Principais destinos turísticos na serra gaúcha, Gramado e Canela se mobilizam para enfrentar uma possível alta no desemprego no setor que impacta mais de 80% da economia dos dois municípios. Desde o início de março, os sindicatos representantes do empresariado e dos trabalhadores vêm se reunindo para tentar minimizar o número de demissões. Na próxima semana, Canela pretende lançar um projeto de recuperação estratégica do setor a partir do segundo semestre.
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Hoteleiro e Similares de Gramado (Sindihoteleiro), Rodrigo Callais, as próximas duas semanas serão decisivas, porque acabam, na maioria dos empreendimentos, as férias coletivas iniciadas em março — quando a pandemia de coronavírus chegou ao Estado. A entidade prevê que até 20% dos 4 mil trabalhadores das redes hoteleira e gastronômica da cidade poderão ser demitidos neste período. Nesta sexta-feira (3), o Sindicato já tinha agendado, até 17 de abril, pelo menos 67 rescisões de contratos.
— O número pode ser maior, porque não temos controle sobre aqueles trabalhadores que ainda estão no contrato de experiência — aponta Callais, que deverá voltar a se reunir com o sindicato patronal nos próximos dias para discutir as medidas provisórias propostas pelo governo federal nesta semana.
Em Canela, o presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de Canela, Enedir Barreto, ainda não recebeu rescisões entre os cerca de 900 trabalhadores porque o setor entrou em férias coletivas na segunda quinzena de março. O problema, aponta Barreto, está nos negócios com até cinco colaboradores — pousadas e restaurantes comandados pelas próprias famílias — e que representariam cerca de 80% do mercado local.
— Eles não terão como se sustentar se esta situação durar por muitos meses — acredita.
Preferindo não arriscar números, o presidente do Sindicato Patronal da Hotelaria, Restaurantes, Bares, Parques, Museus e Similares da Região das Hortênsias (Sindtur Serra Gaúcha), Mauro Salles, pondera que o empresariado tem buscado alternativas para manter o maior número de empregos. Logo no início do isolamento social, as redes hoteleira e gastronômica utilizaram as férias de 30 dias. Na sequência, ainda há a possibilidade de compensarem feriados e, então, pensarem na suspensão temporária de contratos de trabalho.
Prevendo que pelo menos metade da rede optará pela terceira alternativa, o Sindtur estabeleceu uma parceria com o Senac para oferecer quatro cursos de qualificação à distância — camareira em meios de hospedagem, garçom, recepcionista e auxiliar administrativo — aos colaboradores que ficarão recebendo o seguro-desemprego até retornarem aos postos. A entidade responde pelos empreendimentos localizados em Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco de Paula, que representam 68% dos 30 mil leitos de hotelaria da região.
— Desde o início de março, estamos planejando o nosso futuro, porque sabíamos do impacto econômico na nossa atividade. Escolhemos, inicialmente, cuidar da vida de quem faz o turismo na região. Vamos voltar com mais força para proporcionarmos as melhores experiências aos turistas — ressalta Salles.
Já as prefeituras buscam manter o otimismo, de olho nos meses finais de 2020. Conforme o prefeito de Gramado, João Alfredo de Castilhos Bertolucci (PDT), a primeira medida é suspender temporariamente os eventos dos próximos meses e postergá-los para o semestre seguinte, com datas ainda a serem estudadas. Anualmente, a cidade tem cerca de 500 eventos programados. Mas Bertolucci é enfático:
— Quase 90% da nossa receita vem do turismo e sabemos da importância dele. Mas, neste momento, estamos apagando incêndios e nos preparando para o combate ao coronavírus. Precisamos estar estabilizados o suficiente para retomarmos algum planejamento ali na frente. Não vou dar falsas esperanças.
Ao contrário do gestor vizinho, o secretário de Turismo e Cultura de Canela, Angelo Sanches, adiantou-se e na próxima semana deve lançar o Plano Estratégico para Retomada da Economia Pós-Coronavírus. O objetivo, segundo ele, é promover ações integradas dos empreendimentos turísticos canelenses,para garantir a saúde pública e organizar a retomada gradativa das atividades, preservando os empregos e auxiliando na segurança jurídica, econômica e sanitária:
— Analisando as movimentações de mercado e ouvindo-se os principais players do setor, o plano traz um cronograma integrado para retomada das atividades até o final do ano. Ações de conscientização e envolvimento nas questões sanitárias, ações coerentes e adequadas para cada fase da crise, prioridade de preservação ao máximo dos empregos, auxiliar na segurança jurídica e econômica para a tomada de decisões dos empresários e oferecer suporte técnico para ajudar na recuperação econômica do setor.
Sanches afirma que cronograma prevê redução de impostos, ações de capacitação e relacionamento para o curto prazo, ativações e promoção a médio prazo e expansão e aprimoramento para o longo prazo. O calendário oficial de eventos da cidade sofrerá alterações e haverá campanhas para integrar parques, hotéis, pousadas, restaurantes e empreendimentos turísticos da cidade.
— Todos os nossos eventos entre abril e julho serão repassados para os meses de setembro e outubro, no primeiro grande festival da primavera que faremos. Inicialmente, centralizaremos forças para atrairmos o turista local, que ainda estará saindo do isolamento social. E reconquistaremos os nossos mercados nacional e sul-americano. Agora, vamos cuidar da nossa saúde para voltarmos mais unidos no próximo semestre — afirma Sanches, que pretende encaminhar o plano como sugestão ao Conselho dos Dirigentes Municipais de Turismo do Rio Grande do Sul (Coditur), do qual é presidente.