O número de desempregados com Ensino Superior completo quase dobrou em cinco anos no Estado. No terceiro trimestre de 2019, alcançou a marca de 44 mil pessoas. Em igual período de 2014, eram 23 mil. Ou seja, houve alta de 91,3% no intervalo. GaúchaZH levantou as informações na base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em termos percentuais, o avanço dos desocupados com graduação concluída foi superior à média geral (veja gráficos abaixo). No mesmo período, o número total de desempregados no Rio Grande do Sul subiu 78,8%, de 302 mil para 540 mil.
Na visão de especialistas, as dificuldades encontradas por quem estudou por mais tempo refletem a combinação de pelo menos dois fatores. Por um lado, a crise econômica enxugou as vagas disponíveis. Ao mesmo tempo, a quantidade de gaúchos com Ensino Superior completo subiu 31% entre o terceiro trimestre de 2014 e igual intervalo de 2019 – de 1,057 milhão para 1,385 milhão. Com ofertas reduzidas e mais mão de obra em busca de ocupação, criou-se um gargalo na disputa por oportunidades.
Formado em Administração, Fábio Neubauer, 37 anos, não ficou imune a essa situação. Desde outubro, busca novo emprego na área de coordenação e gerência financeira. Com duas especializações no currículo, o morador de Porto Alegre usa a atual fase para incrementar seus conhecimentos por meio de leituras e cursos online.
– Trabalhei na área financeira de empresas. Minha estratégia agora é aprimorar meu currículo. É necessário evoluir. Já se foi o tempo em que a pessoa com graduação era muito diferenciada – relata.
A elevação no número de desempregados com Ensino Superior não é exclusividade gaúcha. No país, o grupo mais do que dobrou entre o terceiro trimestre de 2014 e igual intervalo de 2019. Foi de 535 mil para 1,205 milhão de pessoas – alta de 125,2%.
Para o IBGE, um trabalhador é considerado desempregado quando procura, mas não encontra ocupação formal ou informal. Se exerce os populares bicos, deixa de integrar a parcela dos desocupados. No terceiro trimestre de 2019, o Estado tinha cerca de 1,9 milhão de trabalhadores informais. Ao divulgar esse tipo de dado, o IBGE não costuma dividir o grupo de acordo com o nível de escolaridade dos membros.
– O país está construindo reação baseada, no primeiro momento, na informalidade e em empregos de qualificação menor. A produtividade mais baixa traz consequências como aumento da desigualdade social. Quando as coisas começarem a andar com mais velocidade, teremos de ver qual será a perspectiva para contratação de pessoas com graduação – diz o economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS.
Mesmo com o cenário de dificuldades, Ely pondera que os profissionais com diploma de curso superior costumam encontrar condições mais favoráveis no mercado de trabalho. O economista lembra que a renda do grupo é mais elevada do que a de outras camadas da população. No terceiro trimestre de 2019, o rendimento mensal da parcela que concluiu o Ensino Superior alcançou R$ 5.275 no Estado. A quantia foi 105,3% superior à média geral de salários à época (R$ 2.570), indica o IBGE.
Especialistas frisam que, após períodos de recessão, o mercado de trabalho é um dos últimos indicadores a reagir. Para que a abertura de vagas ganhe fôlego, é preciso que a economia tenha retomada mais consistente. Em 2020, há sinais de maior otimismo. Instituições financeiras apontam avanço de cerca de 2% no Produto Interno Bruto brasileiro, nível superior ao projetado para 2019 (em torno de 1%). O Rio Grande do Sul seria beneficiado pelo desempenho nacional.
– É importante que as pessoas se formem e consigam trabalho em sua área. Sem isso, o risco é de depreciação do capital humano, já que não colocam em prática o que aprendem na faculdade – diz o economista Felipe Garcia, professor da Universidade Federal de Pelotas.
Dicas para voltar
- Realizar cursos de qualificação tende a tornar o currículo mais atrativo aos olhos das empresas.
- Aproveitar a rede de contatos formada ao longo da carreira pode ajudar na procura por emprego.
- Reorganizar as informações do currículo para cada processo seletivo tende a ser útil. A ideia é valorizar experiências anteriores que podem ser mais interessantes para ocupar determinada vaga. Clareza na apresentação dos dados é fundamental – costuma facilitar a vida das empresas na hora de avaliar número extenso de candidatos.
- Eventual mudança na área de atuação pode exigir investimento de tempo e dinheiro. Então, é aconselhável fazer planejamento minucioso, colocando na balança possíveis benefícios e prejuízos.
Fonte: consultor de carreiras Eliseu Ordakowski, da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado.