Enquanto a Caixa anuncia redução nos juros do financiamento imobiliário, mesmo com a Selic em alta, grandes bancos privados estão aumentando suas taxas em cerca de um ponto percentual nas linhas de crédito tradicionais. É um movimento que se antecipa à reunião na próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que deve elevar a taxa básica de juros em pelo menos um ponto, levando a Selic para 6,25% ao ano.
A Caixa vai reduzir, a partir de 18 de outubro, em 0,4 ponto percentual a taxa de juros da linha de crédito imobiliário com correção atrelada à poupança. Será possível contratar financiamento pela modalidade com juros a partir de 2,95% ao ano, somadas à remuneração da caderneta.
Segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a redução foi possível porque o banco registrou R$ 300 bilhões contratados na atual gestão. Em agosto de 2021, foram R$ 14 bilhões em novos contratos, sendo o mês de maior contratação da história da Caixa.
Na coletiva, Guimarães afirmou que o banco tem mais de R$ 200 bilhões em títulos públicos, que remuneram a Selic. Por este motivo, quanto maior a taxa básica de juros, maior o ganho do banco, disse.
— Vamos reduzir o spread (diferença entre o que o banco paga para captar e o que cobra do cliente), especificamente na linha de poupança — afirmou.
Setor privado
Quem puxou a fila dos aumentos foi o Santander, que subiu, no último dia 4, o juro do crédito imobiliário de 7,99% ao ano, mais variação da Taxa Referencial (TR), para 8,99%, segundo a instituição.
Na sequência veio o Bradesco, que desde a segunda-feira (13) tem taxas que variam entre 8,50% e 8,90% ao ano mais TR, dependendo do perfil do cliente. Desde quarta-feira (15), o Itaú Unibanco cobra 8,30% ao ano mais variação da TR nos financiamentos tradicionais, ante os juros de 7,30% ao ano vigentes anteriormente.
No crédito imobiliário com juros ligados à poupança, o Itaú reduziu a taxa de 3,45% para 2,99% ao ano, e o Bradesco manteve o índice em 2,99% ao ano. Mas, neste caso, essa parcela é somada à variação da remuneração da poupança, que corresponde a 70% da Selic. E, quando a taxa básica de juros aumenta, essa parcela acompanha.
A alta do custo dos financiamentos não surpreende empresários e especialistas do setor, que relativizam o impacto desse freio de arrumação nas vendas.
— É óbvio que cada vez que aumenta a taxa não é bom para ninguém, mas historicamente estamos trabalhando com juros baixos, se compararmos com tudo que aconteceu no passado — afirma José Romeu Ferraz Neto, vice-presidente imobiliário do Sinduscon-SP, o Sindicato da Indústria da Construção Civil, que reúne construtoras e empreiteiras.
Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, concorda. Considerando todas as modalidades de crédito imobiliário, a mediana da taxa de juros antes desse reajuste girava em torno de 6,5% e, agora, vai para algo entre 7,5% e 8%.
— Não é o melhor dos mundos, mas ainda está abaixo da mediana das taxas cobradas dois anos atrás, que variava entre 10% e 10,5% ao ano — diz o economista.
Efeito no mercado
Ferraz Neto afirma não acreditar que a alta afete o mercado de maneira uniforme. Normalmente, os mais pobres são os mais castigados. No entanto, neste momento, esse efeito poderá ser compensado pela redução dos juros do financiamento imobiliário que foi anunciada pela Caixa nesta quinta-feira (16). O banco estatal responde por 67% do crédito imobiliário, e essa fatia pula para 99% no caso da baixa renda.
De toda forma, a alta de juros funciona como um obstáculo maior, principalmente aos mais pobres, à compra da casa própria. A cada um ponto percentual de alta na taxa há encarecimento de 8% no valor da prestação e também um acréscimo de 8% na renda exigida para aprovação do financiamento, explica o economista-chefe do Secovi-SP. Assim, uma prestação que seria de R$ 1 mil antes do reajuste subiria para R$ 1.080. No caso de uma renda exigida de R$ 4 mil, o valor saltaria para R$ 4.320.
O economista Eduardo Zylberstajn, coordenador do Fipezap, site especializado no mercado imobiliário, afirma que a alta dos juros do crédito imobiliário era um movimento normal e esperado pelo setor, diante dos problemas macroeconômicos atuais, como a inflação em alta e o desajuste fiscal, além da incerteza política que aumentou nas últimas semanas.
Ele lembra que os recordes recentes de vendas e lançamentos batidos pelo setor são resultados das condições favoráveis de crédito.
— Se voltarmos a ter juros de dois dígitos, isso impacta bastante o mercado, e aí poderemos ter dificuldade na safra de novos lançamentos — afirma, ponderando que no momento esse não é o cenário mais provável.