SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Bradesco pretende separar seu banco digital Next da estrutura principal da instituição até março de 2020. O objetivo é fazer com que a plataforma siga regulamentações mais leves impostas pelo BC (Banco Central) e equivalente a de seus concorrentes digitais.
A medida também diminuirá os custos operacionais e regulatórios do banco.
De acordo com o presidente do Bradesco, Octávio de Lazari, o grande banco tem investido fortemente em capacidade de análise de dados para deixar o Next pronto para a separação.
"O intuito é fazer com que o Next tenha vida própria, com balanço e avaliações separados", afirmou Lazari nesta quarta-feira (13).
Os grandes bancos brasileiros se ressentem das imposições regulatórias mais simples impostas pelo BC (Banco Central) às fintechs (empresas novatas que prestam serviços financeiro com uso de tecnologia) e mesmo bancos menores.
Nas duas edições do livro publicado pela Febraban (entidade dos grandes bancos) para justificar porque os juros são altos no Brasil, os bancos manifestaram insatisfação com o que consideram assimetrias regulatórias e o risco de que os pequenos tenham vantagens competitivas.
O Next deve encerrar o ano com 2 milhões de contas e atingir 3,5 milhões ao fim de 2020, segundo Lazari. O número é inferior a de seus principais concorrentes, como o Nubank, que superou 10 milhões de clientes na Nuconta, e o Banco Inter, que tem 3,3 milhões de correntistas.
Inicialmente, o Next chegou a cobrar algumas tarifas de clientes, mas precisou abrir mão de receitas de serviços para tentar ganhar escala.
O presidente do Bradesco também não descarta a possibilidade de abertura de capital do banco digital em Bolsa. "Mas se formos pensar nisso, será só para 2021, inclusive se surgirem parceiros querendo participar da jornada. O próximo ano será de ajuste de todo esse desacoplamento, e só depois disso vamos avaliar essa possibilidade", disse.
O Bradesco lançou o Next em outubro de 2017 de olho no público avesso à estrutura dos grandes bancos e à burocracia e custos ligados aos serviços bancários. A iniciativa replica o que fizeram alguns grandes bancos no exterior, nem todos bem-sucedidos.
O J.P. Morgan, por exemplo, encerrou a sua operação exclusivamente digital em junho deste ano, após um ano de operação.
A ideia de criar um banco do zero também foi alvo de alfinetadas de concorrentes: o presidente do Itaú, Candido Bracher, chegou a afirmar que, se criasse um novo banco do zero, estaria admitindo que sua estrutura é anacrônica.
Ainda assim, os grandes bancos seguem fazendo grandes esforços para promover o que chamam de transformação digital. Nisso está incluído o fechamento de agências e PDVs (Programas de Demissão Voluntária).
O presidente do Bradesco afirma que 3.500 pessoas aderiram ao PDV lançado em agosto, o equivalente a 3,5% do quadro de funcionários. Segundo Lazari, apenas no último dia do PDV foram 500 adesões.
Isso incrementou o custo com as demissões de R$ 1,5 bilhão para aproximadamente R$ 2,1 bilhões.
"Ainda não dá para precisar a economia, mas com certeza ela será boa", disse.
Além das movimentações com o Next, o Bradesco também anunciou que investidores da Bradesco Corretora serão incorporados à Ágora, antiga corretora independente que havia sido comprada pelo banco no passado e até então foi pouco aproveitada.
Com a fusão, a empresa terá 800 mil clientes e R$ 50 bilhões de ativos sob custódia em renda variável, o que corresponde por 16% de participação (market share) do segmento. Com a centralização, a Ágora será a terceira maior corretora do país, perdendo para Itaú e XP, corretora que o Itaú tem participação.
Enquanto olha para a concorrência privada, o Bradesco nega plano de seguir movimentos da Caixa que poderiam elevar a competição no setor.
Na terça-feira, o banco público anunciou corte na taxa de juro do cheque especial de 9,99% para 4,99% ao mês. A taxa média do sistema financeiro está ao redor de 12% ao mês.
"Não há espaço para reduzir as taxas do cheque especial porque, para o Bradesco, esse juro de 4,99% é deficitário. É preciso que a modalidade tenha uma nova dinâmica e o ideal seria uma combinação de tarifa com taxas de juros. Pode ser uma tarifa maior para o público de alta renda e vice-versa, mas é assim que tem que ser para baixar essa taxa", disse Lazari.
Os bancos têm pleiteado o direito de cobrança de tarifa no cheque especial, como ocorre em outros países. Agora o BC tem se mostrado mais disposto a aprovar a mudança.
Tampouco no crédito imobiliário o segundo maior banco privado do país mostrou interesse em acompanhar as novas modalidades idealizadas pela Caixa, como o empréstimo corrigido pela inflação
"São linhas que o Bradesco vai oferecer, mas eu não vou fomentá-las. Só vou emprestar desse jeito para o cliente super esclarecido e que entenda os riscos que está correndo em cada uma dessas modalidades", acrescenta o presidente do Bradesco.
Lazari disse ainda que, após a intensa disputa que derrubou o crédito imobiliário para perto de 7% ao ano, agora a modalidade pode ter chegado a um piso: "Tudo vai depender de como o mercado vai se comportar, mas acreditamos que a taxa que temos já está bastante adequada e que não há espaço para outras reduções", concluiu.