O menor ritmo de crescimento da população gaúcha provoca uma série de reflexos na área econômica. Com queda no número de nascimentos e mais idosos, o Rio Grande do Sul tem o desafio de avançar em produtividade para não perder fôlego em relação a outras regiões, dizem analistas.
A tarefa, entretanto, não é simples. Envolve, por exemplo, melhora em indicadores de educação. A área de ensino é considerada crucial para reter talentos, ampliar a qualidade do capital humano e favorecer o ambiente de negócios.
Em 2019, o Estado teve crescimento vegetativo de 45,4 mil habitantes. É o menor nível da série histórica, com dados desde 2000. O número corresponde à diferença entre 134,5 mil nascimentos e 89,1 mil mortes.
O indicador pode ser interpretado como o avanço real da população, sem contar a entrada de migrantes. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (2) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE). O órgão é vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão.
Em razão do freio em indicadores de natalidade, a tendência é de baixa na população em idade apta a trabalhar nas próximas décadas. Com menos mão de obra disponível, é preciso fazer com que empresas e trabalhadores consigam ampliar sua capacidade de produção.
— Já passamos pelo período do bônus demográfico. Então, fazer a economia crescer por meio de ganhos de produtividade é bem mais difícil — frisa Oscar Frank, economista-chefe da CDL Porto Alegre.
No Rio Grande do Sul, o número de idosos (65 anos ou mais) deve ultrapassar o de jovens (até 14 anos) por volta de 2030, indica o DEE. A estimativa tem como base projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O envelhecimento da população, acentuado nos últimos anos, também pressiona o sistema previdenciário. Isso ocorre porque a contribuição dos trabalhadores na ativa é usada para o pagamento dos benefícios de quem já se retirou do mercado.
No país, a aprovação da reforma da Previdência endureceu, em 2019, as regras para aposentadoria. No Estado, em fevereiro passado, o governador Eduardo Leite também sancionou mudanças na área para servidores.
— Um dos principais reflexos do menor crescimento vegetativo é a pressão sobre as despesas previdenciárias — sublinha Izete Pengo Bagolin, professora da Escola de Negócios da PUCRS.
A economista acrescenta que avanços na área de educação representam uma das necessidades para o Estado diminuir a evasão de alunos e, consequentemente, estimular o desenvolvimento de talentos.
— Fala-se na importância de aumentar a produtividade na economia. Isso depende muito da qualificação dos trabalhadores. O Rio Grande do Sul tem de ficar em alerta para não perder mais jovens em meio ao ambiente econômico desfavorável — frisa a professora.
Frank avalia que, além dos impactos previdenciários e da necessidade de ganhos em produtividade, o menor crescimento populacional também deve forçar alterações no uso de recursos públicos. Nesse sentido, o economista menciona que a tendência é de aumento na demanda por serviços de saúde voltados a idosos.