O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gastou R$ 48 milhões com uma auditoria interna para abrir a caixa-preta da estatal. O relatório final da investigação, que durou um ano e 10 meses, não apontou nenhuma irregularidade nas oito operações realizadas com a JBS, grupo Bertin e Eldorado Brasil Celulose entre 2005 e 2018. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O valor foi pago ao escritório estrangeiro, o Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, que subcontratou outro brasileiro, o Levy & Salomão. A estatal não divulgou quantos funcionários trabalharam na auditoria, nem os critérios para fazer o pagamento pelo trabalho. O relatório tem oito páginas.
Um trecho do relatório divulgado pelo Estadão aponta que a equipe da auditoria concluiu que as decisões do banco foram tomadas após ponderar riscos e potenciais benefícios. "Os documentos da época e as entrevistas realizadas não indicaram que as operações tenham sido motivadas por influência indevida sobre o banco, nem por corrupção ou pressão para conceder tratamento preferencial à JBS, à Bertin e à Eldorado", afirma o documento.
A abertura da caixa-preta foi um dos objetivos fixados pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano. Ele tomou posse em julho, substituindo Joaquim Levy.
— Vamos explicar a "caixa-preta" para a população brasileira. O banco está sendo atacado. Questionam a capacidade do banco, o patriotismo, precisamos virar essa página. Explicar tudo o que tiver, abrir toda informação que o brasileiro quiser ver, e aí vamos virar essa página, pois existe essa nuvem cinza em cima do banco — afirmou em julho de 2019.
Após tomar posse como presidente da República, Jair Bolsonaro tratou do tema da caixa-preta algumas vezes. Em janeiro, após divulgar os 11 países que mais utilizaram recursos do banco e as razões para os empréstimos, prometeu: "ainda vamos bem mais a fundo". Pouco antes, havia prometido "revelar ao povo brasileiro o que foi feito com seu dinheiro nos últimos anos".
Em entrevista, o ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro afirmou que a busca pela abertura da caixa-preta da entidade era loucura.
— É uma busca insana sobre coisa nenhuma, uma espécie de Santo Graal ao contrário, com um filme de Indiana Jones, só que já encheu o saco. (...) Está tudo absolutamente documentado por contratos regidos pela legislação brasileira. Nem um parafuso sai do lugar se não for aprovado. As políticas do BNDES dependem da política do governo — disse, em junho de 2019.
Já o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Luis Troster afirmou ao Estadão que as operações importantes com esses grupos não foram exploradas, embora tenham sido investigadas pela auditoria. Ele cita como exemplo a aquisição da Swift Armour, conhecida como Swift Argentina.
O negócio foi fechado em 2005. À época, a Swift exportava para 70 países, e tinha os Estados Unidos (EUA) como seu maior mercado. De acordo com Trostes, o BNDES financiou R$ 187,5 milhões para o grupo fechar essa operação. Após, R$ 1,14 bilhão foi desembolsado em ações da JBS para financiar a aquisição da Swift Foods nos EUA, em 2008. Também houve um aporte de R$ 995,9 milhões para auxiliar a aquisição das empresas National Beef e Smithfield nos EUA, todas as operações antes de 2010.