demanda — argumenta.