A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala se tornou, nesta segunda-feira (15), a primeira mulher e a primeira africana a chefiar a Organização Mundial do Comércio (OMC). A economista ficará à frente de uma instituição que, desde sua criação em 1995, foi dirigida por seis homens: três europeus, um neozelandês, um tailandês e, por último, um brasileiro — Roberto Azevêdo, que renunciou em meio a pandemia do coronavírus.
"Os membros da OMC acabam de decidir nomear a doutora Ngozi Okonjo-Iwela como próxima diretora-geral da OMC. A decisão foi tomada por consenso em uma reunião especial do Conselho Geral da organização hoje", anunciou a OMC nesta segunda-feira, cerca de 15 minutos depois da abertura do encontro.
"A doutora Okonjo-Iweala se tornará a primeira mulher e a primeira africana à frente da OMC. Assumirá suas funções em 1o de março e seu mandato, renovável, expirará em 31 de agosto de 2025", acrescentou a organização.
Okonjo-Iweala, chamada por alguns de Dra. Ngozi, era a única candidata ainda na disputa graças a um amplo consenso e apoio da União Africana e da União Europeia (UE), assim como dos Estados Unidos. No final de outubro, o governo do ex-presidente americano Donald Trump, que em quatro anos fez todo o possível para enfraquecer a organização, bloqueou o consenso que se delineava em torno da nigeriana de 66 anos.
Sua nomeação e o debate prévio dos delegados aconteceram remotamente por causa da pandemia de coronavírus.
— Uma OMC forte é essencial se quisermos nos recuperar plena e rapidamente da devastação causada pela pandemia de covid-19 — declarou Okonjo-Iweala, 66 anos, após sua nomeação.
— Nossa organização enfrentará inúmeros desafios, mas trabalhando juntos, coletivamente, podemos tornar a OMC mais forte, mais ágil e melhor adaptada às realidades atuais — acrescentou.
Carreira
Duas vezes ministra das Finanças e chefe da pasta de Relações Exteriores da Nigéria, Okonjo-Iweala começou sua carreira no Banco Mundial em 1982, onde trabalhou por 25 anos. Em 2012, não conseguiu se tornar presidente dessa instituição financeira e o cargo coube ao americano-coreano Jim Yong Kim.
Sua carreira acadêmica e profissional é impressionante, mas Dra. Ngozi também tem detratores que a criticam por não ter feito mais para erradicar a corrupção quando esteve à frente das finanças do país mais populoso da África.
Okonjo-Iweala nasceu em 1954 em Ogwashi ukwu, no Estado federal do Delta, no oeste da Nigéria. Seu pai é um líder tradicional. No entanto, passou a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, onde estudou em duas universidades de prestígio, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Harvard.
— Acho que ela fez um bom trabalho, seja na Nigéria ou em outros países onde trabalhou — declarou à Idayat Hassan, diretora do Centro para Democracia e Desenvolvimento, com sede em Abuja.
— Ela não é apenas amada na Nigéria, mas é adorada, ela é um símbolo para as mulheres — acrescentou Hassan.
Desafios
Okonjo-Iweala foi nomeada em julho como enviada especial da União Africana para a luta contra a pandemia no continente. Sua missão era mobilizar apoio internacional para enfrentar a crise econômica global que afeta plenamente os países africanos.
Como presidente da OMC, terá muito a fazer em um contexto global de crise econômica e crise de confiança na organização, quando a liberalização do comércio globalizado é altamente criticada. Segundo ela, o aumento do protecionismo e do nacionalismo no mundo aumentou com a crise e as barreiras devem ser reduzidas para reerguer a economia.
"Uma maneira de garantir uma oferta suficiente de vacinas e sua distribuição equitativa é remover certas barreiras impostas por leis sobre propriedade intelectual e transferência de tecnologia", explicou nas páginas da revista americana Foreign Affairs em abril.