As dificuldades no mercado de trabalho podem ser medidas, em parte, pelo tempo destinado à busca por vagas. No Rio Grande do Sul, dos 487 mil desempregados no terceiro trimestre, 90 mil estavam à procura de ocupação por pelo menos dois anos, estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de pessoas nessa situação segue o mais elevado desde o início da série histórica, em 2012. No trimestre anterior, abril a junho, o grupo também havia sido projetado em 90 mil pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Ou seja, um de cada cinco desempregados estava em busca de recolocação há 24 meses ou mais. O contingente poderia ocupar um estádio de futebol e meio como a Arena do Grêmio, cuja capacidade é de cerca de 60 mil pessoas.
– Com a atividade econômica fraca, a necessidade de novas contratações é menor nas empresas – diz o coordenador da Pnad Contínua no Rio Grande do Sul, Walter Paulo de Sousa Rodrigues.
No Estado, esse grupo dos 90 mil desocupados é formado por 55 mil mulheres e 35 mil homens. Por nível de escolaridade, os mais afetados são os com o Ensino Médio concluído, seguidos por aqueles com o Fundamental incompleto. A parcela que está em busca de vaga há dois anos ou mais só é inferior ao grupo formado por 277 mil pessoas que procuram emprego no intervalo de um mês a um ano – que respondem por 56,9% dos 487 mil desempregados no Estado.
Para o IBGE, pessoas de 14 anos ou mais são consideradas desocupadas quando estão afastadas do mercado e seguem em busca de recolocação, com disponibilidade para voltar a atuar. Se exercerem atividades informais – os populares bicos – no período de procura por vaga com carteira assinada, deixam de integrar o contingente de desempregados.
– Quem pode esperar vagas por mais tempo é aquele extrato da população com alguma reserva de dinheiro ou com familiar que pode ajudar a bancar sua sobrevivência – explica o gerente nacional da Pnad Contínua, Cimar Azeredo.
Moradora de Porto Alegre, Giseli Canabarro, 31 anos, conta que está afastada do mercado desde o primeiro trimestre de 2016. À época, a então funcionária de uma empresa que coletava lixo obteve licença por causa da gravidez de seu segundo filho. Após o bebê nascer, em março, viu a companhia fechar as portas. Diante da situação, começou a buscar novo trabalho no início de 2017. Quase dois anos depois, é o marido que segue bancando as contas de casa – ele atua como motorista de caminhão que recolhe lixo.
– Devo ter largado mais de 30 currículos, mas não achei nada até agora – lamenta Giseli, que não conseguiu completar o Ensino Médio.
A exemplo dela, Kamila Alves dos Santos, 27 anos, busca trabalho formal. A moradora de Viamão, na Região Metropolitana, relata que não encontra oportunidade com carteira assinada há cerca de quatro anos. Para pagar suas despesas e de seus dois filhos, tem recorrido a bicos, como o de entregadora de panfletos, além de contar com auxílio do namorado.
– Busco o que aparecer. Quero trabalho. Não aguento mais esperar – sublinha Kamila, que completou o Ensino Fundamental.
No Brasil, no terceiro trimestre, 3,2 milhões de trabalhadores estavam à procura de vaga há pelo menos dois anos – um em cada quatro dos 12,5 milhões de desocupados à época. Como o resultado gaúcho, o número nacional é o mais elevado desde o início da série histórica do IBGE.
Conforme especialistas, o grupo de desempregados que buscam vagas há pelo menos 24 meses só não é maior por causa do elevado nível de desalento com o mercado de trabalho. Essa definição abrange homens e mulheres sem ocupação, que desistiram de procurar oportunidades porque perderam a esperança de alcançá-las.
O IBGE aponta que, no terceiro trimestre, havia 4,8 milhões de desalentados no país – 83 mil no Rio Grande do Sul.
– É como em qualquer fila: quem fica muito tempo parado, pode desistir – compara Azeredo.