Autorizada por decreto municipal publicado na quarta-feira (23), a construção civil começou a retomada gradual das atividades em Porto Alegre. Antes de povoar a maioria dos canteiros de obras, porém, as construtoras estão tendo de adaptar o ambiente, conforme determina o documento assinado pelo prefeito Nelson Marchezan. Precisam, por exemplo, fornecer máscaras e álcool em gel e instalar lavatórios para os cerca de 27 mil trabalhadores formais que atuam em todo tipo de construção na Capital. O retorno dos operários vai começar efetivamente a partir de segunda-feira (27):
— Os canteiros estavam há mais de 30 dias interditados, então, agora, que estão sendo reabastecidos com insumos e preparados para receber o pessoal — explica o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior.
Enquanto não podiam colocar a mão na massa, os trabalhadores do setor foram submetidos a férias coletivas ou suspensão dos contratos de trabalho, medidas que evitaram demissões. Tanto o sindicato patronal quanto o laboral afirmam que não houve rescisões por conta da pandemia do novo coronavírus.
— Empresas optaram por suspender os contratos porque sabiam, que, cedo ou tarde, retomariam as atividades e precisariam de mão e obra. Os imóveis já estão vendidos, só esperando serem concluídos e entregues — observa Gelson Santana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias da Construção Civil de Porto Alegre (STICC).
As duas entidades ainda não calcularam o prejuízo que a covid-19 trouxe para o setor e nem têm estimativa de obras em andamento em Porto Alegre, mas a reportagem apurou com três das principais construtora que atuam na Capital que há pelo menos 25 canteiros sendo reativados com 4.250 trabalhadores.
Retomada gradual
Os canteiros de obras, de maneira geral, são amplas áreas a céu aberto, que comportam medidas para evitar aglomeração. Ainda assim, a sugestão de Gelson Santana, presidente do STICC, é que o recomeço seja progressivo, por turnos, para minimizar todos os riscos de contágio.
— Tem de colocar para trabalhar o menor número de pessoas possível. Se tem 300 trabalhadores, põe 150 de manhã e 150 à tarde. Não pode abrir o canteiro e colocar todo mundo para almoçar no mesmo horário. Não podemos estar preocupados com a economia e esquecer da saúde.
Nos sete canteiros da Cyrela Goldsztein em Porto Alegre, os trabalhadores terão escalas de entrada, almoço e saída para que não haja aglomeração, diz o diretor de Engenharia da Regional Sul, Gustavo Navarro. Mas isso só a partir de segunda-feira:
— Esses primeiros dias estão sendo utilizados para instalação de dispensers de álcool em gel, colocação de cartazes, compra de termômetros — pontua. — A Cyrela, em conjunto com outras grandes empresas, é idealizadora de um manifesto chamado 'Não demita'. O cerne dele é manter os funcionários empregados para evitar um colapso ali adiante - conclui.
Rubem Piccoli, diretor técnico e de RH da Melnick Even, construtora que opera 12 canteiros com 3 mil operários na Capital, avalia que o decreto foi publicado no momento certo, pois a maioria das empreiteiras terceirizadas que atuam nas obras não teria reserva financeira para seguir estagnadas.
Diretor executivo de Engenharia da MRV Construtora, Túlio Pereira Barbosa explicou que alguns operários já retornaram ao trabalho nesta quinta-feira (23) e que, o restante, deve iniciar na segunda-feira (27).
— Estamos com jornada reduzida, começando gradualmente, pois nem todos os canteiros puderam ser adaptados ainda.
O que diz o decreto
Autoriza atividades de construção civil em Porto Alegre entre 9h e 16h desde que a empresa cumpra algumas medidas, como:
- Monitorar temperatura corporal e de sintomas gripais dos trabalhadores, diariamente, antes do início da jornada.
- Fornecer aos trabalhadores máscaras de proteção facial para deslocamento no transporte coletivo.
- Disponibilizar aos trabalhadores na entrada do canteiro de obra e nas mesas álcool em gel 70%.
- Manter todas as áreas ventiladas, inclusive locais de alimentação e descanso dos trabalhadores.
- Controlar a circulação de pessoas na entrada da obra e em frentes de serviços, respeitando a distância mínima de 1,5 metro.
- Adotar escalas para reduzir circulação de pessoas nos vestiários e refeitórios e, assim, garantir nesses ambientes espaçamento mínimo de 2 metros. Higienização deve ser realizado, no mínimo, a cada troca de grupo.
- Restringir entrada e circulação de pessoas que não trabalham no canteiro, especialmente fornecedores de materiais.