O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, disse nesta quarta-feira (10), que a volta da inflação para a meta de 4,5% em 2018 está relacionado com a retomada da economia e o crescimento do emprego.
— Para nós é normal haver essa volta porque ela está associada ao crescimento. Ela não atrapalha o crescimento da economia, mas está associada a ele.
O presidente do BC citou que houve reação dos preços dos alimentos em dezembro e avaliou que isso mostra por que a autoridade monetária precisa ter cuidado ao reagir a choques de alimentos.
— Por isso o BC deve deixar os preços de alimentos caírem ou subirem, e controlar o resto dos preços — explicou.
O BC enviou nesta quarta carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para explicar por que a inflação de 2017 ficou em 2,95%, abaixo do piso da meta, de 3,0%.
— Vamos prestar contas continuamente, independentemente de o IPCA ficar dentro ou não dos limites da meta — acrescentou.
Questionado se o BC não demorou a cortar os juros, já que a inflação se mostrou mais baixa que o piso da meta, Goldfajn argumentou que a atuação mais conservadora da autoridade monetária no início do ciclo de queda da Selic permitiu a queda no IPCA.
— Devido à firmeza da política monetária é que a inflação caiu. Não houve atraso na redução de juros — rebateu.
"Inflação baixa é algo bom"
Goldfajn reforçou que inflação baixa é algo bom e que o objetivo é manter a inflação baixa neste e nos próximos anos.
— Inflação baixa é bom, e não tem nada de errado nisso. Vamos comemorar a queda da inflação e trabalhar para mantê-la baixa — afirmou.
Questionado sobre o fato de a inflação de dezembro ter sido maior que a esperada pelo BC, Goldfajn afirmou que os preços de alimentos e gasolina serão mais voláteis mês a mês.
— Vamos olhar qual será a tendência da inflação daqui para frente — respondeu.
Ele ainda explicou que, pela metodologia científica, poderia haver o arredondamento da inflação de 2017 de 2,95% para 3,0%, cumprindo assim o piso da meta do ano passado.
— Poderíamos usar esse arredondamento, talvez outros usariam, mas isso não seria um benefício para nós — afirmou.
Recessão
Goldfajn disse que a economia brasileira começou a sair da recessão após a mudança das expectativas.
— A mudança na inflação é que nos ajudou a sair da crise — afirmou.
— E as expectativas foram muito relevantes para controle da inflação — completou.
Ele comentou ainda que o câmbio é uma variável relevante para a inflação, mas avaliou que não teve peso importante na inflação de 2017. Segundo o presidente do BC, o câmbio não é um instrumento de controle da inflação.
— A inflação foi mais baixa no ano passado por conta de expectativas e dos preços de alimentos, não tanto por causa do câmbio. O balanço de pagamentos é hoje muito confortável e temos estoque de swaps menor. Para frente, vamos continuar monitorando o câmbio — afirmou.
Questionado sobre se a meta de IPCA não deveria desconsiderar os preços dos alimentos, focando apenas os núcleos de inflação, ele respondeu que o BC, de certa forma, já olha a tendência da inflação.
Segundo ele, a reunião nesta quarta-feira com o presidente Michel Temer foi para falar da inflação baixa de 2017.
Reavaliação
Ainda segundo Goldfajn, não é o momento de reavaliar a mensagem para as próximas decisões de política monetária.
— A reavaliação da mensagem de política monetária será feita em momento adequado — limitou-se a responder.
No último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado no 21 de dezembro, o BC manteve a indicação de que poderá promover um novo corte na Selic na próxima reunião, em fevereiro. Ao mesmo tempo, a instituição afirmou que essa posição é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores.