
O desempenho acima do esperado para o primeiro trimestre de 2021 provoca otimismo em relação ao resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado do ano, mas com resultados mais baixos na variação entre trimestres, segundo especialistas ouvidos pela reportagem de GZH.
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal afirma que, ao atingir 1,2% de alta no PIB nos primeiros três meses de 2021, o país já consegue flertar com 5% no acumulado do ano, mesmo com resultados mais tímidos nos próximos trimestres. Portugal explica que isso ocorre em razão da gordura criada no início do ano e da base de comparação com o ano passado ser baixa.
— A quantidade de gasto público vai diminuir, o auxílio emergencial é menor e vai acabar em tese, o juro está subindo, a inflação vai corroer a renda das pessoas. O número é positivo, mas o dado trimestral para os próximos três trimestres vai ser cada vez menor — estima.
Em linhas gerais, o país vai apresentar uma recuperação decrescente após superar tombos acentuados na primeira metade do ano passado diante do impacto da pandemia de coronavírus, movimento normal, segundo o professor da UFRGS.
O professor de economia do Instituto de Economia e Pesquisa (Insper) Roberto Dumas Damas afirma que o resultado do PIB no primeiro trimestre é ótimo e surpreende. No entanto, projeta menos surpresas positivas nos próximos meses, mesmo com bom resultado no geral.
Damas destaca que, como não ocorreu diminuição da mobilidade no país nos primeiros meses do ano, é difícil esperar uma retomada mais acentuada no consumo e nas atividades, como ocorreu nos Estados Unidos. O professor do Insper também cita algumas preocupações, como eventual terceira onda de covid-19 no país e avanço da crise energética.
— Se tiver que utilizar de fato cada vez mais termelétricas, o custo de energia vai subir. Então, talvez algumas empresas vão parar dado ao elevadíssimo custo da energia. Não compensa — salienta Damas.
Essa preocupação também foi externada pela equipe econômica do governo. Em nota na qual comemora o resultado do primeiro trimestre, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia afirma que a perspectiva de crescimento neste ano pode ter como limitador o baixo volume de chuva e seu impacto na oferta de energia elétrica.
Segundo a secretaria, esse fato está sendo "observado com a atenção necessária, de forma a evitar ou mitigar os seus efeitos". O órgão destacou que a recuperação "plena e pujante da economia" só ocorrerá com a retomada da agenda de reformas e a consolidação fiscal.